Em 16 de agosto de 1920, 92 anos atrás, nasceu Henry Charles Bukowski Jr, em Andernach, na Alemanha.
Vou reproduzir trechos de obras do velho Buk, que anotei no tumblr. Logo abaixo, algumas considerações e indicações:
“Esse é o problema com a bebida, pensava, enquanto enchia o copo. Se acontece uma coisa ruim, você bebe para esquecer; se acontece uma coisa boa, você bebe para comemorar; se não acontece nada, você bebe para que aconteça alguma coisa.”
— Mulheres (L&PM Pocket, 2011, tradução Reinaldo Moraes)
“I’m glad when they arriveand I’m glad when they leave
I’m glad when I hear their heelsapproaching my doorand I’m glad when those heelswalk away
I’m glad to fuckI’m glad to careand I’m glad when it’s over […]”
— Love is a dog from hell (Ecco, 2003)
“A dor chega, BANG, e aí está ela, instalada em você. É real. Aos olhos dos outros, parece que você está de bobeira. Um idiota, de repente. Não há cura para a dor.”
— Mulheres (L&PM Pocket, 2011, tradução Reinaldo Moraes)
“women don’t know how to love,she told me.you know how to lovebut women just want toleech.I know this because I’m awoman.
hahaha, I laughed.”
— Love is a dog from hell (Ecco, 2003)
“Que tipo de merda era eu? Um sujeito capaz de armar jogadas bem malévolas e alucinadas. E qual a razão? Será que eu estava querendo me vingar de alguma coisa? Até quando eu ia ficar dizendo que era apenas uma pesquisa, um simples estudo sobre as mulheres? Eu estava era deixando as coisas acontecerem sem me preocupar muito com elas. Eu não tinha nenhuma consideração por nada além do meu prazerzinho barato e egoísta. Eu parecia um ginasiano mimado. Eu era pior que qualquer puta; uma puta só toma o seu dinheiro, nada mais. Eu bagunçava vida e almas como se fossem brinquedos. Como é que eu ainda me considerava um homem? Como é que eu ainda escrevia poemas? Eu era feito de quê, afinal? Eu era um marquês de Sade pangaré, sem o gênio dele. Qualquer assassino era mais sincero e honesto que eu. Ou um estuprador. […] Eu entrava na vida dos outros porque eles confiavam em mim. Eu aprontava as minhas cagadas com a maior facilidade. Eu estava escrevendo A história de amor de uma hiena.”
— Mulheres (L&PM Pocket, 2011, tradução Reinaldo Moraes)
"she went up the walk toward her car.I closed the door.she knew what she wanted and it wasn’tme.I know more women like that than anyother kind.”
— Love is a dog from hell (Ecco, 2003)
“sempre que nos agarramos às paredes do mundo, e na fase mais sombria da ressaca, eu penso em dois amigos que me aconselharam sobre vários métodos de cometer suicídio. que prova melhor de amor e companheirismo? […] ambos escrevem poesia. tem qualquer coisa em escrever poesia que leva um homem pra beira do abismo.”
— Notas de um velho safado (L&PM Pocket, 2000, tradução Albino Poli Jr.)
“Depois virei para eles e disse: “Esta é a minha mulher… a minha mulher… esta é a…” Por fim, tive que me virar para ela e perguntar: “PORRA, COMO É MESMO O TEU NOME?”
— Fabulário geral do delírio cotidiano (L&PM Pocket, 2007, tradução Milton Persson)
*
Algumas considerações:
1.
É complicado julgar a obra de Bukowski. Falar que ele é apenas um escritor compulsivo, barato, superficial, alcoólatra e poeta mediano é fácil demais. Alçá-lo ao cânone, exagerado. Também é complicado simplesmente encaixá-lo na definição de midcult (segundo Eco, a cultura pequeno-burguesa que falsifica elementos da cultura erudita com fins comerciais). Qualquer análise superficial da vida de Bukowkski, que foi o principal substrato de sua própria obra, garante isso.
2.
Não há dúvidas de que Bukowski pode cumprir um papel deficiente no Brasil: a formação de leitores. Não digo que não haja escritores brasileiros que possam fazer o mesmo, oras, mas a literatura de Bukowski (especialmente a prosa) é de fácil digestão e superficialmente trata de temas que interessam a adolescentes e jovens adultos de maneira geral: sexo e bebida. E aqui o testemunho é pessoal: Misto-quente foi um dos livros que despertou em mim uma paixão fulminante pelos livros de literatura esteticamente ambiciosa.
3.
Dizer que não há, sob o texto de Bukowski, pelo menos uma fina camada de puro lirismo, massa da literatura, é no mínimo má-vontade.
4.
Há que se ler Bukowski.
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O documentário abaixo, Born into this, do diretor John Dullaghan, tem várias entrevistas, inclusive com o autor, e também passagens das impagáveis leituras públicas.
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Vou indicar três livros de Bukowski, um de cada gênero (romance, conto, poesia, na ordem):
Mulheres
Charles Bukowski
Tradução: Reinaldo Moraes
320 páginas
Preço sugerido: R$22,00
Ao sul de lugar nenhum
Charles Bukowski
Tradução: Pedro Gonzaga
224 páginas
Preço sugerido: R$38,00
The pleasure of the damned: Poems, 1951-1993
Charles Bukowski
Ecco Press (2008)
576 páginas
Preço sugerido: R$48,30 (aqui).
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