tag:blogger.com,1999:blog-55869236733269586852024-02-10T18:49:52.948-03:00Biblioteca VerticalImpressões sobre literatura, por Guilherme SobotaGuilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.comBlogger37125tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-21295740453604142132014-03-05T14:31:00.000-03:002014-03-05T14:31:49.449-03:00Pornopopéia, Reinaldo Moraes<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSl_MunG2dYuWem22sF_CFdTVwntzWatQ-0TID3zFMcjIHGbcoUPS_xhDDcJtnxXpSZy7B64nFA2gpxx0kvvGMCCHCq3hxyUq_YR53AM_Qp0L7gke9rfGZjLo3mxtgtuUh6TH5LWUp94ZT/s1600/c93-livropocket-pornopopeia-reinaldo-moraes_MLB-F-3686431639_012013.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSl_MunG2dYuWem22sF_CFdTVwntzWatQ-0TID3zFMcjIHGbcoUPS_xhDDcJtnxXpSZy7B64nFA2gpxx0kvvGMCCHCq3hxyUq_YR53AM_Qp0L7gke9rfGZjLo3mxtgtuUh6TH5LWUp94ZT/s1600/c93-livropocket-pornopopeia-reinaldo-moraes_MLB-F-3686431639_012013.jpg" height="200" width="150" /></a>“Então, vamo vê aqui mais um tico de Jack, um teco de pó, um tapa na brenfa e um totó no bico da breja. Tico, teco, tapa e totó. Adoro essa língua, última flor do felácio, tão puta e bela, que sonora se desdobra em tanto pau pra quanta obra.”</blockquote>
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É assim que vai o <i>Pornopopéia</i>, do Reinaldo Moraes (Objetiva, 2011, ed. de bolso): tico, teco, tapa e totó. E exatamente com essa língua, última flor do felácio, tão bela, mas tão bela, que o livro meio que transcende definições possíveis para grupos temáticos da literatura. Chamar esse livro de <i>beat</i> seria reduzi-lo ao extremo e apagá-lo do seu verdadeiro lugar na <b>literatura brasileira contemporânea</b>: peça rara de uma literatura ousada, inventiva e original. Sem dúvida, um dos grandes romances publicados nos últimos anos.</div>
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<br /></div>
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Sem exagero: <i>Pornopopéia</i> (que manteve o acento, a pedido do autor, para segurar um único trocadilho que aparece lá nos finalmentes do livro) desvia dos <b>padrões</b> da escrita contemporânea no Brasil. Não é autoficção, não se derrama sobre as confissões e filosofias subjetivas do seu autor (quer dizer, não na medida do provável), não tem um autor que seja popstar no meio literário (no sentido de que Moraes não é um marqueteiro de si mesmo: quer dizer, os também excelentes <i>Tanto faz</i> e <i>Abacaxi</i> tinham sido publicados quase 20 anos antes, desde então, apenas contos e infantis). O parentesco mais próximo na contemporaneidade, além dos seus próprios livros dos anos 1980, é talvez <b>Marcelo Mirisola</b>, outro escritor excelente que não frequenta as rodas características e mesmo assim consegue relevância apenas com a qualidade da sua escrita.</div>
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<br /></div>
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Uma das grandes questões do livro, é que Zeca — o publicitário, cineasta e protagonista, que convive do começo ao fim do livro com uma pulsão fundamental em direção ao sexo e às drogas — é, no primeiro plano, um personagem completamente sem <b>superego</b>, machista, babaca, racista, elitista, e que mesmo assim cria uma empatia tremenda e definitiva.</div>
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<br /></div>
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O professor e crítico literário João Cezar de Castro Rocha (um dos mais respeitados críticos brasileiros no mundo) disse <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/09/debate-em-curitiba-reuniu-dois.html" target="_blank">numa ocasião</a> que o <b>politicamente correto</b> não pode dominar o discurso literário: no que ele está, afinal, coberto de razão. Segundo Castro Rocha, esse discurso não pode contaminar a literatura porque ela é um espaço privilegiado para o pensamento (e a linguagem, ora) de risco. Então, aqui vai um aviso: qualquer comentário sobre <i>Pornopopéia</i> que venha com teor politicamente correto tem que passar por esse filtro ficcional.</div>
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<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHL45vJ_apUbwO7jQv8rr2F2ChCVU9HANVJoaiHnw3D2H1i-20Zn7B8gFzVK1a8xnrHl06buSqvlXv2vi9n9FN7vd2knuHCdweyqFf3D_L_bxsz0I_W3Z6cVHKMZtOwuWG5xjtInkURarG/s1600/00649_gg.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHL45vJ_apUbwO7jQv8rr2F2ChCVU9HANVJoaiHnw3D2H1i-20Zn7B8gFzVK1a8xnrHl06buSqvlXv2vi9n9FN7vd2knuHCdweyqFf3D_L_bxsz0I_W3Z6cVHKMZtOwuWG5xjtInkURarG/s1600/00649_gg.jpg" height="320" width="213" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Reinaldo Moraes, paulistano,<br />também é tradutor de Pynchon,<br />Bukowski e outros<br />(Foto: Companhia das Letras).</td></tr>
</tbody></table>
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Isso porque o livro é repleto de comportamentos estapafúrdios: desde mijar no chão do escritório, a roubar uma puta de rua, a entregar uma lula “recheada” para uma vizinha irritante, até mesmo a manter relações sexuais com uma menor de idade (sem o personagem saber com certeza, vai). Mesmo assim, qual é a maldade que existe no Zeca que não existe em algum grau em qualquer primo ou amigo filho da puta que todos nós temos? Nenhuma.</div>
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<br /></div>
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O <b>humor</b> do narrador é, sem dúvida, o grande trunfo do livro. É um romance engraçado do começo ao fim: e boa parte desse humor não vem apenas de piadas infames e criativas, mas principalmente pela inventividade narrativa do autor narrador, pelo próprio trabalho com a linguagem. Por exemplo:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Destarte, e revogadas as disposições em contrário, achei por bem pegar num peito da entidade Bertoludzy por baixo do bustiê hiperdecotado que sustentava suas globulosas mamas. O silicone reagia bem às minhas carícias, deslocando-se com suavidade pra direita, pra esquerda, pra cima, pra baixo, feito água-viva aprisionada numa bolsa de borracha. [...] Lolla quis me beijar na boca, mas o elevador chegou antes ao andar, a porta se abriu e eu escapuli pro corredor deixando as beiçolas do traveco penduradas no ar saturado de incenso de descarrego.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
É a colocação incomum do clichê, o ponto de vista muito particular e pequenas percepções que desabrocham num uso muito original e divertido da língua. Isso é mais do que suficiente numa obra literária. Somando o enredo epopéico de conteúdo desbocado, taí uma obra prima contemporânea. </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“O Keith Richards veio outro dia com esse papo de que cheirou as cinzas do pai dele misturadas com cocaína. Porra, amice, pensa um pouco, os restos mortais do teu pai escorrendo do teu nariz junto com a meleca da rinite cocaínica, e as pessoas apontando:<br />‘Cara, tem um ranho esquisito escorrendo do teu nariz.’<br />E você:<br />‘É papai.”<br />Encoxar a mãe no tanque perde — de longe.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Aquela constatação de empatia com o personagem pareceu, <a href="http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2943&titulo=Reinaldo_Moraes_fala_de_sua_Pornopopeia" target="_blank">numa entrevista</a> que Reinaldo Moraes deu ao jornalista Luiz Rebinski, um problema para o autor. Mas, segundo o próprio, um problema que soou interessante ao escrever. E não é? Será que o leitor aceita o pacto ficcional que a obra propõe ou existe mesmo essa maldade potencial ou essa vontade de se liberar para as vontades mais urgentes em muitas pessoas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num artigo da revista Mapa #2 (jan-fev/2014), o escritor paquistanês Mohsin Hamid diz o seguinte:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Talvez seja isso que encontremos nesse anseio generalizado por personagens de quem dê para gostarmos; um desejo de contato, através da ficção, com aquilo contra o qual nos blindamos no restante de nossas vidas, um desejo de que alguém nos lembre de que é possível abrirmos os olhos, vermos, reconhecermos nossa solidão - e, ao mesmo tempo, não estarmos inteiramente sós.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
O contato, com o <i>Pornopopéia</i>, é exatamente a puta e bela língua, última flor do felácio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Pornopopéia</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Reinaldo Moraes</div>
<div style="text-align: justify;">
Objetiva (2011, ed. de bolso)</div>
<div style="text-align: justify;">
664 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
R$25,80</div>
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<br /></div>
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*</div>
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Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhd7tDn8E55V-LtB0LHomRJC4VJQqiOr_wHlNarrcbh9uYE-c-eZMHVZ6yc5iEhDX4qRCstyMXIiI36W9rXaTqs86b9MQE2fVm1KyPfGJB5iL7QUQkabp0sLN531dIdVpai1COPwJex7VRo/s1600/11364_g.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhd7tDn8E55V-LtB0LHomRJC4VJQqiOr_wHlNarrcbh9uYE-c-eZMHVZ6yc5iEhDX4qRCstyMXIiI36W9rXaTqs86b9MQE2fVm1KyPfGJB5iL7QUQkabp0sLN531dIdVpai1COPwJex7VRo/s1600/11364_g.jpg" /></a><b>O complexo de Portnoy</b><br />Philip Roth</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Paulo Henriques Britto</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11364" target="_blank">Companhia das Letras (2004)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
264 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
R$49,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Que, inclusive, é citado no <i>Pornopopéia</i>.</div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-73603681705755107392014-01-13T16:21:00.000-02:002014-01-13T16:21:25.363-02:00O processo, Franz Kafka<div style="text-align: justify;">
<b><u>O réu que obedece</u></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYhrO7rkKH_mfluZRkFYfokPtvf_3OoMfamFtkUCrn42LTD94tSp4O574GuexvzUMV2-lhk43SYsEs-R0SZpqJuidqVA8gU1t8Yb-8A4zoLnqbduI5jCq6HQWPgwUbWpAJrLii7mTzsacc/s1600/processo_o_m.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYhrO7rkKH_mfluZRkFYfokPtvf_3OoMfamFtkUCrn42LTD94tSp4O574GuexvzUMV2-lhk43SYsEs-R0SZpqJuidqVA8gU1t8Yb-8A4zoLnqbduI5jCq6HQWPgwUbWpAJrLii7mTzsacc/s1600/processo_o_m.jpg" /></a>Quando um escritor consegue inscrever o seu nome, ou a sua obra, na própria linguagem, ou seja, transformar seu ponto de vista num adjetivo, é porque, sem dúvida, ele atingiu algo de grandioso. A palavra “<b>kafkiano</b>” faz lembrar, entre outras coisas, o ambiente opressivo, muitas vezes sem sentido aparente, e um problema sem solução: tudo isso está registrado, talvez como em nenhuma outra obra de Franz Kafka (1888-1924), em <i>O processo</i> (L&PM, 2010, tradução Marcelo Backes).</div>
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<br /></div>
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<i>O processo</i> foi revelado pelo célebre amigo e biógrafo de Kafka, Max Brod, que resgatou os manuscritos do livro ainda antes do falecimento do autor, em uma cidade próxima a Viena, por tuberculose, em 1924. Como Kafka não deixou instruções claras sobre a organização interna do livro, Brod orientou os capítulos: hoje, a organização original do “editor” é contestada, sendo que algumas edições europeias já trazem diferentes organizações baseadas na extensa herança crítica da obra do tcheco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Exatamente por isso, o leitor não tem em mãos um livro completamente <b>acabado</b>. Por outro lado, O processo tem todos os elementos clássicos da <b>literatura</b> de Kafka, além das já citadas: o início arrebatador, a luta constante do personagem contra a sua própria situação perante as pessoas e o trabalho, as relações sociais de trabalho e o surrealismo próprio dos escritos do autor. Talvez a ausência mais importante, em relação ao trabalho mais antigo, seja a <b>relação familiar</b>: coisa que só aparece em um capítulo inacabado no apêndice das edições tradicionais (Max Brod optou por deixar alguns fragmentos de fora da seleção inicial).</div>
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<br /></div>
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<i>O processo</i> começa assim:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Alguém devia ter caluniado Josef K., pois, sem que tivesse feito mal algum, ele foi detido certa manhã. A cozinheira da senhora Grubach, sua senhoria, que lhe trazia o café da manhã todos os dias bem cedo, por volta das oito horas, desta vez não aparecera. Isso jamais havia acontecido.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
A partir daí, como em <i>A metamorfose</i>, o personagem passa a ser praticamente consumido por sua condição: aqui, a condição de um <b>réu</b> de um processo importante, porém muito semelhante a diversos outros processos, que parecem um fim em si mesmo, ou seja, não há objeto, mérito, atos. Há apenas juízes, advogados, réus, o tribunal. O estranhamento ocorre quando o leitor descobre a chave que o autor deu ao personagem: não há um questionamento sobre “o quê” é o processo, ou qual seu objeto, mas sim em <b>como resolvê-lo</b>. Não tão passivamente, K. aceita essa determinação judicial, e passa o livro na tentativa de se defender perante o tribunal. Portanto, resumir a sinopse do livro em “a história do indivíduo que é processado sem saber por que” seria uma injustiça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Melhor seria dizer que <i>O processo</i> descreve um ano na vida de Joseph K., que luta contra uma imposição judicial e contra o seu próprio ímpeto. Porém, é claro, não é só isso. Kafka coloca vários elementos na narrativa que causam uma profunda desconfiança no leitor, e a pergunta que passa pela cabeça durante a leitura é a seguinte: por que esse indivíduo não quer saber o que fez? Acontece que, como já dito, não é essa a questão chave do livro. A questão chave estaria mais próxima da resposta à pergunta: “o que ele vai ter que fazer para se livrar do processo, e em última instância, não cometer uma loucura?”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por exemplo: K. procura um advogado, colega de escola de um tio, e quando ambos (K. e o tio) vão visitá-lo, o advogado já está padecendo de um grave problema no coração, e também por ser oito da noite, já está na cama. E é aí que ele recebe as visitas de K. pelo resto do livro: no seu próprio quarto, de pijamas, deitado na cama.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Isso se torna problemático quando o leitor descobre uma das chaves para a leitura de <i>O processo</i>: quanto maior o esforço em fazer algo acontecer, mais prejudicial e agressivo o processo se torna. Não há <b>saída</b> possível, parece querer dizer Kafka. Não adianta tentar.</div>
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<br /></div>
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*</div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHe7midQaYzL3yYTLUwGEucPWnNxK45fT9n1EF-69gI9KiSrNATaRL2sS46LfOgLm6_5O9Gb6ZX-ueXdi9srrsUIle_OWKjBmvr1qgdSaDkzUHDIj-hfLzMJOGbE1prnNqEjtixP0a0KwE/s1600/kafka060232.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHe7midQaYzL3yYTLUwGEucPWnNxK45fT9n1EF-69gI9KiSrNATaRL2sS46LfOgLm6_5O9Gb6ZX-ueXdi9srrsUIle_OWKjBmvr1qgdSaDkzUHDIj-hfLzMJOGbE1prnNqEjtixP0a0KwE/s1600/kafka060232.jpg" height="320" width="225" /></a>Kafka, em um de seus diários, se referiu a uma de suas mulheres como “meu tribunal”. A relação de Josef K. com as mulheres e com a <b>sexualidade</b> é algo que renderia uma resenha além desta. Porém, podem-se citar algumas passagens que contribuem na interpretação desse personagem esquisito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Quando percebe que a senhoria limpou todo o aposento dele, que estava bagunçado, em apenas uma tarde, K. pensa “mãos femininas conseguem fazer muita coisa em silêncio”. Quando vai visitar o local do tribunal e descobre que nele mora uma família, uma mulher o recebe e logo após dizer que é casada, elogia os olhos dele, e após uma conversa, diz o narrador:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Ela acariciou a mão de K., levantou-se de um salto e correu para a janela. Involuntariamente, K. ainda tentou pegar a mão dela, mas agarrou apenas o vazio. A mulher de fato o seduzia, e ele não encontrava, apesar de refletir muito a respeito, nenhum motivo justificável para não ceder à sedução.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Em outra ocasião, ao encontrar funcionários do tribunal sendo castigados dentro do próprio banco onde trabalha, K. vê o carrasco “metido numa espécie de roupa de couro escura, que deixava nu o pescoço até bem embaixo, no peito, e os braços por inteiro”. Qualquer semelhança com o sadomasoquismo moderno é pura coincidência.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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O que essas cenas mostram é um <b>sedutor involuntário</b>: e aqui se pode construir um paralelo bastante visível entre a relação de K. com o processo e com a questão sexual. Há sempre uma estranheza, uma brutalidade sutil, um não entendimento, uma perversidade (erótica e não) mal explicada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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O escritor italiano Primo Levi disse em <a href="http://www.theparisreview.org/interviews/1670/the-art-of-fiction-no-140-primo-levi" target="_blank">uma entrevista</a> que concordava com a afirmação de Heinrich Böll sobre o caráter “law-abiding” (obediente à Lei) dos germânicos. Isso teria sido, por exemplo, um dos fatores que permitiu o Holocausto. Porém, o que importa aqui é que Josef K. (embora não haja evidências de que ele era alemão, ou tcheco, mas Kafka escrevia em alemão) parece ter o mesmo problema: <b>ele obedece</b>. Mesmo com uma personalidade imprevisível no início do livro, em que lapsos de raiva são frequentes, mesmo sem saber para onde seu processo está indo, ou porque ele está sob julgamento, ou que “ter um processo desses já significa tê-lo perdido”, K. obedece. É isso.</div>
<br />
*<br />
<b>O processo</b><br />
Franz Kafka<br />
Tradução: Marcelo Backes<br />
L&PM (2006)<br />
304 páginas<br />
R$19,90<br />
<br />
*<br />
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7Ce3LL0Ejlw73aFS1XqgcXx07q23ebwfAoopoDkwiqpkjhZfSqzOdltyIg82AUHclPd3HbjWOlQAjfB9PXxRR-2EQUnrA4fBXKagUBO8A4Rng7gPnKDKP8jHuu23nPJ6xORX4grKiOma-/s1600/12815_g.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7Ce3LL0Ejlw73aFS1XqgcXx07q23ebwfAoopoDkwiqpkjhZfSqzOdltyIg82AUHclPd3HbjWOlQAjfB9PXxRR-2EQUnrA4fBXKagUBO8A4Rng7gPnKDKP8jHuu23nPJ6xORX4grKiOma-/s1600/12815_g.jpg" /></a><b>Lição de Kafka</b><br />
