domingo, 12 de agosto de 2012

André de Leones e Luis Henrique Pellanda conversam sobre contos que marcaram suas carreiras

Na noite deste sábado, no terceiro encontro do Festival Nacional do Conto, em Jaraguá do Sul, os dois escritores conversaram sobre a sua formação como leitores, seu envolvimento com o gênero conto e também leram em voz alta trechos de contos que marcaram suas vidas e carreiras

Luís Henrique Pellanda e André de Leones, na enoteca Decanter,
em Jaraguá do Sul, na noite deste sábado (11).
Foto: Carlos Henrique Schroeder

André de Leones (1980) nasceu em Goiânia, é escritor, e seu romance de estreia, Hoje está um dia morto (Record), foi vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2005. De lá para cá são dois romances e um livro de contos, participação em antologias e inúmeras resenhas em jornais e revistas.

Luís Henrique Pellanda (1973) é escritor e jornalista de Curitiba, cidade de onde tira boa parte do substrato de sua obra de contista e cronista. Estreiou em 2009 com a coletânea de contos O macaco ornamental (Bertrand Brasil), e em 2011 lançou Nós passaremos em branco (Arquipélago Editorial), reunião de crônicas. 

Como havia uma limitação de tempo, cada autor leu e comentou pequenos trechos de algumas poucas obras importantes para eles. De Leones começou lendo um trecho do célebre conto Um dia ideal para os peixes-banana, de J. D. Salinger. “O que me admira no Salinger é a sua habilidade de equilibrar o coloquial e o rigoroso, numa prosa em que não há nenhum ruído”, disse. Em seguida, Luís Henrique Pellanda leu trechos do conto O afogado, de Dalton Trevisan, que curiosamente não se passa em Curitiba, como de costume na obra do vampiro, mas sim no litoral do Paraná.

De Leones leu em seguida trechos do conto O cobrador, de Rubem Fonseca. “O Boris Schnaiderman, num texto sobre este livro, disse que Fonseca prenunciou um certo estado de barbárie, que se hoje vemos por aí, era inimaginável na década de 1970. Hoje em dia, o conto fica até devendo para a crueldade de tudo”. Depois, Pellanda leu na íntegra o curto conto de Murilo Rubião, D. José não era. “O conto é sobre o fato de a gente falar muito sem saber nada”, disse.

Na última rodada, de Leones citou contos de Leandro Sarmatz e de James Joyce. Pellanda concluiu sua leitura falando sobre Sérgio Sant’Anna (“Um contista puro-sangue, apesar de também escrever romances e novelas, mas um grande gênio) e Antonio Fraga (“Totalmente esquecido, infelizmente”).

Formação e próximos capítulos
“Tive sorte porque a minha mãe sempre foi uma leitora, então havia muitos livros na minha casa”, disse de Leones. “O engraçado é que na mesma semana que ela lia alguém como Sidney Sheldon e Harold Robbins, em seguida eu a via lendo Camus”. O autor disse que a sua primeira leitura marcante foi o conto Emma Zunz, da coletânea O aleph, de Jorge Luis Borges. “Ao ver que ele brincava com a forma, ao misturar ficção, ensaio, crítica, aquilo me deu vontade de errar as minhas próprias coisas também”.

Já Pellanda disse ter tido sorte por despertar a sensibilidade de seus pais que, antes de serem leitores compulsivos, perceberam no filho o “jeito” para escrever. “Eles então fizeram duas coisas por mim: me matricularam no curso de um grande artista de Curitiba e fizeram a assinatura do Círculo do Livro”. A partir dessa assinatura, em que um livro por mês era entregue em sua casa, ele começou a ler os grandes autores. “Lá em Curitiba também não é possível negar a herança que Dalton Trevisan nos deixou”, acrescentou. “A cidade criou uma mítica em volta de um escritor, é impressionante”, disse, contando que nas primeiras vezes que leu os contos de Trevisan percebeu que era possível escrever literatura em Curitiba. “Daí fiquei até os 30 e poucos anos tentando, até publicar O macaco ornamental”.

Sobre a sua própria produção, de Leones disse que nunca parou de escrever contos, embora seus dois livros mais recentes sejam romances. “Mas eu também publico em antologias, apesar de a editora estar querendo uma nova coletânea de contos meus”, disse. “Gosto de sentar e pensar livros de contos que tenham organicidade”. Sobre trabalhar em casa, apenas com literatura, o autor disse que tem que haver muita disciplina: “Caso contrário, posso procrastinar facilmente por uns sete ou oito anos”, brincou.

“Quando vou escrever”, disse Pellanda, “já sei o que quero colocar ali, tento colocar uma ordem na maneira que vou dizer, e então sento já sabendo o que quero escrever”. Durante o processo, segundo o autor, coisas acontecem, mas ele diz que só começa se souber onde quer chegar. E concluiu: “Não vou virar romancista, não quero, não vou”.

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Hoje, às 19h, no SESC Jaraguá do Sul, Luiz Ruffato e Ricardo Lísias fazem a mesa final da segunda edição do Festival Nacional do Conto. Acompanhe!

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