O que é motivo para uma antologia? Na verdade, qualquer um: sexo, faixa etária, assunto, estilo, pertencer ao grupo certo de amigos, ter sorte, ter editor ou agente influente, ou, como eu acredito que seja o caso, a geografia (embora o motivo seja, obviamente, também, a faixa etária). O Livro dos Novos (Travessa dos Editores, 2013, 136 p.), organizado pela escritora Adriana Sydor e lançado recentemente em Curitiba, reúne 16 autores de até 30 anos que nasceram ou vivem em Curitiba e Região. São apostas – poucos já tiveram textos publicados em outras ocasiões – referendadas por uma editora tradicional da cidade.
Embora eu continue acreditando que a geografia é o principal atributo da coletânea (e o título me desminta), o que mais se nota pela ausência, nos contos, é a própria geografia. Não que isso seja um problema em si, mas poucos dos contos da antologia delimitam uma geografia precisa. Não a mistificação do Brasil, nem de Curitiba, não. Por exemplo: “No ringue de Hemingway”, um dos melhores contos do livro, de Felipe Franco Munhoz, o início já situa tudo muito bem: “San Francisco de Paula, Cuba”. Conseguir estabelecer uma geografia para a literatura (que precisa ir além do “campo” x “cidade”), acredito, é um bom desafio que merece ser encarado com mais vigor.
Há opções estéticas diversas entre os contos, mas nem tantas: a maioria das histórias se contenta em narrar um fato passado e pronto. Mas várias, é claro, vão além: “Guarda-roupas”, de Arthur Tertuliano, opta por criar um imaginário vasto para, com elegância e desenvoltura, contar uma história de um transgênero. A carta de “Noite em Antônio Maria”, de Daniel Zanella, é comovente. “Acabou”, de Guylherme Custódio, consegue cumprir bem uma das lições de Ricardo Piglia nas Teses sobre o conto: contar as duas histórias numa só.
Outro fio que une, de maneira positiva, a maioria dos textos da antologia é o controle do narrador: a escolha da primeira pessoa, presente em 11 dos 16 textos, é a escolha mais óbvia, mais segura, e geralmente a mais acertada. Criar um foco narrativo na terceira pessoa é mais arriscado: assim como é arriscado usar muitos verbos no pretérito mais que perfeito (“acabara”). A não ser que o objetivo seja claramente escrever um texto situado em outro tempo, que não o séc. XXI, como acontece em “Híbrida Companhia”, de Walter Bach, o uso do pretérito mais que perfeito é, quase sempre, desnecessário, chato e ingênuo.
A variedade temática dos contos, por outro lado, é um fator positivo. “Hominho”, de Yuri Al’Hanati, é narrado em primeira pessoa por um fazendeiro que vê seu cavalo preferido esfaqueado por um parente deficiente mental; “Como fumaça”, de Rodrigo Araújo, é um libelo quase modernista em defesa do tabaco; “Da falta de existir”, de Melissa R. Pitta, usa a metalinguagem numa tentativa de abarcar a insignifância da literatura; “Era”, de Marco Antonio Santos, tem um dos melhores e mais simples inícios do livro: “Entre 1997 e 2002 fui um cantor famoso”; “Entre Guaco & Azeitonas”, de Celso Alves, cria um ambiente faroeste para uma história envolvente.
Senti falta de maior experimentação e liberdade narrativa, mas os textos são, quase todos, muito bem escritos. A iniciativa de uma coletânea dessa espécie é bastante elogiável: num mercado editorial burocrático, conseguir publicar pode ser, para muitos, uma conquista muito grande. Espero e acredito que não tenha sido, para ninguém, um experimento constrangedor.
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Livro dos Novos
Adriana Sydor (org.)
Travessa dos Editores (2013)
136 p.
R$30,00.
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