Modesto Carone<br />
Companhia das Letras (2009)<br />
144 páginas<br />
R$31,50<br />
<br />
Boa referência, inclusive para esta resenha.Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-65047344913211159432013-12-23T14:48:00.002-02:002013-12-23T14:48:36.486-02:00Livro dos Novos<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtFMwRzlFc2ZHtjGd8WZfuxTEA_9FtKCe8AwbG4JsdMGaO1j2TYi_n2W_RgbvtI1-DPVjgdKbVeLGlBEFRSmSxkAiB3H5z-HLqbnKSMcDS8VzAMKZEkpkucwE5P5d-KDPuBP5Pa9RnhnSD/s1600/livrodosnovos_capa_rgb.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtFMwRzlFc2ZHtjGd8WZfuxTEA_9FtKCe8AwbG4JsdMGaO1j2TYi_n2W_RgbvtI1-DPVjgdKbVeLGlBEFRSmSxkAiB3H5z-HLqbnKSMcDS8VzAMKZEkpkucwE5P5d-KDPuBP5Pa9RnhnSD/s1600/livrodosnovos_capa_rgb.jpg" height="320" width="213" /></a>O que é motivo para uma <b>antologia</b>? Na verdade, qualquer um: sexo, faixa etária, assunto, estilo, pertencer ao grupo certo de amigos, ter sorte, ter editor ou agente influente, ou, como eu acredito que seja o caso, a geografia (embora o motivo seja, obviamente, também, a faixa etária). O <i>Livro dos Novos</i> (Travessa dos Editores, 2013, 136 p.), organizado pela escritora Adriana Sydor e lançado recentemente em Curitiba, reúne 16 autores de até 30 anos que nasceram ou vivem em Curitiba e Região. São apostas – poucos já tiveram textos publicados em outras ocasiões – referendadas por uma editora tradicional da cidade.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Embora eu continue acreditando que a geografia é o principal atributo da coletânea (e o título me desminta), o que mais se nota pela ausência, nos contos, é a própria geografia. Não que isso seja um problema em si, mas poucos dos contos da antologia delimitam uma geografia precisa. Não a mistificação do Brasil, nem de Curitiba, não. Por exemplo: “No ringue de Hemingway”, um dos melhores contos do livro, de Felipe Franco Munhoz, o início já situa tudo muito bem: “San Francisco de Paula, Cuba”. Conseguir estabelecer uma geografia para a literatura (que precisa ir além do “campo” x “cidade”), acredito, é um bom desafio que merece ser encarado com mais vigor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há opções estéticas diversas entre os contos, mas nem tantas: a maioria das histórias se contenta em narrar um fato passado e pronto. Mas várias, é claro, vão além: “Guarda-roupas”, de Arthur Tertuliano, opta por criar um imaginário vasto para, com elegância e desenvoltura, contar uma história de um transgênero. A carta de “Noite em Antônio Maria”, de Daniel Zanella, é comovente. “Acabou”, de Guylherme Custódio, consegue cumprir bem uma das lições de Ricardo Piglia nas Teses sobre o conto: contar as duas histórias numa só.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro fio que une, de maneira positiva, a maioria dos textos da antologia é o controle do narrador: a escolha da primeira pessoa, presente em 11 dos 16 textos, é a escolha mais óbvia, mais segura, e geralmente a mais acertada. Criar um foco narrativo na terceira pessoa é mais arriscado: assim como é arriscado usar muitos verbos no pretérito mais que perfeito (“acabara”). A não ser que o objetivo seja claramente escrever um texto situado em outro tempo, que não o séc. XXI, como acontece em “Híbrida Companhia”, de Walter Bach, o uso do pretérito mais que perfeito é, quase sempre, desnecessário, chato e ingênuo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A variedade temática dos contos, por outro lado, é um fator positivo. “Hominho”, de Yuri Al’Hanati, é narrado em primeira pessoa por um fazendeiro que vê seu cavalo preferido esfaqueado por um parente deficiente mental; “Como fumaça”, de Rodrigo Araújo, é um libelo quase modernista em defesa do tabaco; “Da falta de existir”, de Melissa R. Pitta, usa a metalinguagem numa tentativa de abarcar a insignifância da literatura; “Era”, de Marco Antonio Santos, tem um dos melhores e mais simples inícios do livro: “Entre 1997 e 2002 fui um cantor famoso”; “Entre Guaco & Azeitonas”, de Celso Alves, cria um ambiente faroeste para uma história envolvente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Senti falta de maior experimentação e liberdade narrativa, mas os textos são, quase todos, <b>muito bem escritos</b>. A iniciativa de uma coletânea dessa espécie é bastante elogiável: num mercado editorial burocrático, conseguir publicar pode ser, para muitos, uma conquista muito grande. Espero e acredito que não tenha sido, para ninguém, um experimento constrangedor.</div>
<br />
*<br />
<br />
<b>Livro dos Novos</b><br />
Adriana Sydor (org.)<br />
Travessa dos Editores (2013)<br />
136 p.<br />
R$30,00.<br />
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*<br />
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Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO7MZLKArgmnYHKcW9hdZ_sQodmB-12Gn8095c1OhiTyAU-H0LQadC8pxUCJwOD261EzFvih-CWJutJ9m_A1x1pRB4gp0BUuhC5PrUaD0aXVF6XJEETH_yJm0pNaDmchswuDAoFEFC1xTK/s1600/30046573.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO7MZLKArgmnYHKcW9hdZ_sQodmB-12Gn8095c1OhiTyAU-H0LQadC8pxUCJwOD261EzFvih-CWJutJ9m_A1x1pRB4gp0BUuhC5PrUaD0aXVF6XJEETH_yJm0pNaDmchswuDAoFEFC1xTK/s1600/30046573.jpg" height="200" width="138" /></a><b>Revista Granta, V. 9 - Os melhores jovens autores brasileiros</b><br />
Vários autores<br />
Alfaguara (2012)<br />
288 p.<br />
R$34,90Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-26813966887899935362013-04-28T18:31:00.001-03:002013-04-28T18:31:33.178-03:00É isto um homem?, Primo Levi<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“Desse modo brutal, oprimidos até o fundo, viveram muitos homens do nosso tempo; todos, porém, durante um período relativamente curto. Poderíamos, então, perguntar-nos se vale mesmo a pena, se convém que de tal situação humana reste alguma memória.</div>
<div style="text-align: justify;">
A essa pergunta, tenho a convicção de poder responder que sim”.</div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgw3f6tagPSck2u37FZmI3y4oTGMaa64VWHrdndKCcoBLKjsTftdj5zzGHviFFv1-tdfg8T6Rxq4gxId51gfGVP9n5U7AJ3s0JFmZ9YlFqUth8j0-fjaZZSV0WgS09g-eGQF-KQaGmS7HE1/s1600/%25C3%25A9+isto+um+homem.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgw3f6tagPSck2u37FZmI3y4oTGMaa64VWHrdndKCcoBLKjsTftdj5zzGHviFFv1-tdfg8T6Rxq4gxId51gfGVP9n5U7AJ3s0JFmZ9YlFqUth8j0-fjaZZSV0WgS09g-eGQF-KQaGmS7HE1/s1600/%25C3%25A9+isto+um+homem.jpg" height="200" width="130" /></a>Assim começa um dos capítulos de <i>É isto um homem?</i>, primeiro livro do químico e escritor italiano Primo Levi (1919-1987), judeu italiano sequestrado pelo fascismo e deportado para o campo de extermínio de <b>Auschwitz</b> em 1944. Lá, ele passou 11 meses até a ocupação da região pelo exército russo, em fevereiro de 1945. No campo, Levi foi trabalhador comum por muitos meses, mas em seguida foi levado a trabalhar no laboratório químico. Antes de entrar para um grupo de resistência italiano e ser capturado, ele tinha concluído a formação superior em química.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Levi foi capturado com 24 anos. Saiu do campo com 25, publicou o livro com 27, em 1947. Não deixa de ser incrível perceber a maturidade literária de seu relato. Diz: “Ele não foi escrito para fazer novas denúncias; poderá, antes, fornecer documentos para um sereno estudo de certos aspectos da alma humana”. Ele explica, no prefácio, que o livro foi escrito para satisfazer a “necessidade elementar” de tornar “os outros” parte do processo daquela experiência. E acrescenta, sombrio: “Acho desnecessário acrescentar que nenhum dos episódios foi fruto de imaginação”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Atendendo àquela necessidade, Levi constrói um livro de memórias fragmentado, organizado de maneira a refletir, nas palavras dele, a <b>dimensão finita de toda condição humana</b>. Ou seja, até a infelicidade e a condição miserável em que os judeus no campo ocupavam eram finitas: limitadas pela certeza da morte. Foi isso que, aparentemente, o fez sobreviver no campo (junto com a experiência no laboratório): Levi, por outro lado, costuma atribuir sua sobrevivência à sorte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No livro, estão presentes descrições sobre o dia-a-dia no campo, sobre a crueldade dos alemães e dos prisioneiros não-judeus em relação aos judeus, sobre a economia que se organizou etc. Levi discorre, por exemplo, sobre a verdadeira tortura que era dividir uma cama com um completo desconhecido, em que cada um ficava com a face próxima aos pés do outro, torcendo para que o companheiro não tivesse sido escalado para limpar as latrinas na noite anterior.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjW69Qz-HY9WyTggZy09HuJ8rH5yYT41D1xMtIzYcKKqudWTnRpFk-DC4Ky8czf_1QU2Sk3Hf7qtJ_PH_I1BVdVxqMF8JTi2Q19C8IayOvXM4mPAg2ozJMaZ4z1i2pahhnu2jFHrqTwsygs/s1600/primolevi.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjW69Qz-HY9WyTggZy09HuJ8rH5yYT41D1xMtIzYcKKqudWTnRpFk-DC4Ky8czf_1QU2Sk3Hf7qtJ_PH_I1BVdVxqMF8JTi2Q19C8IayOvXM4mPAg2ozJMaZ4z1i2pahhnu2jFHrqTwsygs/s1600/primolevi.jpg" height="200" width="133" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Primo Levi<br />(Divulgação Companhia<br />das Letras)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.theparisreview.org/interviews/1670/the-art-of-fiction-no-140-primo-levi" target="_blank">Na famosa entrevista à <i>Paris Review</i></a>, Levi diz não sentir ódio (a entrevista é de 1985, dois anos antes de Levi morrer em circunstâncias obscuras). Mas ressalta: “[não sentir ódio] não é uma virtude; é um defeito”. E conclui: “Isso não quer dizer que eu esteja preparado para perdoar os alemães: não estou”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um ano depois, em 1986, Philip Roth entrevistou Levi, que com 67 anos, ainda demonstrava, para Roth, um vigor intelectual e físico muito grandes. Disse Levi, naquela ocasião (do livo <i>Entre nós</i>, de Philip Roth, tradução de Paulo Henriques Britto, Companhia das Letras):</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“No campo de concentração, vivi do modo mais racional que me era possível, e escrevi É isto um homem? me esforçando para explicar aos outros, e a mim mesmo, os eventos em que eu estivera envolvido, mas sem nenhuma intenção literária clara. Meu modelo (ou, se você preferir, meu estilo) era o do “relatório semanal” que se faz nas fábricas: ele deve ser preciso, conciso e utilizar uma linguagem compreensível para todos da hierarquia industrial”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>É isto um homem?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Primo Levi</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Luigi Del Re</div>
<div style="text-align: justify;">
Rocco (1988)</div>
<div style="text-align: justify;">
176 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Esgotado</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
No seu livro <i>Diário da queda</i>, <b>Michel Laub</b> faz com que <i>É isto um homem?</i> ocupe um lugar importante na narrativa. O avô do narrador de <i>Diário da queda</i> é também um sobrevivente de Auschwitz, daí o paralelo traçado entre as duas obras. Diz o narrador de Laub, na metade do livro:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Falar hoje sobre a mãe de João e o meu avô é apelar para as referências que incorporei ao longo dos anos, os filmes, as fotografias, os documentos, a primeira vez que li <i>É isto um homem?</i> e tive a impressão de que não havia mais nada a dizer a respeito. Não sei quantos dos que escreveram a respeito leram o livro, mas duvido que em qualquer desses textos existia algo que não tenha sido mostrado por Primo Levi. Adorno escreveu que não há mais poesia depois de Auschwitz, Yehuda Amichai escreveu que não há mais teologia depois de Auschwitz, Hannah Arendt escreveu que Auschwitz revelou a existência de uma forma específica de mal, e há os livros de Bruno Bettelheim, Victor Klemperer, Viktor Frankl, Paul Celan, Aharon Appelfeld, Ruth Klüger, Anne Frank, Elie Wiesel, Imre Kertész, Art Spiegelman e tantos e tantos outros, mas de alguma forma eles não poderiam ir além do que Primo Levi diz sobre os companheiros de alojamento, os que estavam na mesma fila, os que dividiram a mesma caneca, os que fizeram a caminhada rumo à noite escura de 1945 onde mais de vinte mil pessoas sumiram sem deixar traço um dia antes da libertação do campo”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Capítulo inicial de <i>É isto um homem?</i>:</div>
<blockquote class="tr_bq">
“Vocês que vivem seguros<br />em suas cálidas casas,<br />vocês que, voltando à noite,<br />encontram comida quente e rostos amigos,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>pensem bem se isto é um homem<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>que trabalho no meio do barro,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>que não conhece paz,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>que luta por um pedaço de pão,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>que morre por um sim ou por um não.<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Pensem bem se isto é uma mulher,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>sem cabelos e sem nome,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>sem mais força para lembrar,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>vazios os olhos, frio o ventre,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>como um sapo no inverno.<br />Pensem que isto aconteceu:<br />eu lhes mando estas palavras.<br />Gravem-na em seus corações,<br />estando em casa, andando na rua,<br />ao deitar, ao levantar;<br />repitam-nas a seus filhos.<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Ou, senão, desmorone-se a sua casa,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>a doença os torne inválidos,<br /><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>os seus filhos virem o rosto para não vê-los.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIM2ZsNWPyxtIK5roTiBZ1FNvU6EliBXBqPatogtIAnqS02OTTS9cP42oOd67o9w0idMOe4UUocaiFtvfd0KnMBVL-K3ADUmmDlFRXQo72NPGWg5v2G6l013OkmwDOAUPbsqUKmM-SAtUn/s1600/di%25C3%25A1riodaqueda.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIM2ZsNWPyxtIK5roTiBZ1FNvU6EliBXBqPatogtIAnqS02OTTS9cP42oOd67o9w0idMOe4UUocaiFtvfd0KnMBVL-K3ADUmmDlFRXQo72NPGWg5v2G6l013OkmwDOAUPbsqUKmM-SAtUn/s1600/di%25C3%25A1riodaqueda.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Diário da queda</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Michel Laub</div>
<div style="text-align: justify;">
Companhia das Letras (2011)</div>
<div style="text-align: justify;">
152 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$35,00</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-90762670382602009552013-04-08T22:02:00.000-03:002013-04-08T22:02:54.173-03:00Marcio Renato dos Santos: "Todos falam, ninguém se entende. É o caos."<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPdXbXyLdtw6yxDqKrXRSSnWANMvcejNbEKM6gVbi8RB0YnWL4zf9szD6cY0GE5x8cGZZIG1emcEmpv9tzBkX24vmwij4uWF93VZuPOSIRYzc2RJuJ0neUAFElz4DhDZOlhdFzP4y7CfaP/s1600/Capa+de+Golegolegolegolegah!.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPdXbXyLdtw6yxDqKrXRSSnWANMvcejNbEKM6gVbi8RB0YnWL4zf9szD6cY0GE5x8cGZZIG1emcEmpv9tzBkX24vmwij4uWF93VZuPOSIRYzc2RJuJ0neUAFElz4DhDZOlhdFzP4y7CfaP/s1600/Capa+de+Golegolegolegolegah!.jpg" height="320" width="201" /></a>O nome impronunciável do segundo livro de contos de <b>Marcio Renato dos Santos</b> (1974), jornalista e escritor curitibano, é uma resenha em si mesmo: <b>Golegolegolegolegah!</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Segundo Marcio Renato, autor de <i>Minda-au</i> (contos, lançado pela Record em 2010), o título impronunciável faz alusão à incomunicabilidade. “Estamos no século 21 e, apesar dos equipamentos, do avanço e da disponibilidade dos recursos tecnológicos, quase não conseguimos nos comunicar. Todos falam, ninguém se entende. É o caos. É a incomunicabilidade. É isso que está no livro”, comenta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num ótimo projeto gráfico da <b>Travessa dos Editores</b>, com ilustrações de Marciel Conrado, Golegolegolegolegah!, lançado mês passado em Curitiba, tem seis contos, sempre narrados em primeira pessoa. Na entrevista a seguir, Marcio Renato dos Santos, que também é mestre em Estudos Literários pela UFPR e curador do projeto <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/07/com-segunda-leva-de-livros-publicados.html" target="_blank">Tulipas Negras Editora</a>, fala sobre o novo lançamento e tenta, enfim, comunicar-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Biblioteca Vertical: No seu primeiro livro, Curitiba parecia ser um personagem principal, muitas vezes a cidade era trazida para o centro do conto. Em “Gole...” você diz: “Posso estar em Maringá, Florianópolis, Caxias do Sul ou Campinas. Que diferença faz?”. O que mudou? Curitiba representa alguma coisa na sua criação artística?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Marcio Renato dos Santos</b>: Houve esforço, não da minha parte, mas de algumas pessoas para dar a entender que <i>Minda-Au</i>, meu primeiro livro, publicado em 2010 pela Record, seria uma obra autobiográfica. Curioso, não é mesmo? Ficção, que é quase indefinível, mistura memória, delírio, sons, música, sonho, linguagem e algo que não se define. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Autobiografia? Como? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nos sete contos de <i>Minda-Au</i>, havia sim referência a ruas, praças e espaços públicos de Curitiba. Disseram que Curitiba seria cenário e até personagem de Minda-Au. Considero a opinião válida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
No entanto, em Minda-Au os narradores fazem referências a outras Curitiba, as Curitibas literárias, inventadas por Newton Sampaio, Dalton Trevisan, Jamil Snege, Fábio Campana, Roberto Gomes, Cristovão Tezza, José Carlos Fernandes, entre outros autores. Há conversa com as Curitibas da ficção. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já em <i>Golegolegolegolegah!</i>, não há nenhuma referência geográfica à capital do Paraná. <i>Golegolegolegolegah!</i> é um livro de circunstância, sobre a incomunicabilidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
Respondi? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acho que não. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Curitiba representa, para mim, tudo. Até na criação artística. É a cidade onde nasci. O local onde moro e nasceu o meu filho Vitor. Trabalho, caminho e atravesso madrugadas, manhãs, tardes e noites em Curitiba. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais do que tudo, Curitiba é uma cidade na qual não existe, nem em sonho, o que chamam de autofagia. Quem fala de autofagia em Curitiba desconhece o ser humano e o mundo. Quem fala de autofagia nunca esteve em Curitiba. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Biblioteca Vertical: Todos os contos do livro são narrados em primeira pessoa. Isso é uma desconfiança, uma tática, um artíficio ou uma coincidência?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBzTgEQ2hlDIgfiRcIydXI2XbjNFz1P1JD82KmcbIyg2P8lp29rxQmKkg-ya1dHEPEw4crWwZCVf0FlSgNxpPfcltwF1gpc9M7j5Qlzk-KFQzrzSO6SSfD0ixFxJKnn8eGmbBgq29iC4pu/s1600/Marcio+Renato+dos+Santos+01_Foto+Daniel+Snege.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBzTgEQ2hlDIgfiRcIydXI2XbjNFz1P1JD82KmcbIyg2P8lp29rxQmKkg-ya1dHEPEw4crWwZCVf0FlSgNxpPfcltwF1gpc9M7j5Qlzk-KFQzrzSO6SSfD0ixFxJKnn8eGmbBgq29iC4pu/s1600/Marcio+Renato+dos+Santos+01_Foto+Daniel+Snege.JPG" height="320" width="213" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Marcio Renato e a pimenteira<br />
(Foto: Daniel Snege)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<b>Marcio Renato dos Santos</b>: Um livro de contos, para mim, e já publiquei dois, é – mais do que tudo – um conjunto de textos que conversam entre si. O Gudryan Neufert, um amigo que é jornalista e mora em São Paulo, leu <i>Golegolegolegolegah!</i> e escreveu o seguinte: “O livro trata da incomunicabilidade moderna. A escrita em primeira pessoa traz as angústias silenciosas do eu. São seis contos que podem ser lidos aleatoriamente mas que também não escondem suas correlações temáticas”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perceba: é um outro olhar, e não o meu. O Gudryan afirma que os contos escritos em primeira pessoa não escondem suas correlações temáticas. O Gudryan leu, de fato, <i>Golegolegolegolegah!.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Escrevi esses contos durante 2011. Em outubro daquele ano, reli e reescrevi os textos, e me dei conta de que havia uma conexão entre eles: todos tratam da incomunicabilidade. Os personagens estão acossados, no limite. Em dezembro de 2011, o Fábio Campana me telefonou e perguntou se eu tinha um livro para ele publicar pela Travessa dos Editores. Disse que sim, mas gostaria de publicar um livro com um nome impronunciável, <i>Golegolegolegolegah!</i>, para fazer alusão à incomunicabilidade. O Campana gostou da ideia e o livro de fato foi publicado pela Travessa dos Editores. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estamos no século 21 e, apesar dos equipamentos, do avanço e da disponibilidade dos recursos tecnológicos, quase não conseguimos nos comunicar. Todos falam, ninguém se entende. É o caos. É a incomunicabilidade. É isso que está no livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Posso fazer uma sugestão. Grave uma conversa. Qualquer uma. Em qualquer dia. Depois, transcreva a conversa. E conte quantas vezes as pessoas falam eu. Todos falam eu, eu, eu, eu, eu, eu, muitas, diversas vezes. O tempo todo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em um contexto desses, optei por narradores em primeira pessoa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas não vou ficar aqui, eu, eu, eu, apenas eu falando do <i>Golegolegolegolegah!.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O poeta Sergio Napp vive em Porto Alegre: ele recebeu o livro e me a seguinte mensagem: “Acabo de ler o teu livro e, como de hábito, o que me surpreende é a linguagem. Teus contos são de circunstâncias e quase prescindem de personagens. Os personagens servem para que o conto se estruture em uma situação e não para serem o centro da história. Isto me agrada muito. É um tanto novo. Por outro lado, teus contos não fecham, fica um sabor de ‘e daí?’. Isto me agrada mais. Fazer o leitor pensar. O que une os teus contos é o movimento externo, avião, automóvel, o ônibus, caminhar, etc. Ao mesmo tempo, na maioria há um dinheiro que surge de repente e muda a vida. Isto dá uma unidade ao livro e, lá pelas tantas, pode-se pensar que sempre temos o mesmo personagem em tempos vários. O melhor dos contos? Vamos ver:’ Nevoeiro’ e ‘Cento e noventa’. Pra finalizar: o invólucro: um dos livros mais bonitos que eu vi nos últimos tempos. Dá um prazer enorme folheá-lo. Acho que vou relê-lo.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Que tal a opinião do Napp?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro leitor atento é o Eleotério Burrego, que leu <i>Golegolegolegolegah!</i> e escreveu o seguinte: “Você conseguiu traduzir neste livro parte da angústia nos assalta dia a dia frente a tecnologia que invadiu nosso contato diário. Pulverizando as relações em coisas frívolas, dispersivas. Ótimo livro, muitas pessoas se identificarão nos vários contos bem escritos. Magnífico”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Creio que os olhares do Napp, do Eleotério e do Gudryan ajudam a responder. Ou não?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ah, faltou afirmar: pode existir coincidência na vida, mas nas páginas, linhas e entrelinhas de <i>Golegolegolegolegah!</i> não há coincidência. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Biblioteca Vertical: Tem uma passagem no conto “Cento e noventa” em que o narrador-personagem faz uma reflexão sobre dois artistas dos quais ele diz não gostar:</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br />
</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>“É que li na capa do caderno de cultura uma matéria, exagerada, sobre um personagem que conheço faz tempo. Ele é músico, ou melhor, se considera cantor e compositor, mas eu não tenho a mesma opinião sobre o assunto. [...]</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>E esse outro Fulano, o que se acha escritor? Não, não pode ser. [...] Só pode ser pegadinha. É real? No twitter só falam dele. Está aí. É a unanimidade do momento.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Sem dúvida, mais um equívoco”.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br />
</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Você também é jornalista e crítico de cultura, então diga: com que frequência o Marcio Renato dos Santos se vê com os mesmos pensamentos desse personagem (nesse trecho)? Há muitos “embustes” por aí?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Marcio Renato dos Santos</b>: O personagem de “Cento e noventa” está morto. Desde a primeira palavra, desde a primeira linha do conto. Mas ele não sabe, pelo menos no início, nem desconfia de sua condição, situação. É um sujeito que desejou se tornar artista, mas entrou em outros enredos. Não se sabe se desistiu da arte ou se constatou que a criação artística não seria o seu caminho. No entanto, quando encontra conhecidos, do passado, que no presente narrativo são reconhecidos como artistas, ele surta. Eis um dos conflitos do personagem sem nome. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As ideias do personagem do conto “Cento e noventa” representam uma mentalidade, não necessariamente a minha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez até ao contrário. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A ficção que escrevo não é autobiográfica. Eu não sou os personagens que invento. Não tenho nada, ou quase nada, a ver com os personagens de <i>Golegolegolegolegah!</i> Apesar da primeira pessoa. Aquele eu não sou eu. O narrador de “Cento e noventa” dirige um carro: eu não sei dirigir. Sou pedestre. Daí, você poderia comentar: Mas o narrador do conto “Zé Ruela” é um pedestre, não é? Mas aquele personagem só anda, e eu ando, mas também faço algumas outras atividades. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sobre a sua pergunta, não posso responder uma vez que não sou o personagem que, inclusive, está morto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Biblioteca Vertical: Uma curiosidade: o que você leu, ou tem lido ultimamente, que valeu mesmo a pena?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Marcio Renato dos Santos:</b> Tenho lido muitos textos de qualidade. Por exemplo, as crônicas, às vezes contos, que o Fábio Campana publica na <i>Ideias</i> são brilhantes, já leu? Ele é dono de uma das mais vozes literárias mais instigantes da contemporaneidade. Leio a crônica do Roberto Gomes a cada 15 dias na <i>Gazeta do Povo</i>. A crônica do José Carlos Fernandes toda sexta-feira na <i>Gazeta do Povo</i>. O texto do Rogério Pereira, sempre às segundas, no Vida Breve, uma ficção forte, única, com pegada. Os textos que o Luiz Rebinski Junior produz para o jornal Cândido, além do conto que ele escreveu chamado “Uma mulher com um W enorme”. Os perfis que Omar Godoy escreve todo mês para o jornal <i>Cândido</i>. Os textos do Felipe Kryminice na <i>Ideias</i>. Os posts do Arthur Tertuliano, e as resenhas que ele escreve para o <i>Rascunho</i>. A bossa do Renan Machado. Qualquer prosa do Guilherme Magalhães.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No que diz respeito a livros, estou fascinado com <i>Os enamoramentos</i>, de Javier Marías. Toda obra do Enrique Vila-Matas, mas daí é releitura. Todo dia leio um trecho de um livro do Vila-Matas. Também releio e recomendo <i>Anedotas do destino</i>, de K. Blixen, <i>A árvore de Isaias</i>, do Campana, <i>O conhecimento de Anatol Kraft</i>, do Roberto Gomes, <i>O coronel Chabert</i>, do Balzac, <i>O livro do medo</i>, do Guido Viaro, <i>Trato de silêncios</i>, da Luci Collin, <i>Sergio Y vai à America</i>, de Alexandre Vidal Porto, <i>Sexo</i>, do André Sant’Anna e <i>Pornopopéia</i>, do Reinaldo Moraes. E também leio e releio o encarte do álbum <i>Abraçaço</i>, do Caetano Veloso.</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwm89KknizGesx0x3pXUns36pTEeKXhQkJBcC72sekeyTVLyqdBvcyjCWi7dpE9j65fnFYGrlUuDWlnVlOzypvtGR5EPWi1f8Ndn4kKSnBFodrIaNIZhyphenhyphenhSwSH8pXoNRLH5eu19YPdYIzb/s1600/Capa+de+Golegolegolegolegah%2521.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwm89KknizGesx0x3pXUns36pTEeKXhQkJBcC72sekeyTVLyqdBvcyjCWi7dpE9j65fnFYGrlUuDWlnVlOzypvtGR5EPWi1f8Ndn4kKSnBFodrIaNIZhyphenhyphenhSwSH8pXoNRLH5eu19YPdYIzb/s1600/Capa+de+Golegolegolegolegah%2521.jpg" height="200" width="125" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Golegolegolegolegah!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Marcio Renato dos Santos</div>
<div style="text-align: justify;">
Travessa dos Editores (2013)</div>
<div style="text-align: justify;">
80 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$30</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Trecho do conto "Cento e noventa":</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
"Mas, sabe, tive de abandonar a arte, sobretudo após me deparar com artistas expressivos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
Porque eu nunca, jamais seria um artista visceral. </div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
Não me conformo é com o fato de sujeitos sem talento, como eu não tinha e não tenho, não abandonarem a arte, como eu abandonei.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mais do que isso até, o que me deixa perplexo, irritado e com vontade de gritar é que esses sujeitos seguiram carreiras, emplacaram obras e se consolidam como referências." (p. 71).</div>
</blockquote>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-20262406953248436872013-03-20T22:54:00.000-03:002013-03-20T22:54:20.025-03:00Pastoral Americana, Philip Roth<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-p5sZnrDVP6jDQe5zPQ5yhYW7ng5czquTtbtTZTmoBVxQVKScZb68mQ7UmqDzGMDMO1Z9PFaK0ZXAv0pWHLohJTc6HvCaD1O0AJt3x3sH2NuhV8807Pohfhaj8oEPy2DwkJlKAep26mN7/s1600/Pastoral.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-p5sZnrDVP6jDQe5zPQ5yhYW7ng5czquTtbtTZTmoBVxQVKScZb68mQ7UmqDzGMDMO1Z9PFaK0ZXAv0pWHLohJTc6HvCaD1O0AJt3x3sH2NuhV8807Pohfhaj8oEPy2DwkJlKAep26mN7/s1600/Pastoral.jpg" height="200" width="151" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Pastoral Americana</i> é um <b>livro incrível e grande</b>. Livros grandes têm maior facilidade de serem incríveis, e os últimos livros grandes que li (<i>Anna Kariênina</i>, por exemplo) foram sempre incríveis. Mas nenhum deles me deixou tão triste ao terminá-lo quanto <i>Pastoral Americana</i>. Há cenas, neste livro, que fazem chorar, que fazem pensar, que fazem você querer parar de ler, colocá-lo de lado, e gritar Meu deus, por que ele (Roth) está fazendo isso, por quê, por quê?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desse tanto. <i>Pastoral</i> me deixou com insônia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No livro, o narrador é o já estabelecido <b>Nathan Zuckerman</b>, alter-ego de Roth, que, diferentemente dos romances publicados no Brasil na edição de <i>Zuckerman acorrentado</i>, não é o personagem principal, mas principalmente o narrador. Na primeira das três partes do livro, Zuckermann narra em primeira pessoa sua própria experiência com <b>Seymour Levov, o Sueco</b>, esse sim o personagem principal do livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A convivência entre os dois se dá na escola secundária, quando Sueco era, aos olhos de todos, um atleta excepcional, invejado, lindo, musculoso, ídolo secreto de Zuckerman, que por sua vez, era amigo de Jerry apenas por este ser irmão do Sueco (Jerry, mais tarde, é o máximo). Muitos anos depois, Sueco e Zuckerman se encontram novamente, duas vezes (com um intervalo grande de tempo entre os dois encontros). É a partir do segundo que Zuckerman escreve o que escreve, que resulta nas duas partes finais do <i>Pastoral Americana</i> (que junto com <i>A marca humana</i> e <i>Casei com um comunista</i> formam a Trilogia Americana).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E é aí que você vai morrer de desgosto. A história do cara bonitão, que herda a fábrica de luvas do pai, que se casa e vai morar em uma região rural de New Jersey e tem uma filha que se revolta contra a Guerra do Vietnã é emocionante, sofrida, espetacular, trágica, inesquecível.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A narração de Zuckerman (na tradução de <b>Rubens Figueiredo</b>), que mistura a terceira pessoa, reflexões, pensamentos e suposições do Sueco, faz o livro de 500 páginas voar. Os temas, sempre presentes na obra de Roth, são igualmente irresistíveis: conflitos familiares levados ao extremo, dificuldade com as mulheres, judaísmo, e, claro, a América.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJvOkJNAzQ8-GyacJAyQWQ2C9aaaVOFghN2v4Zw9gQLns9nBeOQat3sN__OS6s6d8bI-Tb_sB-IHwBUI-o5sbMiN71SNtdgL7I7N4gVEWVQ9noogVFqPl0YgqIay455TjsUFkgCHzUodV6/s1600/philip_roth_-_divulgacao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJvOkJNAzQ8-GyacJAyQWQ2C9aaaVOFghN2v4Zw9gQLns9nBeOQat3sN__OS6s6d8bI-Tb_sB-IHwBUI-o5sbMiN71SNtdgL7I7N4gVEWVQ9noogVFqPl0YgqIay455TjsUFkgCHzUodV6/s1600/philip_roth_-_divulgacao.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Óbvio que ninguém vai julgar um livro cujo título é “Pastoral Americana” por ele ser, digamos, americanista. O próprio Rubens Figueiredo, <a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=15" target="_blank">num encontro aqui em Curitiba</a>, propôs uma reflexão que muitas vezes passa batida por nós, leitores brasileiros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas antes, quero trazer um conceito dos estudos de recepção, o <b>“narratário”</b>. Diz Vincent Jouve: “Simetricamente, o receptor é ao mesmo tempo o leitor real, cujos traços psicológicos, sociológicos e culturais podem variar infinitamente, e uma figura abstrata postulada pelo narrador pelo simples fato de que todo texto dirige-se necessariamente a alguém. Mediante o que diz e do modo como diz, um texto supõe sempre um tipo de leitor - <b>'um narratário'</b> - relativamente definido. (...) Pelos temas que aborda e pela linguagem que usa, cada texto desenha no vazio um leitor específico. Assim, o narratário, da mesma forma que o narrador, <b>só existe dentro da narrativa</b>: é apenas a soma dos signos que o constroem.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O “narratário” desse livro, então, é o leitor americano de Zuckermann. Esse pensamento nos leva para a reflexão de Rubens Figueiredo:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Ao ler com atenção os livros deles [Susan Sontag e Paul Auster], você não encontra críticas a respeito da <b>distribuição desigual de poder no mundo</b>. O postulado desses autores pode ser entendido como ‘os Estados Unidos dominam e é bom que seja assim’. [...] Estou traduzindo um livro que, a cada dez páginas, o autor fala em povo americano, democracia americana, sociedade americana, os Estados Unidos. É impressionante. E nós lemos e não percebemos isso. Não percebemos porque o nosso pressuposto é que isso é normal. Mas isso não é normal”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não é normal, mas acontece (e nesse caso, duas vezes, porque o narratário e o leitor real são americanos). Tem um poeminha do Leminski (tá na moda!) que ilustra perfeitamente:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"podem ficar com a realidade</div>
<div style="text-align: justify;">
esse baixo-astral</div>
<div style="text-align: justify;">
em que tudo entra pelo cano</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
eu quero viver de verdade</div>
<div style="text-align: justify;">
eu fico com o cinema americano"</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É isso! Parte do meu <b>imaginário</b> (parte significativa, infelizmente talvez) é moldada pela porra do cinema americano, e aí, quando um sujeito escreve um livro chamado <i>Pastoral Americana</i> eu sinto como se eu mesmo tivesse lembranças de verdade sobre o lugar e a identificação é inevitável. É incrível, mas é terrível ao mesmo tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Diz Roth (Zuckermann):</div>
<blockquote class="tr_bq">
“A ruptura do futuro americano previsto, que consistia simplesmente no desenrolar do consistente passado americano, no fato de cada geração se tornar mais esperta que a anterior - mais esperta por conhecer as inadequações e limitações das gerações precedentes -, [...] no desejo de ir até o limite na América apoiados nos nossos direitos, [...] de forma a levar a vida sem ter de pedir desculpas, como um igual entre iguais. </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
E então a perda [...] - iniciando o Sueco no desajuste de uma América completamente distinta, a filha e a década fazendo picadinho da sua forma particular de pensamento utópico, a América da peste se infiltrando no castelo do Sueco e, ali, infectando todo mundo. A filha que o transporta para fora da sonhada <b>pastoral americana</b> [...].”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Pastoral é o sonho americano, the american dream, the american way of life, the wellfare state, the motherfucking Thanksgiving, com seu “peru gigante que alimenta 250 milhões de almas atormentadas” (“É a pastoral americana por excelência, e dura vinte e quatro horas”). O sonho é viver dentro da Pastoral, ser consumido pela Pastoral, está tudo ali, ela nos alimenta, nos fornece o football, nos enriquece, por que alguém em sã consciência deveria mudá-la?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas o Sueco é transportado para fora da Pastoral.</div>
<blockquote class="tr_bq">
“E por que não deveria estar onde eu queria? Por que não deveria estar com quem eu queria? Não é esse o espírito desse país? Quero ficar onde quero ficar e não quero ficar onde não quero ficar. É isso o que siginifca ser americano... não é?”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
O que se passa, nas 500 páginas do livro, é o processo extremamente doloroso do Sueco sendo levado para longe da Pastoral. Não pense em dívidas, dúvidas simples, reflexões de escritores em cafés, filosofia rasteira, acontecimentos lineares, nada disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pense num escritor. Agora, pense em uma <b>obra-prima</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Pastoral Americana</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Philip Roth</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução Rubens Figueiredo</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10904" target="_blank">Companhia das Letras (1998)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
480 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$69,00; ebook até sabe deus quando R$9,90</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gosta de Philip Roth e habita a internet literária do Brasil, <a href="http://www.livrosabertos.com.br/" target="_blank">conheça e frequente o Livros Abertos</a>, um dos poucos blogs brasileiros por aí que eu ainda não vi ninguém xingar (alô, Camila!).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Philip Roth completou <b>80 anos</b> no dia 19. Espero que ele esteja com saúde e viva bem e mais quantos anos quiser.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Devido à data especial, a Internet recebeu ou relembrou muito conteúdo sobre Roth. Bom. Estou buscando o link para o documentário <b>Philip Roth: Unmasked</b>, da série American Masters da PBS (uma dessas megacompanhias que deformaram os nossos imaginários), mas ainda não achei. Se alguém achar, passa ae! Quando encontrar, colocarei aqui e no tuíter. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se você curte e-books, e é difícil achar esses livros físicos, corra que até o dia 21/03 (amanhã!) a Companhia das Letras tá com promoção para a Trilogia Americana. Pastoral me saiu pela bagatela de R$9,90.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fica também uma entrevista bacana com o escritor, e tem até legendas em português. A entrevista foi cedida para o Estadão, repórter Lúcia Guimarães, em 2010:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/5lQBNxPuVOw?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Mais um trecho do <i>Pastoral</i> porque é realmente bom:</div>
<blockquote class="tr_bq">
"Persiste o fato de que entender direito as pessoas não é uma coisa própria da vida, nem um pouco. Viver é entender as pessoas errado, entendê-las errado, errado e errado, para depois, reconsiderando tudo cuidadosamente, entender mais uma vez as pessoas errado. É assim que sabemos que continuamos vivos: estando errados. Talvez a melhor coisa fosse esquecer se estamos certos ou errados a respeito das pessoas e simplesmente ir vivendo do jeito que der. Mas se você é capaz de fazer isso... bem, boa sorte".</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHze103rwG6gq4rJ0V9NyRh7knQfHoWz72MDzm-ey6AyUUIotwgS_XTfNsVWDaPpTwnLMp5j-sKKpY3s4UPJjAJkxSKEJHyBBYCeptz2SqmJ4XM7CtY1Q2uugEVr8WUQnafaEzj21EK4T4/s1600/Anna-Karienina.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHze103rwG6gq4rJ0V9NyRh7knQfHoWz72MDzm-ey6AyUUIotwgS_XTfNsVWDaPpTwnLMp5j-sKKpY3s4UPJjAJkxSKEJHyBBYCeptz2SqmJ4XM7CtY1Q2uugEVr8WUQnafaEzj21EK4T4/s1600/Anna-Karienina.jpg" height="200" width="138" /></a><b>Anna Kariênina</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Liev Tolstói</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Rubens Figueiredo</div>
<div style="text-align: justify;">
Cosac Naify (2005)</div>
<div style="text-align: justify;">
816 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$109,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro livro enorme em que basicamente todo mundo se fode no mau sentido.</div>
<div>
<br /></div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-48676670075367969762013-02-17T23:03:00.000-03:002013-02-17T23:03:24.629-03:00Um crime delicado, Sérgio Sant'Anna<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgBbMekrks16_QbNmZownMxLp7ueu9UpA97VlcM_IhSl5-1wGq7qMLCPDVh3chysInLBsU9zRFdOqkGpxJT2KHlPzJ_k1jbijj7XWTcIletyEDEv-tGCfAAbfwj1dxwURxqGsuXQGc-4-k/s1600/umcrimedelicado.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgBbMekrks16_QbNmZownMxLp7ueu9UpA97VlcM_IhSl5-1wGq7qMLCPDVh3chysInLBsU9zRFdOqkGpxJT2KHlPzJ_k1jbijj7XWTcIletyEDEv-tGCfAAbfwj1dxwURxqGsuXQGc-4-k/s1600/umcrimedelicado.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Ler esse livro do escritor carioca <b>Sérgio Sant’Anna</b> (1941) me lembrou o tempo todo os escritos de <b>Enrique Vila-Matas</b>, o que é engraçado porque é difícil encontrar um ponto de encontro entre os dois fora dessa impressão literária. Talvez um deles seja a admiração que Vila-Matas manifesta por <b>César Aira</b>, tradutor de Sant’Anna na Argentina. Tudo é coincidência.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A questão é que <b>Um crime delicado</b> (1997, Companhia das Letras, vencedor do Jabuti de 98) é um romance, em formato de desabafo, escrito por um crítico de teatro, encenado como uma peça, trabalhado como uma crítica. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Antonio Martins é um crítico de teatro que se envolve em um processo criminal após o seu envolvimento com Ines, uma mulher manca que causa nele uma profunda impressão. O seu desabafo, que é então a narrativa, é a sua versão dos fatos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao colocar o narrador no papel do crítico, Sant’Anna utiliza uma fórmula, um vício ao contrário, e cria um romance em que o crítico, no lugar de avaliar, é avaliado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E esse crítico é assim: ele usa um estilo envelhecido, elegante é verdade, mas na maior parte do tempo pomposo, como pomposa parece ser a sua própria vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Sobre uma leve camisa social listrada, de mangas compridas, que arregacei um pouco, eu vestira um colete desabotoado. Uma peça que, no meu entender, antes de ser anacrônica, era intemporal, concedendo-me ao mesmo tempo um toque clássico e moderno, de elegância discreta e jovialidade, esta última reforçada pela calça jeans que eu usava como todo mundo”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Que passagem primorosa de descrição de um personagem! Pouca coisa precisa ser dita: alguém que precisa loucamente de um grau de aprovação qualquer, que está numa breve crise de identidade, que precisa se afirmar como elegante porém jovial. Ora, não parece a <b>crítica literária</b> atual (lembrando que o romance é de 1997)?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assistindo a uma participação do professor <b>João Cezar de Castro Rocha</b> num <a href="http://www.youtube.com/watch?v=P9YNjWAaeYU" target="_blank">encontro do Itaú Cultural,</a> em novembro passado, vemos o crítico defender com veemência a “secundidade” da própria crítica. Ou seja, a crítica tem que assumir o seu papel secundário para então renovar seu discurso e retomar seu papel relevante no sistema cultural.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIW6BmJ9tElG_0LSyo_SlQLiSQFajP_xE1XsXg3ylLIfKYTodg8SLP7J9vK5Zapq2UZf6KUT_K-uALxdHkF2RGXcpa3IoMoVUPk-123yrGzSL2qZSAQFlb-yBJhny-vxg4DzUpfARlNwMb/s1600/santanna.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIW6BmJ9tElG_0LSyo_SlQLiSQFajP_xE1XsXg3ylLIfKYTodg8SLP7J9vK5Zapq2UZf6KUT_K-uALxdHkF2RGXcpa3IoMoVUPk-123yrGzSL2qZSAQFlb-yBJhny-vxg4DzUpfARlNwMb/s1600/santanna.jpg" height="200" width="133" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Sérgio Sant'Anna<br />
Divulgação Companhia<br />
das Letras</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Mas parece que a crítica (com honrosas exceções como a de João Cezar), assim como o narrador de Um crime delicado (Antônio Martins - o sobrenome de um dos maiores críticos literários do século XX não é, apesar de comum, coincidência), nada contra uma <b>corrente invisível</b>. O narrador do romance não escreve o seu relato para se desculpar, para pôr a prova algum erro, não: ele escreve na defensiva.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há, igualmente, essa corrente invisível contra qual a crítica tem que nadar. Há um não entedimento da atividade crítica generalizado: acadêmicos acham jornalistas superficiais, jornalistas acham acadêmicos entediantes, e numa dessas a relevância vai por água abaixo. Claro que há exceções, e são elas que nadam contra a corrente, essa talvez real.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sobre toda essa questão, o Vila-Matas tem um trecho bom do Ar de Dylan:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“[…] admirava talvez falsamente porque — tendo começado a publicar nos anos que a crítica literária podia decidir o destino de um livro — adquirira o costume de se dar bem com aqueles resenhadores que revelavam um perigoso ânimo depredador, pois não parecia recomendável cruzar os braços diante deles e ficar inteiramente à mercê de sua sede de mal ou de sua vontade de invocar sempre aquele escritor fantasma que para eles seria o escritor perfeito: um narrador que eles pareciam conhecer a fundo porque era eles mesmos […]”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De fato, Enrique, era eles mesmos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Um crime delicado</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Sérgio Sant'Anna</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10730" target="_blank">Companhia das Letras (1997)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
136 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$34,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
O livro foi adaptado para o cinema por Beto Brant. Veja o trailer:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/EMKMmTZ0dW4?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRcAHlmr_E7TAW9k2WT6CbYgJ3CN5VHxE3u52bcH3e3dNoO21PzQnuAAeNUo6iKUGY5hJmVMQbtqd2RghdVjwg5ipJFRdMknZ8HR8RGMXDqbWyRuMhZMLgPxoZpdyNrK72bh82TWe8iwrR/s1600/21062012175242_ar_dylan.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRcAHlmr_E7TAW9k2WT6CbYgJ3CN5VHxE3u52bcH3e3dNoO21PzQnuAAeNUo6iKUGY5hJmVMQbtqd2RghdVjwg5ipJFRdMknZ8HR8RGMXDqbWyRuMhZMLgPxoZpdyNrK72bh82TWe8iwrR/s1600/21062012175242_ar_dylan.jpg" height="200" width="136" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Ar de Dylan</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Enrique Vila-Matas</div>
<div style="text-align: justify;">
Trad.: José Rubens Siqueira</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/11772/Ar-de-Dylan-.aspx" target="_blank">Cosac Naify (2012)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
320 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$59,00</div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-68916598844108484392013-01-26T14:07:00.000-02:002013-01-26T14:07:18.013-02:00Retrato de um viciado quando jovem, Bill Clegg<div style="text-align: justify;">
<i>*Nota: eu comprei esse livro no saldão da Fnac, a hardcover americana, da Little Brown, saiu por R$5,90, coisa assim. Foi essa edição que eu li, mas o livro foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2011, com tradução da Julia Romeu, sob o título <b>Retrato de um viciado quando jovem</b>. Os trechos, então e é claro, são da edição americana. Na contracapa ainda há elogios de, entre outros, Michael Cunningham e <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/06/cuidado-o-proximo-deve-ser-voce.html" target="_blank">Irvine Welsh</a>.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUOsh2pU-Bj4DOjqOZ8Q5aeBlfKyeqcKIFg5upgYxASmiwkjO86G5RgU5ly7-jahwWFkjGvl0b8kMfZZIrb8kEJvXLw5PkjE01wC6x2NNtobD6QDThlhz3tBT3heIQ3uCpKqVcDRWKCGMy/s1600/portrait.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUOsh2pU-Bj4DOjqOZ8Q5aeBlfKyeqcKIFg5upgYxASmiwkjO86G5RgU5ly7-jahwWFkjGvl0b8kMfZZIrb8kEJvXLw5PkjE01wC6x2NNtobD6QDThlhz3tBT3heIQ3uCpKqVcDRWKCGMy/s1600/portrait.jpg" height="200" width="131" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Os riscos de fazer <b>literatura sobre drogas</b> numa sociedade conservadora são grandes: por um lado, considerar o tema um tabu e não colocá-lo em discussão é pura hipocrisia; por outro, cair no politicamente correto, por exemplo, é fácil (lembre-se, estamos falando de literatura). Então, para o leitor, o primeiro livro do norte americano <b>Bill Clegg, Portrai of an addict as a young man</b>, é no mínimo um livro perigoso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perigoso porque o relato pode muito bem passar pelo pornográfico: um passeio na própria e crua desgraça em que o autor-narrador se envolveu: aqui a mesma pessoa, porque o livro é um livro de memórias.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Clegg era um alcóolatra com uma aparente propensão ao caráter transgressor das drogas. O vício ao crack veio numa escapada - Clegg, que até então tinha uma namorada fixa, também se descobre homossexual. Um dia, ele encontra um advogado conhecido e quarenta anos mais velho, que o convida para tomar um drink na sua casa, e oferece crack. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
“The taste is like medicine, or cleaning fluid, but also a little sweet, like limes. [...] A surge of new energy pounds through every inch of him, and there is a moment of perfect oblivion where he is aware of nothing and everything. [...] It is the warmest, most tender caress he has ever felt and then, as it recedes, the coldest hand. He misses the feeling even before it’s left him and not only does he want more, he needs it”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isso acontece pouco antes da metade do livro. Antes disso, o leitor já acompanhou boa parte da <b>rotina</b> do autor enquanto ele se droga: aqui é onde o livro pode esbarrar no simples relato e perder força. Oras, não é problema nenhum escrever sobre o seu próprio e antigo vício, mas passar mais de 100 páginas descrevendo a pantomima que é ir de hotel para hotel para encontrar quartos isolados, entrar em contato com os traficantes e fumar pedra rezando por um ataque do coração parece... sensacionalismo? Sinceramente, é difícil dizer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
“Acres of time, a bag of crack, company lined up, and a hotel less than a minute away. I’ve just missed two flights, e-mailed Kate and relinquished any say or stake in our agency, tossed my career down the chute, and stood up my beloved and no doubt frantic boyfriend. I’ve done all these things and I couldn’t be happier”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm6YngqPSFRDuEPAQVth-v2CC76pRIFUK-S_nOvzI1uUWc_F9Vy9Avq8zl42T_YCT5ZWIVBJqDycDVJbsMl37QSgTJ_Nzm-engrjEZLnBN-awYMGMIrcGWReqrO8rxbrCinE_fBloC-OkW/s1600/bill+clegg+cia+das+letras.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm6YngqPSFRDuEPAQVth-v2CC76pRIFUK-S_nOvzI1uUWc_F9Vy9Avq8zl42T_YCT5ZWIVBJqDycDVJbsMl37QSgTJ_Nzm-engrjEZLnBN-awYMGMIrcGWReqrO8rxbrCinE_fBloC-OkW/s1600/bill+clegg+cia+das+letras.jpg" height="200" width="133" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Bill Clegg (Divulgação)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Essa rotina é narrada na primeira pessoa. Outros capítulos do livro, escritos em terceira pessoa, revelam pedaços marcantes da infância, adolescência e até da vida adulta do autor, e um episódio particularmente: a dificuldade que ele tinha para urinar quando criança. Há um paralelo muito claro entre a <b>vergonha</b> de ser pego tendo grandes dificuldades para urinar, enquanto criança, e a vergonha de ser pego fumando crack, já adulto e bem sucedido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aqui há uma questão: é complicado definir onde começa e onde termina a tentativa do autor de fazer uma auto-psicanálise e descobrir causas do seu vício, o que seria uma manobra no mínimo <b>evasiva</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que mais me impressionou durante a leitura foi a ansiedade do autor em relação ao produto que ele, no início, escolheu consumir: a primeira linha diz tudo “<i>I can’t leave and there isn’t enough</i>”. Nunca é o bastante, uma tragada nunca é suficiente, e poucos minutos sem um “hit” parecem (ou ele faz parecer) uma eternidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O livro é bem escrito, se utiliza de estruturas variadas, o que é sempre positivo, mas não é genial. Há pouca novidade. E claro, ler as memórias de um maníaco egocêntrico viciado em crack pode não ser a <b>leitura leve e agradável</b> de domingo que você está procurando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Portrait of an addict as a young man: a memoir</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Bill Clegg</div>
<div style="text-align: justify;">
Little, Brown and Co. (2010)</div>
<div style="text-align: justify;">
222 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU-hKQYeGq62OOUWce9UwFdyh16eXM3x7xkbgARb1RzRpEXd92k0UYYzbyBRv4hZy1mHBLbCQe8zB_A9GBhFDUMkrJPWQSP6jskXqjXWEQ06d0CRHBU030ezWCA7_hI9TaLVzLWCZI8Hky/s1600/retratodeumviciadoquandojovem.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU-hKQYeGq62OOUWce9UwFdyh16eXM3x7xkbgARb1RzRpEXd92k0UYYzbyBRv4hZy1mHBLbCQe8zB_A9GBhFDUMkrJPWQSP6jskXqjXWEQ06d0CRHBU030ezWCA7_hI9TaLVzLWCZI8Hky/s1600/retratodeumviciadoquandojovem.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Retrato de um viciado quando jovem</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Bill Clegg</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Julia Romeu</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12722" target="_blank">Companhia das Letras (2011)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
216 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$41,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggd5rcFhON4idFT9rDm0EqQLvpOcV2QAKKHR1YWdSrKBt6ZppriuEFsgHt4Apx32L1r05LLg8HuPw-1ZVfkutaswuRNvB4A_eIPHixRQKh4WccrspzRoW1QhmWSosNxX-Djh9eLhp-HOB0/s1600/Trainspotting.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggd5rcFhON4idFT9rDm0EqQLvpOcV2QAKKHR1YWdSrKBt6ZppriuEFsgHt4Apx32L1r05LLg8HuPw-1ZVfkutaswuRNvB4A_eIPHixRQKh4WccrspzRoW1QhmWSosNxX-Djh9eLhp-HOB0/s1600/Trainspotting.jpg" height="200" width="133" /></a><b>Trainspotting</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Irvine Welsh</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Daniel Galera e Daniel Pellizzari</div>
<div style="text-align: justify;">
Rocco (2004)</div>
<div style="text-align: justify;">
352 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$43,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/06/cuidado-o-proximo-deve-ser-voce.html" target="_blank">Clique aqui para ler a resenha de Trainspotting, o clássico de Irvine Welsh</a>!</div>
<br />Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-67433665846168315532013-01-14T19:48:00.001-02:002013-01-14T19:48:03.233-02:00Cândido<div style="text-align: justify;">
Passei dez meses trabalhando na Biblioteca Pública do Paraná, na Divisão de Difusão Cultural, num período de transição muito bacana. A BPP deixou de ser apenas um prédio marcante no centro de Curitiba com milhares de livros para se tornar um ponto de cultura importante da capital, tudo isso sob o comando do jornalista Rogério Pereira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma das realizações importantes foi a criação do <b>jornal Cândido</b>, hoje já conhecido no Brasil todo. A fim de fazer uma mini retrospectiva, e aproveitando que agora todas as edições estão <a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/" target="_blank">disponíveis no site do jornal</a>, listo abaixo a minha contribuição para o projeto. Todos os textos foram editados pelo jornalista Luiz Rebinski Jr, editor do jornal. Sem essa edição, os textos não seriam metade do que são.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBKcRvRHYFQKQK2rM3NmrVqeA4j-2K4n9De_D4I0v4fTra3o9NAJdvG57Hmlw1XuE-8ng-J-I7SHCLVBIzdBJc735J5Za5pQqhWMwcIn6LNrtYomcaOlXZHwRXxIEiLgLK8I8kueqaFS1E/s1600/candido.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBKcRvRHYFQKQK2rM3NmrVqeA4j-2K4n9De_D4I0v4fTra3o9NAJdvG57Hmlw1XuE-8ng-J-I7SHCLVBIzdBJc735J5Za5pQqhWMwcIn6LNrtYomcaOlXZHwRXxIEiLgLK8I8kueqaFS1E/s1600/candido.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nº 1 - Agosto 2011</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=284" target="_blank"><b>Entrevista com Miguel Sanches Neto: “Escrever é tirar um osso da garganta” (por Guilherme Sobota e Yasmin Taketani)</b></a></u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>“Na verdade, todo livro é um fracasso. Alguns são grandes fracassos. Do ponto de vista do escritor, o livro escrito está sempre aquém do livro imaginado. Então, quando vêm as críticas negativas, embora machuquem, elas são afagos perto das críticas interiores que fazemos. O escritor é um ser fadado a essa insatisfação crônica, que o leva a experimentar-se sempre. Aliás, todo bom livro é um livro experimental, na medida em que tentamos dizer algo pela primeira vez.”</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nº 2 - Setembro 2011</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=269" target="_blank"><b>Livros novos, novamente</b></a></u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Dos 18 mil livros emprestados por mês nos balcões da Biblioteca Pública do Paraná, mais de 250 vão parar nas mãos de nove técnicos, que têm a missão de tornar os livros utilizáveis novamente</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=273" target="_blank"><b>Bueno também deixou sua marca no jornalismo</b></a></u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Nicolau, jornal editado por Wilson Bueno entre as décadas de 1980 e 1990, agitou a cena literária brasileira, alcançou tiragens enormes, ganhou diversos prêmios, fez carreira internacional e ainda hoje tem seu nome indissociavelmente ligado à figura de seu editor</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nº 3 - Outubro 2011</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=258" target="_blank"><b>A hora e vez dos vampiros</b></a></u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Gênero sem tradição no Brasil, a literatura de fantasia tem conquistado milhares de fãs e seus autores, best-sellers nacionais, incutido o prazer da leitura em adolescentes e jovens</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nº 4 - Novembro 2011</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=217" target="_blank"><b>Entrevista com Sérgio Rodrigues: Dos dois lados do balcão</b></a></u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Escritor e crítico, Sérgio Rodrigues fala sobre a democratização da “conversa” literária na internet, onde se tornou referência com seu blog Todoprosa, e da rotina de um leitor profissional que tem a difícil tarefa de comentar a cena literária da qual faz parte </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br />
</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>“Não se pode reduzir a crítica literária à “crítica de rodapé”. Esta é um fenômeno do século XX, certo, e tem tanto a ver com a história da literatura quanto com a história do jornalismo — mais até com esta, imagino. Mas a crítica literária existia antes disso e continuou a existir depois. Qualquer texto, seja jornalístico, acadêmico, ensaístico, blogueiro ou o que for, que dê uma contribuição inteligente, bem informada e original à leitura de uma obra literária, é um texto de crítica literária.”</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nº 5 - Dezembro 2011</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=202" target="_blank"><b>Entrevista com Michel Laub: “Não há como melhorar a escrita sem ser um bom leitor”</b></a></u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Um dos autores mais talentosos de sua geração, Michel Laub também tem se destacado comandando disputadas oficinas de criação literária </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br />
</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>“Tudo interessa: ideias, linguagem, ritmo narrativo, história (ou falta de história). Cada escritor opera de um jeito. Tenho a sensação de que meu último livro, Diário da queda, vale mais pelas ideias e a história do que pela linguagem em si. Mas ele não deixa de ter um trabalho até que bastante elaborado de linguagem (custou meses e meses de chateação, posso garantir).”</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=208" target="_blank"><b>As marcas de Karam</b></a></u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Dono de uma prosa experimental, pautada pelo humor e situações absurdas, Manoel Carlos Karam também deixou marcas no teatro e na imprensa paranaense</i></div>
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<br /></div>
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<b>Nº 7 - Fevereiro 2012</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=183" target="_blank"><b>O poder das capas</b></a></u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Mais do que simples detalhe, capas e projetos gráficos são objeto de fetiche para muitos leitores e podem determinar o sucesso de um livro</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nº 8 - Março 2012</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=146" target="_blank"><b>Os experimentais</b></a></u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>As obras de Manoel Carlos Karam, Jamil Snege, Wilson Bueno e Valêncio Xavier tinham pouca conexão entre si, mas estavam ligadas a um traço marcante da literatura curitibana: o gosto pela experimentação </i></div>
<br />
<br />Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-33752109215308770182013-01-04T14:20:00.002-02:002013-01-04T14:20:47.923-02:00Wilson, Daniel Clowes<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>1.</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiD45T0dBjgnMXboPaOiHr3wxwNvyR_C3gQnh1AGzXd3LvJ5mdr9GkJZxTMvaj42c7SDdoxPXX0Xf0Lc0-yzGHA_OcXqvx84It3kWi3i9cao2DiuF1xmyD_V4ZjcxC6cLETHG-_bCMRafR/s1600/wilson.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiD45T0dBjgnMXboPaOiHr3wxwNvyR_C3gQnh1AGzXd3LvJ5mdr9GkJZxTMvaj42c7SDdoxPXX0Xf0Lc0-yzGHA_OcXqvx84It3kWi3i9cao2DiuF1xmyD_V4ZjcxC6cLETHG-_bCMRafR/s1600/wilson.jpg" height="200" width="147" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O ponto alto da HQ <b>Wilson</b> (<b>Daniel Clowes</b>, Quadrinhos na Cia., 2012) foi um acidente. As mudanças de forma (no traço, nas cores, na própria representação do desenho) saltam aos olhos numa época em que o narrador - qualquer narrador - está sempre sob vigilância. Mudar o registro seria (ou foi) uma forma de andar na linha que separa a genialidade da eficiência, tendendo para a primeira. Saber que isso foi um acidente faz tudo cair na segunda.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>2.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque sem dúvida Wilson é eficiente: conta uma história interessante, de um personagem marcante, tem seus momentos tristes e momentos engraçados, e um final arrebatador. Além de tudo isso, a mudança de registro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>3.</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Wilson começa <b>realista</b>: o registro é o registro de Clowes para uma pessoa normal, digamos, proporcional, praticamente fotográfico. Ele estranhamente começa dizendo “Eu amo as pessoas!”. As páginas são capítulos e são tiras independentes, que juntas formam uma história maior (o que chamam de <b>graphic novel</b>). Nesse mesmo capítulo, após uma mulher falar muito sobre um problema no computador, Wilson conclui: “Meu deus, por que você não cala essa boca?”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDsTJp-eCKxVYkfThofFLHGxFIgXp5zINkAlUNb0PZUe3GsJ8iuVyeMI_YReTHfX3yfwPgQMmK4jSDD1wnZgu4u-bcsfzoTfx4CznZU0ZTpCco0i83ZUjbJuI4Oq1YccyouMU4Nt5YxYop/s1600/65043_0003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDsTJp-eCKxVYkfThofFLHGxFIgXp5zINkAlUNb0PZUe3GsJ8iuVyeMI_YReTHfX3yfwPgQMmK4jSDD1wnZgu4u-bcsfzoTfx4CznZU0ZTpCco0i83ZUjbJuI4Oq1YccyouMU4Nt5YxYop/s1600/65043_0003.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Capítulo 1 (<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/65043.pdf" target="_blank">Trecho disponível no site da Companhia das Letras</a>)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>4.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
No capítulo seguinte, o registro muda. Agora, Wilson é uma pessoinha caricata, que parece menor, num traço bem mais <b>fantasioso</b>. Claramente, um desenho do mesmo Wilson da página anterior. Agora, o personagem nos fala: ei, vejam bem, eu sou um quadrinho. Nesse capítulo, ele começa pessimista, termina pessimista.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN3DGvWIjXUDEb0zDlbmUEtkiQQrJrMtausW9AGJD516NUGj_Wv1QIVETHbSOuN6xSz2MHpSOc6W1QGCMTSJtJD9IL9gjvMzIVOOhv2C0pNTvLCv4j09yYYzwrEIVOlXGsEeUB6JSbLEV2/s1600/65043_0004.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN3DGvWIjXUDEb0zDlbmUEtkiQQrJrMtausW9AGJD516NUGj_Wv1QIVETHbSOuN6xSz2MHpSOc6W1QGCMTSJtJD9IL9gjvMzIVOOhv2C0pNTvLCv4j09yYYzwrEIVOlXGsEeUB6JSbLEV2/s1600/65043_0004.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Capítulo 2 (<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/65043.pdf" target="_blank">Trecho disponível no site da Companhia das Letras</a>)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>5.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Na próxima página, o registro muda novamente. Agora, há uma cor dominante e o traço é novamente realista, embora isso não seja regular; há uma mistura de registros em alguma medida não mensurável. De alguma forma, isso fragiliza o que seria uma sacada genial: foi <b>aleatório</b>. <a href="http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/02/20/daniel-clowes-e-a-genese-de-wilson/" target="_blank">Nesta entrevista para a Folha de S. Paulo</a>, o autor diz que fez assim “<i>porque isso meio que replicava o sentimento que você tem quando pensa em si mesmo em determinado dia. Num dia, você se vê sob uma luz negativa; no outro, de outra maneira, numa visão que segue o seu humor. Quis capturar algo sobre a maneira como nos vemos no mundo</i>”. Mas ainda fica aquela coisa: uma ideia tão boa poderia ser usada de maneira muito mais adequada, mais poderosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB8keuvHzXX7zd8UNU9yL_XyD2qOHTnGfeg_Uoz9UJ42miY1Nck1KZ4fkC4yy4YiOPUjFw0hZwut3n00is38qD0D7oxdiHsuKXqzjlvtEpZWJchisR-b5G4NDXi7DJeDGlwY2X4VyauxL1/s1600/65043_0005.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB8keuvHzXX7zd8UNU9yL_XyD2qOHTnGfeg_Uoz9UJ42miY1Nck1KZ4fkC4yy4YiOPUjFw0hZwut3n00is38qD0D7oxdiHsuKXqzjlvtEpZWJchisR-b5G4NDXi7DJeDGlwY2X4VyauxL1/s1600/65043_0005.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Capítulo 3 (<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/65043.pdf" target="_blank">Trecho disponível no site da Companhia das Letras</a>)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<b>6.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Em mais de um lugar por aí eu li, mas não é muito difícil fazer a inferência (é só olhar bem o retrato da capa): embora Wilson seja da Califórnia, a semelhança física e humorística com Woody Allen é qualquer coisa significativa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>7.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Resumindo, a história é de um personagem que passa o tempo todo tentando recompor <b>laços afetivos</b>, ou, quando coerente, lembrando-se deles (em, por exemplo, “Mãe” e “Casamento”, dois dos mais comoventes capítulos da história). Some-se isso a uma personalidade pessimista, mordaz e cara-de-pau, já dá pra ter uma ideia do personagem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIZ2Zq33KSCqHob0-VFwMPFJpgcwxVEhVPNd_OsmsQLDNxLJf-6trzHROZCdgl7QGlM3O3-7ouo7aAyryLzq60eBm1GDmoX59yoKNt07yKLFzWyyLtThTSF5PweQgZDPpUeS7E3oFCCGX/s1600/daniel+clowes+%2528the+observer%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIZ2Zq33KSCqHob0-VFwMPFJpgcwxVEhVPNd_OsmsQLDNxLJf-6trzHROZCdgl7QGlM3O3-7ouo7aAyryLzq60eBm1GDmoX59yoKNt07yKLFzWyyLtThTSF5PweQgZDPpUeS7E3oFCCGX/s1600/daniel+clowes+%2528the+observer%2529.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Daniel Clowes (<a href="http://www.guardian.co.uk/global/2010/jun/13/daniel-clowes-interview" target="_blank">Foto The Observer</a>)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>8.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
A (auto)<b>ironia</b> é uma arma eficiente da ficção norte-americana. Woody Allen, ora. Tão presente que um <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/12/ficando-longe-do-fato-de-ja-estar-meio.html" target="_blank">grupo de escritores</a> compôs um movimento para negar a ironia do sistema cultural daquele país, por acreditar em outros caminhos. De qualquer forma, Wilson está bem inserido naquele primeiro grupo. As sacadas ácidas e o humor pessimista e contundente fazem a HQ valer a leitura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Wilson</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Daniel Clowes</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Érico Assis</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=65043" target="_blank">Quadrinhos na Cia (2012)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
80 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$39,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWvydxh7fBPaDivDq4H0Gx1T2ECnRMHBN4SUiiFIYo0-puaUvd6qhIgb2JALXOeAwhN0IdRwi9KJgfwUFaozOM5k7eQjr-DtjKHp8DCok3WiYTFDJkGOiaSfgV2JiCjikFQIWnW-aZVl2N/s1600/12652_gg.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWvydxh7fBPaDivDq4H0Gx1T2ECnRMHBN4SUiiFIYo0-puaUvd6qhIgb2JALXOeAwhN0IdRwi9KJgfwUFaozOM5k7eQjr-DtjKHp8DCok3WiYTFDJkGOiaSfgV2JiCjikFQIWnW-aZVl2N/s1600/12652_gg.jpg" height="200" width="138" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Zuckerman acorrentado</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Philip Roth</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Alexandre Hubner</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12652" target="_blank">Companhia das Letras (2011)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
552 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: 49,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quer um personagem norte-americano mais marcante do que esse?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-19963742235514892172012-12-27T14:28:00.000-02:002012-12-27T14:28:33.799-02:00Enquanto água, Altair Martins<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiWIZWXkMyHsfRmYBfdBUNz2B52LR2RXu-5gOzQGfxgrvb2cD2wT0oEZuaDTxtEzXyQAweKQ0z04Dl0AhTAbq-Lgz4tLpJ5tvvhD_HBMnmSDzTFBIRBLW6duLyih_uLzWjVDIUWBVutWid/s1600/enquantoagua.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiWIZWXkMyHsfRmYBfdBUNz2B52LR2RXu-5gOzQGfxgrvb2cD2wT0oEZuaDTxtEzXyQAweKQ0z04Dl0AhTAbq-Lgz4tLpJ5tvvhD_HBMnmSDzTFBIRBLW6duLyih_uLzWjVDIUWBVutWid/s1600/enquantoagua.jpg" height="200" width="128" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://rascunho.gazetadopovo.com.br/altair-martins/" target="_blank">No mais recente Paiol Literário</a>, aqui em Curitiba, <b>Altair Martins</b> (1975) disse: <i>“O narrador em terceira é perigosíssimo hoje. Porque é a pretensa verdade. É aquele narrador que pára e diz: “Fulano nascera…”. Não dá mais. Ninguém mais acredita nesse narrador que quer te convencer: “Eu tenho uma bagagem histórica sobre o personagem e agora vou mostrá-la”</i>.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Martins, que é doutorando em Letras pela UFRGS, já tem publicado quatro livros (<i>A parede no escuro</i>, romance de 2009, foi vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria autor estreante). O mais recente, a coletânea de contos <b>Enquanto água</b> (Record, 2011), é a reafirmação da frase do primeiro parágrafo. Em uma sucessão de contos, na maioria breves, Martins constrói uma obra cujo narrador está em <b>constante crise</b>: isso sem deixar de lado um grande talento para simplesmente contar uma história.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os 18 contos — alguns deles já publicados em revistas ou outras antologias <i>—</i> são divididos em quatro partes: “Chuva na cara”, “Depois da chuva”, “Garoa” e “Água com gás”, e as histórias encontram uma convergência dentro de cada divisão. Os contos da primeira parte são, quase todos, brilhantes. Em “dois afogados”, o narrador utiliza recursos ousados (como placas de trânsito e uma alternância de vozes) para criar uma história que vai muito além da própria narrativa. Lembrei, lendo, de uma passagem de <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/12/e-se-contorce-igual-um-dragaozinho.html" target="_blank">um livro de Luiz Felipe Leprevost</a> que se encaixa magicamente aqui: “Segui placas de contramão”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“homens de verdade” insere o tema da <b>homossexualidade</b> no livro narrando a história de jovens (crianças) cruéis. Um dos recursos utilizados nesses contos é o <b>final arrebatador</b>: quase sempre na última linha. Isso é muito difícil de ser bem realizado, e lembra, por exemplo, Cortazar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBR48ipYPCDbYx6-_TAeBzh6SR8nj5-eB7HdjPRQOk0bAnO6HzXeeCr3p3_oeq1PSi6uSWLrR0rvJsGQfFGgf5K5CfIIouszDPAOAEzo24mcKSVZ7E7XqlEuNSnN0nuXSUvtZ_KIbxhop5/s1600/altairmartins.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBR48ipYPCDbYx6-_TAeBzh6SR8nj5-eB7HdjPRQOk0bAnO6HzXeeCr3p3_oeq1PSi6uSWLrR0rvJsGQfFGgf5K5CfIIouszDPAOAEzo24mcKSVZ7E7XqlEuNSnN0nuXSUvtZ_KIbxhop5/s1600/altairmartins.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Altair Martins<br />(Divulgação Record)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
A segunda parte, com apenas um conto, simboliza uma ficção um pouco diferente. Se é comum vermos uma linhagem que utiliza a própria literatura como artifício (da qual sou fã, assim como Altair Martins, pelo que parece; cito Enrique Vila-Matas como exemplo), Martins utiliza o conhecimento teórico da área de humanas para produzir um Mal de Montano às avessas: o personagem parece enlouquecido pelo próprio <b>excesso de conhecimento</b> (aparecem teorias de Peirce, Langmuir, Lévi-Strauss, Lacan, Borges, e outros).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A terceira sessão, “garoa”, guarda eco exatamente de Borges: uma metafísica aplicada que pretende criar um mundo particular, com elementos que pedem uma segunda olhada, e que te faz dizer: “é isso mesmo?”. Por exemplo, no conto “quase oceano quase vômito”:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Aquele rio não aceitaria assim tão fácil. Dominava um continente e um pátio no oceano. E quando amanheceu completamente água, e nu, como se nascendo, não houve quem não se espantasse. Era o primeiro dos tantos rios que, sem explicação, voltavam à limpidez original. Eram rios tão puros que os leitos podiam ser lidos”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A quarta sessão, “Água com gás”, mostra todo o talento do escritor ao praticamente fazer um resumo do livro: histórias interessantes com estruturas bem pensadas e nunca tradicionais. No conto “o mar, no living” (título de um poema de Carlos Drummond de Andrade, que dá a seguinte epígrafe: “o mar tudo recobre / sem nada asfixiar”), o próprio mar, isto é, a água invade o ambiente de uma festa de aniversário infantil:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“E então, mal a vela se acende, o mar entra no living, atravessando os vidros e ocupando, com azul e fauna, os espaços da fest. E posto seja mar e se comunique com o oceano, ele surpreende em ser tudo menos violento, e não apaga vela ou palma. Apenas que a festa segue, percebida pelos sentidos abafados. É a luz de uma vela sob o mar. É um parabéns afogado. São raízes da fumaça dentro d’água”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É exatamente a <b>água</b> o ponto chave desse livro (claro): a água, que às vezes aparece apenas como rio, mar ou chuva, mas muitas vezes como metáfora de sentimentos tão humanos como a esperança, a saudade, o arrependimento, a traição e, em última instância, a morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro aspecto importante na obra de Martins, segundo o próprio, é o engajamento. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“<i>[A literatura] deve mostrar que existe uma pretensão de realidade, muito falsa, produzida às vezes pela mídia. Existe um Brasil da televisão e existe o Brasil real. Então, a função da literatura é esta: de alguma maneira corroer a verdade que pretende ser verdadeira. Por isso o engajamento. O escritor não pode deixar de mostrar que essa realidade é falsa e mostrar uma outra realidade possível — que, ao meu ver, só a literatura vai mostrar.</i>”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando uma mulher enfrenta dificuldades com o marido alcoólatra e tenta fugir com o pastor da igreja; quando um homem muito religioso, esmagado por uma culpa muito grande, se vê incumbido de cuidar de duas filhas e percebe que não é capaz; quando uma mera brincadeira doméstica vira tragédia. Pequenos exemplos do engajamento de Martins: sempre recoberto por uma camada de excelente prosa ficcional, percebe-se um texto preocupado com o lugar que a própria <b>literatura</b> pode ocupar em uma sociedade de <b>não-leitores</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Trecho do conto “unha e carne”, que narra a relação de Irene (mãe), Luciana (filha) e Jorge (padrasto):</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Luciana pediu café. Antes que Irene se rendesse e lhe pedisse para não acreditar nas coisas que ouvia, a filha arranjou modos de olhar o relógio, inquietar os cabelos, atirar os olhos aos cantos e dizer que tinha de ir, senão chegaria atrasada ao trabalho. Irene, ao portão, sentia então que mais coisas ficariam à espera da água. A filha ainda disse Não precisa ir se não quiser. Mas Irene sabia, desde que Luciana fora morar sozinha, que aquilo tudo entre a filha e Jorge era como a louça. Não precisava lavar se não quisesse.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Enquanto água</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Altair Martins</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=25919" target="_blank">Record (2011)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
160 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$27,90</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
No vídeo abaixo, Reginaldo Pujol Filho e Altair Martins fazem uma divertida leitura do conto "Quero ser Altair Martins", do livro <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/10/quero-ser-reginaldo-pujol-filho.html" target="_blank">Quero ser Reginaldo Pujol Filho, já resenhado por aqui</a>.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/eNRdvG8RU28?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
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Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGg44wiQFivWyGKwxwAER1ROR19F3u464muybLhW1HmTlSI8Ql1rwarx_AmKUyL3MditmPYNlij5WsFWHTX4yfxLY_anDaaX9CmeBcVvp1P0n6RO08m37-Izv77r_1R35fK1pqg42h-dgE/s1600/suicidios_g.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGg44wiQFivWyGKwxwAER1ROR19F3u464muybLhW1HmTlSI8Ql1rwarx_AmKUyL3MditmPYNlij5WsFWHTX4yfxLY_anDaaX9CmeBcVvp1P0n6RO08m37-Izv77r_1R35fK1pqg42h-dgE/s1600/suicidios_g.jpg" height="200" width="136" /></a></div>
<b>Suicídios exemplares</b><br />
Enrique Vila-Matas<br />
Tradução: Carla Branco<br />
<a href="http://editora.cosacnaify.com.br/Loja/PaginaLivro/10878/Suic%C3%ADdios-exemplares.aspx" target="_blank">Cosac Naify (2011)</a><br />
208 páginas<br />
Preço sugerido: R$49,00<br />
<br />
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-62475814221519472062012-12-19T11:36:00.001-02:002012-12-19T11:36:45.860-02:00A máquina de madeira, Miguel Sanches Neto<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibO7_M5-eDLCzJRkIrtiN_FXVZQYzC1DKF5hwHzH_W7Em9utHeDxypb_OSzfEe_Ak85ACMXLknmOCcihkhFyu7iqqrz6NwIwFexxJHzvC729k5xS1wx2LGCA5e2S-1Y3-t0wu3E5zoHVpC/s1600/amdm-msn.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibO7_M5-eDLCzJRkIrtiN_FXVZQYzC1DKF5hwHzH_W7Em9utHeDxypb_OSzfEe_Ak85ACMXLknmOCcihkhFyu7iqqrz6NwIwFexxJHzvC729k5xS1wx2LGCA5e2S-1Y3-t0wu3E5zoHVpC/s1600/amdm-msn.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O Brasil existe? Essa parece ser a pergunta que ocupa <b><i>A máquina de madeira</i></b> (Companhia das Letras, 2012), romance mais recente de <b>Miguel Sanches Neto</b> (1965). Como o próprio diz, esse é um romance de um país <b>antigo e atual</b>. É verdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A classificação de romance histórico é inevitável: o livro conta a história de <b>Francisco João de Azevedo</b> (1814-1880), padre e inventor brasileiro que teria desenvolvido a primeira <b>máquina de escrever</b> do mundo (pelo menos, capaz de ser produzida em escala industrial). Francisco existiu de fato, assim como sua invenção e como boa parte da história desse livro. Isso é importante na medida em que reconhecemos o extenso trabalho de pesquisa do autor; desimportante se alguém quiser considerar onde começa e onde termina a ficção. Porque <i>A máquina de madeira</i> é um romance histórico, ambientado especialmente no Rio de Janeiro (mas também no nordeste), que conta a história de um brasileiro empreendedor habitante de um país, ele sim, de madeira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque é a essa conclusão que se chega durante a leitura do romance: a <b>máquina de madeira é o próprio Brasil</b>. O século XIX brasileiro é no mínimo conturbado, e talvez toda a movimentação política interna do século tenha fechado os olhos do país (ou de seus dirigentes mais importantes) para a questão do progresso material (sempre duvidosa, mas, naquela altura, obviamente necessária). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Não há indústria mais necessária para o país, pensava dom Pedro, do que a de beneficiamento de madeira. Nossas madeiras, tanto pela variedade quanto pela qualidade, se sobrepõem às de outros países. Se nosso próprio nome vem de uma madeira, são as árvores o que melhor nos representam”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não houve uma política marcante de desenvolvimento econômico sólido. Antes, a importação em massa de (falo com base no romance) <b>ferro</b>. Porque, aparentemente, era isso que era necessário para o país crescer (ser um país de verdade): ferro. Poderíamos resumir assim: o romance trata da história do padre Francisco buscando alguém que possa fundir a sua máquina de madeira. Ou: o romance trata de uma metonímia da história do Brasil buscando ferro em outros lugares para fundamentar a sua própria unidade como país. Ambas as descrições estariam corretas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7B2xGxMFPEyTenH9NNhjBnPV_wS2lAp1Yc6SuSLHCRgYed7aMTHO_j325Y3DX_YqUhXumukBLudJwPSs1F50JPG5Dy4ObkpqCcbswqV4HP9YDj4Y9GaNnhobaY78aTMOSPKEuMyCiDYcI/s1600/msn-divulg..jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7B2xGxMFPEyTenH9NNhjBnPV_wS2lAp1Yc6SuSLHCRgYed7aMTHO_j325Y3DX_YqUhXumukBLudJwPSs1F50JPG5Dy4ObkpqCcbswqV4HP9YDj4Y9GaNnhobaY78aTMOSPKEuMyCiDYcI/s1600/msn-divulg..jpg" height="320" width="212" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Miguel Sanches Neto<br />(Divulgação Companhia das Letras)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
O romance é dividido em duas partes maiores, “Londres” e “Nova York”; ambas fugas fracassadas para as duas cidades, que supostamente acompanhariam a mente avançada de um brasileiro com olhos para o futuro. O narrador parece ser sempre aquela terceira pessoa distante, do próprio séc. XIX. Isso muda quando Sanches Neto insere no romance <b>variações estruturais</b> (ao usar diferenças tipográficas, como o itálico, ou formatações de notícias de jornal, por exemplo) que criam a dinâmica na leitura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O trabalho da própria <b>linguagem</b> também aparece: especialmente por sutis escolhas de vocabulário, um português não muito diferente, mas que remete ao séc. XIX, é usado para narrar a história (<a href="http://miguelsanches.com.br/autor/entrevistas_detalhes/64/um_analogico_contemporaneo" target="_blank">o autor falou sobre isso numa entrevista, clique aqui</a>; ele disse que se apropriou da linguagem de diários e anotações pessoais da época para criar um idioma mais próximo, mas não oficialiesco, alencariano).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em outra interpretação da história, também podemos ressaltar o papel secundário que a máquina ocupa, paradoxalmente. Depois de sua invenção, é urgente encontrar para ela alguma <b>utilidade</b>, algo que a justifique, que a exima da culpa de ter nascido para escrever num país não desenvolvido. Gravar sermões nas igrejas e depois as discussões na Assembleia Estadual de Pernambuco não foram suficientes para reverter o papel secundário da escrita na própria história do Brasil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez, agora percebemos, essa luta já seja <b>ultrapassada</b>. Talvez a necessidade seja, atualmente, reconhecer esse próprio <b>caráter secundário</b> da escritura, e com ele fazer alguma coisa. Trabalhamos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A máquina de madeira</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Miguel Sanches Neto</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=13437" target="_blank">Companhia das Letras (2012)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
248 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$36,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Se temos madeira, também temos cupim, muito cupim, com uma voracidade que só os insetos tropicais sabem ter, e também com uma assustadora capacidade de reprodução. [...]Nos trópicos, tudo estragava muito mais rápido. Tudo envelhecia de maneira muito mais veloz. Ele mesmo, que não tinha ainda quarenta anos, já se sentia um ancião. Nem se fôssemos feitos de ferro suportaríamos a vida aqui, e no entanto somos feitos de madeira”.</blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
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<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQLVZRs8s2CHktz_odVORBJzk_w36AbrI0S_vaGXn_EbOmicNv0teSyIGbkI18_Bo_UAPjXfWwmiEZAr1TUyElaaHxWE_ioKS1HlvUerJhMrAr3H_wZ6rXBm-692Q5qGX17UN48bCDqynQ/s1600/vopb.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQLVZRs8s2CHktz_odVORBJzk_w36AbrI0S_vaGXn_EbOmicNv0teSyIGbkI18_Bo_UAPjXfWwmiEZAr1TUyElaaHxWE_ioKS1HlvUerJhMrAr3H_wZ6rXBm-692Q5qGX17UN48bCDqynQ/s1600/vopb.jpg" height="200" width="128" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Viva o povo brasileiro</b></div>
<div style="text-align: justify;">
João Ubaldo Ribeiro</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.objetiva.com.br/livro_ficha.php?id=678" target="_blank">Alfaguara (2008; 1984)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
640 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$69,90</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Obrigatório.</div>
<br />
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-12481994076366948252012-12-12T16:35:00.000-02:002012-12-12T16:35:50.668-02:00E se contorce igual a um dragãozinho ferido, Luiz Felipe Leprevost<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk5eBGSTlOpD3gt5K_KQQn6BI1HQQgC8K51dkeatcP1EpbH9-3eWFqPvbJv7_pFNU9mgc-wKQQkbFFJOHogSt99sgdOP3l2XpOs1y_uIQW4FpCHh8av-_sUf9iDZ7TczXz-l5FAE00RcdN/s1600/Capa+Drag%25C3%25A3ozinho.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk5eBGSTlOpD3gt5K_KQQn6BI1HQQgC8K51dkeatcP1EpbH9-3eWFqPvbJv7_pFNU9mgc-wKQQkbFFJOHogSt99sgdOP3l2XpOs1y_uIQW4FpCHh8av-_sUf9iDZ7TczXz-l5FAE00RcdN/s1600/Capa+Drag%25C3%25A3ozinho.jpg" height="200" width="140" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Como foi <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/11/aquela-agua-toda-joao-anzanello.html" target="_blank">dito por aqui</a> há algum tempo, achar o equilíbrio numa narrativa ao misturá-la com poesia pode ser um processo <b>arriscado</b>: cair na pieguice e usar imagens desnecessárias é um risco constante, e saber se esse risco é necessário também é outra questão. Porém, quando o escritor consegue juntar seu talento poético e metafórico numa narrativa prosaica, o resultado é sempre <b>recompensador</b>. Essa proposta foi bem cumprida pelo escritor curitibano <b>Luiz Felipe Leprevost</b> no seu livro mais recente, <b>E se contorce igual a um dragãozinho ferido</b> (Ed. Arte e Letra, 2011).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Leprevost tem trânsito: em Curitiba e no Rio de Janeiro, ele compôs uma obra artística que extrapola os limites da literatura (são pelo menos três livros de contos, um de poesia, e uma novela), alcança a dramaturgia e, especialmente, a <b>música</b>. A ponto de ele chegar a declarar em redes sociais que “não sabe mais o que é literatura”. A parte a brincadeira, de fato nos últimos meses ele se dedicou bastante à sua carreira musical, da qual já saíram músicas muito bonitas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esse talento poético para a composição inevitavelmente seria refletido na sua escritura: <i>E se contorce...</i> encontra paralelo temático, por exemplo, na seguinte canção (que nasceu de um poema seu; é ele quem canta a versão abaixo):</div>
<br />
<iframe frameborder="no" height="166" scrolling="no" src="https://w.soundcloud.com/player/?url=http%3A%2F%2Fapi.soundcloud.com%2Ftracks%2F63840090" width="100%"></iframe><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/08/principio-do-conto-como-poesia-marcou.html" target="_blank">Segundo o próprio afirmou na última edição do Festival Nacional do Conto</a>, ele primeiro encontrou em si mesmo uma voz poética, para em seguida encontrar a narrativa dentro da própria poesia. Isso explica o frequente uso de imagens metafóricas, característica desse livro (e de toda a prosa do autor), narrado pelo próprio personagem, em duas estruturas: uma delas em Curitiba, supostamente no presente, a outra no Rio, “cinco anos” atrás.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“<i>Um dia, quando vi, meus braços tinham sido transformados em tentáculos de polvo, querendo abraçar sua ausência. Lembrei por tanto tempo a pele e a bocarra dela como as de um crocodilo que ficava ao meu lado um pouco e sumia. Minhas mãos em pinças, patolas de caranguejo, não a impediam de partir.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Nossa ternura era feita de garras, não de dedos. De chicotes, não línguas. Camisas de força, não abraços. Chave e fechadura.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Mas deixa eu contar do começo.</i>”</div>
</blockquote>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBiC3T-E1opa8g9PFoWsKYpVxL_HcjJcv4fdUGzy7wJsUvrTO4AAEN0d7HyhsSlYVAXFYcfqrMKnB5lBm_Xyaim9Epac4xDGdBa-5R8_LOGLRx-WBkw7_4iG2LxiKDNeFVBTbwLAhOeu8u/s1600/Luiz_Felipe_Leprevost+por+Marco+Novack1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBiC3T-E1opa8g9PFoWsKYpVxL_HcjJcv4fdUGzy7wJsUvrTO4AAEN0d7HyhsSlYVAXFYcfqrMKnB5lBm_Xyaim9Epac4xDGdBa-5R8_LOGLRx-WBkw7_4iG2LxiKDNeFVBTbwLAhOeu8u/s1600/Luiz_Felipe_Leprevost+por+Marco+Novack1.jpg" height="320" width="212" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Luiz Felipe Leprevost<br />Foto: Marco Novack</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Descobrir quem é esse personagem talvez seja uma investigação interessante. O suposto publicitário curitibano vai tentar a sorte no Rio de Janeiro, no mundo empresarial da propaganda, e acaba vivendo uma vida provisória em quartos alugados, poucos amigos e, claro, o fio condutor da história, um <b>amor</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas o que descobrimos ao ler essa narrativa é que o narrador é, na verdade, um poeta frustrado. Ele diz algumas vezes que escreve uns poemas, mas o maior poema que ele escreve é na verdade aquele que estamos lendo. E isso é tudo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Ela me perturbava. Eu que tinha colecionado medalhas de atleta e amores doídos ao longo da vida, que no passado aparei os cabelos da chuva, queria agora protagonizar o filme de açúcar cristalizado que em sua mente trepidava.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sobre a história (e não se preocupe, você descobre isso logo no início), o amor é na verdade um <b>desamor</b>, um não-amor, um processo lento e extremamente doloroso de um amor acabando (“ternura feita de garras, não de dedos”). O amor acaba em todos os lugares, como disse Paulo Mendes Campos, e esse livro aqui é um tratado sobre o finalmente do amor. A distância entre o Rio de Janeiro e Curitiba (simbolicamente, a distância entre o casal de personagens) também é importante aqui: transformá-la em apenas uma linha de texto é o que tenta fazer (e consegue) o narrador.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E é esse personagem que passa pelo processo de <b>desconstrução</b> o grande trunfo do livro. Descobrir e entender por que isso acontece é a tarefa do leitor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>E se contorce igual a um dragãozinho ferido</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Luiz Felipe Leprevost</div>
<div style="text-align: justify;">
Arte e Letra (2011)</div>
<div style="text-align: justify;">
119 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$25,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrz-tHFGrFhiQ_MO5b8LNlUH0c9wYAFjjFK0LLDMlBRkDm22YqRlwlaKPddRZjtukyT115PintcoGxVYhdVbOHhB8kStkgKD158dOuMnEcxxUcXQ84v6MdzCmJST9mohICa0VZs5xAv9qm/s1600/UM_ERRO_EMOCIONAL.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrz-tHFGrFhiQ_MO5b8LNlUH0c9wYAFjjFK0LLDMlBRkDm22YqRlwlaKPddRZjtukyT115PintcoGxVYhdVbOHhB8kStkgKD158dOuMnEcxxUcXQ84v6MdzCmJST9mohICa0VZs5xAv9qm/s1600/UM_ERRO_EMOCIONAL.jpg" height="200" width="134" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Um erro emocional</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Cristovão Tezza</div>
<div style="text-align: justify;">
Record (2010)</div>
<div style="text-align: justify;">
192 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$34,90</div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-90426506994404573092012-12-07T16:45:00.000-02:002012-12-07T16:45:08.066-02:00O filho de mil homens, Valter Hugo Mãe<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_0cRVQPHUFYSAPuiaYqA0R7r5uroaEtjp_VVVHGLjBeirDdRSMEbIzWbJHEC4VUHw2OXFae7bH1v7KwtYTMR1x_cNC5Cq9P-MJsO5bnjWUMelkARwNObspDdsIbbHOrvyyroWfBERICGk/s1600/O-filho-de-mil-homens.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_0cRVQPHUFYSAPuiaYqA0R7r5uroaEtjp_VVVHGLjBeirDdRSMEbIzWbJHEC4VUHw2OXFae7bH1v7KwtYTMR1x_cNC5Cq9P-MJsO5bnjWUMelkARwNObspDdsIbbHOrvyyroWfBERICGk/s1600/O-filho-de-mil-homens.png" height="320" width="195" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Valter Hugo Mãe</b> (assim mesmo, com maiúsculas) levou o prêmio Portugal Telecom 2012 por <i>a máquina de fazer espanhóis </i>(Cosac Naify, 2011), merecidíssimo. O autor, angolano que vive em Portugal desde a infância, esteve no Brasil na FLIP 2011, fez tanto sucesso que acabou sendo o autor mais vendido daquela edição da Festa (justamente, o <i>máquina...</i>, que, naquela época, junto com <i>o remorso de baltazar serapião</i>, este publicado pela Editora 34, eram os seus únicos livros publicados por aqui).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele fez sucesso pela simpatia (hoje em dia, facilitador para qualquer artista), mas principalmente por um texto, uma <b>carta</b>. Se esse texto tiver sido uma jogada de marketing, foi, sem dúvida, a mais emocionante de todas. Mas acredito que não. Você mesmo pode decidir <a href="http://www.flip.org.br/noticias.php?id=668" target="_blank">lendo a carta aqui</a>, ou, principalmente, assistindo ao vídeo abaixo (são sete minutos, mas você não vai se arrepender, eu garanto):</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/euD46SXKaOc?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Seu romance mais recente, <b>O filho de mil homens</b> (Cosac Naify, 2012), pega o gancho daquilo que Mãe falou ali no final, de que tem quarenta anos e não tem filhos. Os primeiros parágrafos dão conta do que eu preciso falar sobre a história:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Estava sozinho, os seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Via-se metade ao espelho e achava tudo demasiado breve, precipitado, como se as coisas lhe fugissem, a esconderem-se para evitar a sua companhia. Via-se metade no espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e silêncios como os precipícios ou poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía.”</div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A partir daí, Valter Hugo Mãe escreve um romance emocionante que, à semelhança das telenovelas brasileiras, se divide em histórias de personagens diferentes aparentemente sem conexão. O que aparece diante do decorrer do livro é um <b>narrador seguro</b>, que costura diferentes narrativas com tranquilidade (esse é o seu quinto romance; ele já publicou mais de quinze livros de poesia, nenhum deles no Brasil, infelizmente, porque o seu pendor para a poesia é muito evidente nos romances; chega a ser quase <b>constrangedor</b>).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXHwySWx1btbxZTnTFNMhx3uUWkAEPrpBwYZinPR8vF99QPHwXVdICxLRTtFXx4HOotAQue9JVltCg8bLUm1JdLKWu_S_Edy65hFfamfhfZc6VCMX00hN_5RWYgw76TBfj7oVgVtHmhzf7/s1600/valter_hugo_mae.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXHwySWx1btbxZTnTFNMhx3uUWkAEPrpBwYZinPR8vF99QPHwXVdICxLRTtFXx4HOotAQue9JVltCg8bLUm1JdLKWu_S_Edy65hFfamfhfZc6VCMX00hN_5RWYgw76TBfj7oVgVtHmhzf7/s1600/valter_hugo_mae.jpg" height="200" width="164" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Vítor Quelhas</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Quem utiliza essa poesia na narração é um narrador que parece ser uma <b>memória coletiva</b>, memória esta que se veste exatamente de poesia. A linguagem criada por Mãe, também bastante presente nos outros livros, cria, por sua vez, um mundo muito particular. Um meio do caminho entre passado e presente, um <b>não-lugar</b> no espaço. O ficcionista atinge seu objetivo máximo, ao que parece, quando consegue equilibrar todos esses fatores; não dá pra exigir mais nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Entre alguns temas que passam pelo romance, há dois que se destacam: (1) a questão do “ser completo” e (2) a <b>homossexualidade</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
1. Desde os primeiros parágrafos essa busca está presente: para Crisóstomo (e para Mãe também, isso é muito claro) é urgente buscar algo que lhe <b>complete a vida</b>. A presença da morte é também muito forte nos livros, o que faz, ainda mais, essa busca pela totalidade da vida ser urgente. Às vezes, ainda, para os personagens deste livro, não basta ser completo, ser inteiro: há que se ser o dobro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
2. O tratamento que os personagens do romance (não necessariamente os principais, mas especialmente os vizinhos, os conhecidos) dispensam ao personagem <b>homossexual </b>(o narrador o chama, inicialmente, de “o homem maricas”, e depois descobre-se o seu nome, Antonino; essa mudança faz parte do próprio processo de incorporação do personagem), esse tratamento dá algumas dicas de que o romance está mais no passado do que no presente (embora, infeliz e tragicamente, alguns viventes ainda tenham comportamentos semelhantes). Falo da forma agressiva e preconceituosa que os personagens tratam Antonino especialmente na primeira metade do livro, ao considerá-lo, em uma só palavra, uma aberração. Além disso, a relação da mãe, que é uma das personagens antiquadas, digamos, com o filho é, inicialmente pelo menos, kafkiana. Esse relacionamento parece, em algum nível, com o relacionamento da mãe com Gregor Samsa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De qualquer forma, o tratamento que Valter Hugo Mãe dá a esse tema insere o romance, de uma vez por todas, no mundo contemporâneo (não vou entregar nada, mas esse tratamento <b>passa longe</b> de lugares comuns politicamente corretos, igualmente).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pegando do início, sabemos que esse é um livro sobre família. Mas não se engane. Como diz Silviano Santiago na orelha do livro, não há nada de tradicional aqui. Não há nada de comum na obra de Valter Hugo Mãe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O filho de mil homens</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Valter Hugo Mãe</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://editora.cosacnaify.com.br/ObraDadosTecnicos/11779/O-filho-de-mil-homens-.aspx" target="_blank">Cosac Naify (2012)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
256 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$39,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUZZ-k0n_D5ZC1BINgN5h2ROuY8W1Q1yc3fuse7P_jy5LaZSyAMbAZnYFG7_bnrvl82lA7VZGidEbDhqTzirYmRrEPFYEeO0PFBd3skgscz-Rd_gSolLhG0M-WDm6zByUU5wF-dQKxUhtY/s1600/ESTAFICA.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUZZ-k0n_D5ZC1BINgN5h2ROuY8W1Q1yc3fuse7P_jy5LaZSyAMbAZnYFG7_bnrvl82lA7VZGidEbDhqTzirYmRrEPFYEeO0PFBd3skgscz-Rd_gSolLhG0M-WDm6zByUU5wF-dQKxUhtY/s1600/ESTAFICA.JPG" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Está ficando tarde demais</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Antonio Tabbucchi</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Ana Lúcia Ramos Belardinelli</div>
<div style="text-align: justify;">
Rocco (2004)</div>
<div style="text-align: justify;">
196 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$30,50</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tabbucchi é outro especialista em criação de não-lugares; esse belíssimo romance epistolar também pode ser considerado como um tratado sobre a saudade.</div>
<br />Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-55451432165498128432012-12-01T15:47:00.001-02:002012-12-01T15:47:35.795-02:00Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo, David Foster Wallace<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ8lfTGeiasfAM33LOtW7VrRnlJDXUSmTB0q6irG7mRpT93I60BLiWzUJw2UXNRZsn5xD-KDnerlzi8sKJUQekv3H-cskOCiaiIUkLchMsKy_XxudGljGS7Bx70xEiDs7Q4MSEb8W1X2d2/s1600/dfw1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ8lfTGeiasfAM33LOtW7VrRnlJDXUSmTB0q6irG7mRpT93I60BLiWzUJw2UXNRZsn5xD-KDnerlzi8sKJUQekv3H-cskOCiaiIUkLchMsKy_XxudGljGS7Bx70xEiDs7Q4MSEb8W1X2d2/s1600/dfw1.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Desvincular a <b>experiência pós-moderna</b> da narrativa de <b>David Foster Wallace</b> (em algum estágio da sua obra, pelo menos) parece impossível. Ler alguns dos contos de <i>Brief interviews with hideous men</i> (lançado no Brasil pela Companhia das Letras; me refiro ao original neste texto porque só tive acesso a ele) é missão de especialista: <i>Datum centurio</i> por exemplo, é praticamente impenetrável.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, após a leitura de um artigo do professor <b>Caetano Galindo</b>¹ (especialista na obra de DFW), podemos dizer que <i>Brief interviews...</i> é um momento de transição na obra do escritor americano. Uma transição da experiência puramente pós-moderna de “narratividade” (que redundou nas suas produções iniciais) e a fase final do trabalho de Wallace, que remete, segundo Galindo, a uma negação de um <b>sistema irônico</b> inerente à cultura norteamericana no final do século XX.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esse sistema é para Wallace (de acordo com Galindo) uma postura ética que limita as possibilidades da escrita de ficção assim como as suas próprias contestações. Simplificando, é uma luta contra esse conformismo, contra essa aceitação passiva de fatores culturais que vai, enfim, “mover o futuro projeto ficcional de Wallace”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No artigo, Galindo reúne e faz uma reflexão sobre as próprias reflexões de Wallace em um ensaio entitulado <i>E unibus pluram</i>, que por alguma razão ficou fora de <i><b>Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo</b></i> (Companhia das Letras, 2012, trad.: Daniel Galera e Daniel Pellizzari). Naquele ensaio, Wallace fala da influência da TV no imaginário cultural norteamericano, especialmente do fator irônico autoconsciente que a TV impõe, fator também exercitado pela ficção escrita. Segundo Galindo,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“E o que David Foster Wallace parece ter vontade de "reabilitar" é precisamente uma literatura triste, emocional, sincera em sua relação ficcional com o leitor. Evitando os cutucões do cotovelo do ironista e as artimanhas dos narradores indignos de confiança, especialmente dedicados a tentar passar a perna nesse leitor. Urn leitor que tem como principal finalidade se juntar ao sorriso acre do autor que de tudo descrê e que apenas reafirma esse fato.”</div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0NAT_tBcqOj1ChepT_OZP3DQ19tQM0MPSfABuzUttXoFHy3XL7YlHwbJc0xM7y1p_Fp0OR1ljOFbp-0m6wMuuc6vQhs1PH5qxKgKUxbB1qh7JCzCz5C45klmV61LKLdU4z_Cu2LNyxg08/s1600/dfw3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0NAT_tBcqOj1ChepT_OZP3DQ19tQM0MPSfABuzUttXoFHy3XL7YlHwbJc0xM7y1p_Fp0OR1ljOFbp-0m6wMuuc6vQhs1PH5qxKgKUxbB1qh7JCzCz5C45klmV61LKLdU4z_Cu2LNyxg08/s1600/dfw3.jpg" height="320" width="149" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">(<a href="http://articles.latimes.com/2010/apr/11/entertainment/la-ca-david-lipsky11-2010apr11" target="_blank">Ilustração Brian Taylor,<br />Los Angeles Times</a>)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Em <i>Brief interviews...</i> essa “vontade” se faz bem clara em alguns contos (apesar do contínuo interesse pela estrutura em si da narrativa, característica tipicamente pós-moderna): o fato de DFW investir pesado em descrições às vezes intermináveis, e em notas de rodapé enormes, parece ter o intuito de justamente <b>aparar qualquer ponta de ironia</b> que tenha escapado ao texto. No mínimo, aquela ironia autoconsciente, propositada. Um bom exemplo é o célebre “The depressed person”:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“The word ‘pathetic’, the therapist candidly shared, often felt to her like a defense-mechanism the depressed person used to protect herself against a listener’s possible negative judgements by making it clear that the depressed person was already judging herself far more severely than any listener could possibly have the heart to. The therapist was careful to point out that she was not judging or critiquing or rejecting the depressed person’s use of ‘pathetic’ but was merely trying to openly and honestly share the feelings which its use brought up for her in the context of their relantionship.”</div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esse tipo de descrição de situações e sentimentos e trocas de experiências é marca fundamental da prosa de Wallace nesses dois livros em análise aqui. Na não-ficção, essa investigação parece levar alguma vantagem simplesmente pelo fato de ser, em alguma medida, mais engraçada, mais envolvente (sem nenhum juízo de valor aqui).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
¹<span style="font-size: x-small;">GALINDO, C.. <b>Um tipo americano de tristeza</b>: o próximo romance de David Foster Wallace e os próximos romances americanos DOI: 10.5007/2176-8552(0.7.2008)(125-138). outra travessia, UFSC , 7, 2009. Disponível em: <<a href="http://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/11984">http://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/11984</a>>. Acesso em: 01 Dez. 2012.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-znf0ThnRMuIc3GQbpW_3Ev3SESMebCN5VyqA-85t8akzUEV-NIc2VerK42woc3TAHX5hlw4lbPeNi9L0JXdoQrIfOxV8DozrRlsTWcGJtzvFy2HU3H39JojOb4Znp5cOiO9ZWqwOWZoK/s1600/dfw2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-znf0ThnRMuIc3GQbpW_3Ev3SESMebCN5VyqA-85t8akzUEV-NIc2VerK42woc3TAHX5hlw4lbPeNi9L0JXdoQrIfOxV8DozrRlsTWcGJtzvFy2HU3H39JojOb4Znp5cOiO9ZWqwOWZoK/s1600/dfw2.jpg" height="200" width="163" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">David Foster Wallace<br />(Foto: Flavorwire)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<i>Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo</i> é a primeira coletânea de não-ficção de David Foster Wallace lançada no Brasil, e o “Ensaios” estampado na capa é mais um facilitador editorial do que um indicador correto (fato corrigido pelo tradutor no prefácio). Pelo menos três dos seis textos totais são claramente <b>reportagens</b>: sim, com esse estilo e essa proposta estética muito pessoais, e com elementos que extravazam o jornalismo, mas ainda reportagens (me refiro, é claro, a <i>Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo</i>, <i>Uma coisa supostamente divertida que eu nunca mais vou fazer</i> e <i>Pense na lagosta</i>).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dos outros três está num espaço entre a reportagem e a pura <b>reflexão</b> (<i>Federer como experiência religiosa</i>, que, justamente por causa daquele estilo de descrições praticamente obsessivo, pode ser uma experiência realmente traumática para quem não tem um mínimo afeto pelo <b>tênis</b> como esporte). Uma palestra emocionante sobre o humor em Kafka e um discurso de paraninfo (que, aparente e superficialmente, esbarra num discurso de auto-ajuda com alto grau de ambição estética) completam a coleção.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No prefácio de Daniel Galera, ele explica por que <i>E unibus pluram</i> e outros ensaios importantes ficaram de fora: pela proposta editorial de trazer <b>textos introdutórios</b> da não-ficção de Wallace. Mas o ponto principal desse texto do Galera, com o qual eu concordo integralmente, é que a não-ficção de Wallace é <b>mais acessível</b> do que os seus contos, por exemplo, de <i>Brief interviews...</i> Mas não se engane: a mesma verborragia, o sarcasmo contumaz e as notas de rodapé enormes, fatores que entre outros caracterizam a voz narrativa de DFW estão presentes (e muito).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Aqui está em jogo, acredito, a sutil vergonha generalizada que acompanha a autoindulgência, a necessidade de explicar para quem quiser ouvir por que a autoindulgência na verdade não é autoindulgência. Tipo: nunca vou receber uma massagem apenas para receber uma massagem, vou porque meu velho problema nas costas causado por uma lesão esportiva está me matando e mais ou menos me forçando a receber uma massagem; ou tipo: eu nunca apenas “quero” um cigarro, eu sempre “preciso” de um cigarro.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fatores, exatamente, que fazem a leitura da não-ficção de Wallace ser uma <b>leitura memorável</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo</b></div>
<div style="text-align: justify;">
David Foster Wallace</div>
<div style="text-align: justify;">
Trad.: Daniel Galera e Daniel Pellizzari</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12882" target="_blank">Companhia das Letras (2012)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
312 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$44,50</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O artigo de Galindo continua no sentido de relacionar a obra de David Foster Wallace com a de outros ficcionistas norteamericanos (como <b>Jonathan Franzen</b> e <b>Thomas Pynchon</b>), e termina numa bela conclusão sobre a própria missão de Wallace nesse contexto. <a href="http://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/11984" target="_blank">Vale a pena a leitura</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.movie2k.to/Brief-Interviews-With-Hideous-Men-watch-movie-92792.html" target="_blank">Brief interviews with hideous men virou filme, e pode ser visto online aqui</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por coincidência, o escritor André de Leones <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,convite-a-liberdade-para-ver-o-outro,967748,0.htm" target="_blank">publicou uma resenha</a> da coletânea de ensaios hoje, no Estadão. <a href="http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/resenha/dfw-o-prolixo-sintetico-esta-entre-nos/" target="_blank">Sérgio Rodrigues</a> também escreveu sobre ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijunYnGwU0WTdyIiD65oPXyk1pQV5fjYrRWxFvQjj7xgHtMLL8N-U8VPnZFHa_Ebi5nG6xT7fcWLBj47jG6BDO3NNLMrvBWG5KsW321caFpzqKLeKluVSpne3LhQamMZyHODPr5C3wuyEk/s1600/franzen1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijunYnGwU0WTdyIiD65oPXyk1pQV5fjYrRWxFvQjj7xgHtMLL8N-U8VPnZFHa_Ebi5nG6xT7fcWLBj47jG6BDO3NNLMrvBWG5KsW321caFpzqKLeKluVSpne3LhQamMZyHODPr5C3wuyEk/s1600/franzen1.jpg" height="200" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Como ficar sozinho</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Jonathan Franzen</div>
<div style="text-align: justify;">
Trad.: Oscar Pillagalo</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=13289" target="_blank">Companhia das Letras (2012)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
328 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$46,00</div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-77435310680980875242012-11-15T16:24:00.000-02:002012-11-15T16:25:07.061-02:00Aquela água toda, João Anzanello Carrascoza<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZAoc_FdU3SSXqbaQNs-4JAEzrs-PQ2aq9cKMv6sEC4JmuvcGvJ_XCys4eqn5b4dF4aT7Y176cioM_rgvCzUMZl755uqkIHWBSUT6Z4YcV8wxrBC2O2oyB4nuBf70bc_nW89JRsridZ6cK/s1600/12042012181952_aquela_agua.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZAoc_FdU3SSXqbaQNs-4JAEzrs-PQ2aq9cKMv6sEC4JmuvcGvJ_XCys4eqn5b4dF4aT7Y176cioM_rgvCzUMZl755uqkIHWBSUT6Z4YcV8wxrBC2O2oyB4nuBf70bc_nW89JRsridZ6cK/s1600/12042012181952_aquela_agua.jpg" height="200" width="136" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O paulista João Anzanello Carrascoza (1962) é conhecido no cenário literário brasileiro por carregar uma grande tradição: a <b>contística</b>. Autor de diversos livros de contos, e uns poucos romances encaixados como infanto-juvenil (são mais de 20 no total), o publicitário é um prolífico contista que ainda leva outra bandeira: a de poeta das <b>coisas simples</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi o que ele mesmo disse na FLIP 2012, na mesa em que participou, ao lado de Zuenir Ventura, Dulce Maria Cardoso e João Cesar de Castro Rocha. “Quero buscar a poética dos dias que não são FLIP”, disse naquela ocasião. <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/08/impossibilidade-da-arte-e-tema-no.html" target="_blank">Disse Carrascoza, outro dia</a>: “Drummond falava que há reservas de poesia no mundo: por que não buscamos isso com mais frequência?”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num escritor tão prolífico, é de se esperar alguma <b>irregularidade</b>: no meio de contos de menor impacto (mas sempre com uma habilidade narrativa muito própria, uma voz fortíssima), há algumas pérolas, brilhantes. É o que acontece com o recente <b>Aquela água toda</b> (2012), publicado pela Cosac Naify num projeto gráfico ousado, no qual os contos são ilustrados por Leya Mira Brander, e as ilustrações num papel vegetal, o mesmo que reveste o livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os onze contos do livro são pequenos recortes de vidas tradicionais: o ponto de vista familiar é s<b>empre conservador, sempre paternalista</b>. As famílias, sempre muito <b>normais</b>, com pequenos ódios e grandes amores; as percepções, infinitas e momentâneas, de embates que ocorrem com todos, todos os dias. Isso é marcado muitas vezes no início dos contos:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“Era só um garoto. Com pai, mãe, irmão” (p. 33)</div>
<div style="text-align: justify;">
“Porque era sábado, a família podia despertar mais tarde e viver umas horas de descuido. O casal não iria [...]” (p. 37)</div>
<div style="text-align: justify;">
“Aconteceu que o pai, à mesa de jantar, disse de repente: [...]” (p. 51)</div>
<div style="text-align: justify;">
“Havia um homem. Sua mulher, as meninas” (p. 86)</div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há, na maioria dos contos, uma busca incessante pela “inteireza” (palavra que aparece com frequência), a inteireza de qualquer coisa, da vida, da família, do amor: uma busca que já começa, no mínimo, <b>incerta</b>. Incerta porque há a necessidade de se escrever um conto sobre isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfm8GIoFMJxd4NyRT9U7XMoTMKqafhPj3Leu9qAIP9b2x19svCbK6P22audCHXWp-MxXfX5RBzAfprIcs_moBxzWYJgNdNuX9qvlEfDtnYSyu_jSf47-yM4cgZJ5OiHODoF9QDylqntFer/s1600/joao_anzanello_carrascoza.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfm8GIoFMJxd4NyRT9U7XMoTMKqafhPj3Leu9qAIP9b2x19svCbK6P22audCHXWp-MxXfX5RBzAfprIcs_moBxzWYJgNdNuX9qvlEfDtnYSyu_jSf47-yM4cgZJ5OiHODoF9QDylqntFer/s1600/joao_anzanello_carrascoza.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">João A. Carrascoza também é redator<br />
publicitário e professor universitário<br />
de propaganda (Foto Divulgação<br />
Cosac Naify)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Aqui há outra dúvida sobre os contos de Carrascoza, de maneira geral: onde está a necessidade de escrever certas coisas? Essa necessidade existe? Livros muito fortes passam a seguinte impressão: a de que precisam ser escritos. Passar a impressão de uma falta de necessidade parece um <b>indício de fraqueza</b>: impressões. <a href="http://www.millarch.org/audio/paulo-leminski" target="_blank">Ouvindo uma longa entrevista de Paulo Leminski (gravada em 1982)</a>, percebe-se a certeza nas palavras dele: a poesia não tem porquê. Mas e a prosa, é tão certa nessa <b>não-necessidade</b>? Duvido muito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por exemplo, o conto que dá título ao livro. Em quatro páginas, o narrador (que acompanha mais de perto o menino da Família) descreve o encontro do menino com o mar e depois o reencontro com a Família que o esquece no ônibus: tudo num ambiente <b>carregadíssimo</b> de emoções em que a imagem “<i>aquela água toda</i>” aparece repetidamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro exemplo, o conto “Cristina”, em que o narrador, agora em primeira pessoa, é o menino, e vive uma paixão que, se você é de classe média e urbano (como eu sou), já deve ter vivido: a primeira ida ao cinema acompanhado, as dúvidas de pegar na mão ou não pegar, e o beijo no rosto na despedida: “<i>O meu corpo queimava. Atravessei a rua e fui andando devagar, aquela felicidade — que poucas vezes voltei a sentir — pulsando forte dentro de mim</i>”. <b>Lugar-comum</b>?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Este o <b>pior</b> de todos: “Grandes feitos”, que parece ser um dos preferidos do autor, se não o preferido (deste livro). Foi a leitura que ele fez na FLIP, em julho. A voz do narrador é inconfundível, isso não se pode negar. Mas o conto é, em uma palavra, <b>desnecessário</b>. Um derramamento de imagens piegas sobre uma família tradicional (Pai, Mãe, Filho): “<i>Vestiram-se em seguida, sentindo a pele fresca como a manhã que continuava a vazar pela janela adentro, e que nem dava mostras de que envelhecia - era preciso cerrar bem os olhos para captar seu avanço, lento</i>”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que estou tentando dizer é que Carrascoza levou a ideia de pegar a poesia do cotidiano a um limite muito tênue entre a <b>poesia de coisas simples</b> (que ele quer fazer) e o <b>retrato piegas de rotinas desinteressantes</b> (o efeito atingido por este livro). É arriscado demais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Agora, ele <b>acerta</b> justamente quando recua um pouco deste limite e escreve relatos que, embora abordem temas do cotidiano, não são tão corriqueiros quanto uma ida ao cinema. “Recolhimento” e “Mundo justo” são as duas pérolas emocionantes do livro. Nesses dois contos, o autor utiliza a sua voz inconfundível e a habilidade narrativa que carrega para construir duas histórias <b>poderosas</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apenas uma pequena prévia para o leitor: em Recolhimento, o narrador em terceira pessoa narra a partir de um suposto funcionário público que recolhe animais de estimação mortos; em Mundo justo, em primeira pessoa, o narrador narra suas memórias de uma época da infância na qual jogou basquete.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como falei, as famílias de Carrascoza, embora sempre tradicionais, carregam juntas uma busca pela “inteireza”, fato que pode ser entendido como a <b>fuga da morte</b>: há constantemente o medo da morte, o temor de que algo — quase sempre em relação à Família — ainda esteja por fazer, e que este algo ainda fique por fazer quando a hora da morte chegar. Equilibrar os personagens na linha que separa a razão da loucura nesse ponto, eis o desafio lançado por esse narrador.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outra coisa, para não ser injusto. Carrascoza prega aquela ideia de poética das coisas simples: é a sua proposta, o seu habitat como ficcionista. A pergunta certa, então, é a seguinte: ele se apega a esta ideia (e a cumpre) com Aquela água toda? <b>Sem dúvida</b>. Analisar o autor de fora desse prisma (como eu fiz aqui) pode ser apenas um artifício crítico desnecessário.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Aquela água toda</b></div>
<div style="text-align: justify;">
João Anzanello Carrascoza</div>
<div style="text-align: justify;">
Ilustrações Leya Mira Brander</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://editora.cosacnaify.com.br/ObraDadosTecnicos/11663/Aquela-%C3%A1gua-toda-.aspx" target="_blank">Cosac Naify (2012)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
96 páginas, 11 ilustrações</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$39,90</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimQkkQiiQQOXtxs1AfahjPlGp-RKhDfteT88puybTT6UapuSGfJ8qd1sniFTyquIAHjnp6TQTbCO4AyFcvp9SUyDpDfvyo6AcJj3Mn9uL-t-WBczjG4Hj36ylgq0tgm1l8UwKGXASeYYFo/s1600/carver.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimQkkQiiQQOXtxs1AfahjPlGp-RKhDfteT88puybTT6UapuSGfJ8qd1sniFTyquIAHjnp6TQTbCO4AyFcvp9SUyDpDfvyo6AcJj3Mn9uL-t-WBczjG4Hj36ylgq0tgm1l8UwKGXASeYYFo/s1600/carver.jpg" height="200" width="138" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>68 contos de Raymond Carver</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Raymond Carver</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Rubens Figueiredo</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12687" target="_blank">Companhia das Letras (2010)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
712 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$54,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os contos de Carver também passam pelo tema familiar. Este livro é uma obra-prima.</div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-65822755031848638082012-10-15T23:53:00.001-03:002012-10-15T23:53:31.645-03:00Jornal da guerra contra os taedos, Manoel Carlos Karam<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZG8cQGZ0nsSjKXjy7dtHHnws1plBUbmbRer8Cixvf1QCM0ovpPvAqrFw1ZT2d3ydspQQath9FwgyXmiCm8tEWVp7PoHjjQ0h59WtErbXtNAX7LXPKWv487kC51ExdReA8HFDbynF-aAIk/s1600/capa_taedos.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZG8cQGZ0nsSjKXjy7dtHHnws1plBUbmbRer8Cixvf1QCM0ovpPvAqrFw1ZT2d3ydspQQath9FwgyXmiCm8tEWVp7PoHjjQ0h59WtErbXtNAX7LXPKWv487kC51ExdReA8HFDbynF-aAIk/s1600/capa_taedos.png" height="200" width="140" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Num artigo publicado em 1859, Machado de Assis: “O jornal matará o livro? O livro absorverá o jornal?”. Independente da crítica qualquer a que Machado tenha se arriscado, mais de um século depois o curitibano Manoel Carlos Karam (1966-2007) também se arriscou a responder: com <b>Jornal da guerra contra os taedos</b> (Kafka Edições, 2008), Karam escreveu um documentário preciso sobre muitas das nossas ridículas verdades humanas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Karam faz parte de um grupo de escritores curitibanos que está em constante risco de desaparecimento: apesar de uma ou outra editora (eventualmente, a Companhia das Letras) esboçar um reconhecimento da grande qualidade literária desse grupo, ele ainda é <i>curitibano</i> por definição. Por obstáculos do mercado, vontade própria, ou mesmo escassez de público leitor, <b>Manoel Carlos Karam, Jamil Snege, Wilson Bueno e Valêncio Xavier</b> certamente ainda não alcançaram o êxito literário a que foram destinados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jornal da guerra contra os taedos é um romace póstumo de Karam (o livro foi lançado em 2008 pela Kafka Edições, editora curitibana, um ano depois do falecimento do autor). Composto de pequenas reflexões (ou crônicas) de uma guerra contra os taedos (“nossos vizinhos”), separados por páginas na edição caprichada, o livro é o relato de um jornalista (Karam foi jornalista) sobre os absurdos da guerra.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na camada superficial, é fácil perceber a ironia do autor no que diz respeito às guerras em si. Está lá, na contracapa, um dos capítulos:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Nossos soldados invadiram o território taedo pelo norte. De bicicleta. Não houve batalha. Os taedos ficaram tão humilhados pelo tamanho de nosso desprezo — atacar de bicicleta — que preferiram gastar o tempo desmentindo a notícia de que nossos soldados, de bicicleta, invadiram o território deles. Então eles resolveram nos humilhar, mas apenas nos plagiaram. Invadiram o nosso território pelo norte. De camelo. Ficamos tão humilhados pelo tamanho do desprezo deles — atacar com camelos — que preferimos gastar o tempo desmentindo a notícia de que os soldados deles, de camelo, invadiram o nosso território”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7IMLxcCpFgCKCwkQXfOOnJWqVH4aENpIxCv9rjN7jh4A7EUTL9vrD9IjmAM4GbNWt85bmvrye0yskOEqawH7D-q4oBZPGSZqWxXhL6XHVxTEORusbKaYIp_QOpE5gh8lk33yx2mOBZhlb/s1600/karam+foto+gl%25C3%25B3ria+flugel.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7IMLxcCpFgCKCwkQXfOOnJWqVH4aENpIxCv9rjN7jh4A7EUTL9vrD9IjmAM4GbNWt85bmvrye0yskOEqawH7D-q4oBZPGSZqWxXhL6XHVxTEORusbKaYIp_QOpE5gh8lk33yx2mOBZhlb/s1600/karam+foto+gl%25C3%25B3ria+flugel.png" height="196" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Manoel Carlos Karam (Foto: Glória Flügel)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
É esse o tom que domina o livro: a voz do narrador é sempre falsamente ingênua e ingenuamente mordaz. Ao relatar a guerra, o jornalista, que aqui absorveu a literatura e dela tirou parte do seu substrato (falo mais sobre isso abaixo), na verdade faz um <b>relato da hipocrisia</b> que rege uma sociedade egoísta, fria e autodestrutiva. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isso em vários níveis, e sempre com o mesmo tom, que serve até para dar um caráter quixotesco ao livro. Karam bate de frente na religião, no militarismo, no marketing político e no medo: “Quem tem cu tem medo”. O medo, que afinal é o tema principal do belo livro de Karam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“A bandeira dos taedos era totalmente branca, apenas o branco, nada mais. Cada vez que eles apareciam vinha a dificuldade, saber se estavam em rendição ou ataque”. O <b>leitor então é o taedo</b>, o leitor que continuamente busca uma resposta para as <b>inquietações</b> lançadas pelo mestre capítulo a capítulo, e que o próprio faz questão de responder:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“Quem está ganhando a guerra?</div>
<div style="text-align: justify;">
— Nós!</div>
<div style="text-align: justify;">
— Nós!”</div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
A <b>literatura</b> também está presente no livro de Karam como um dos temas tratados, mesmo que de maneira sutil. Já foi mencionado o caráter quixotesco do narrador, e há também a semelhança com Cervantes por se tratar de um texto ficcionalmente <b>traduzido</b>; em um dos pequenos capítulos, o narrador se refere a uma das fronteiras com os taedos, a do deserto, e que mesmo quando a guerra já havia acabado, “nós” ficávamos esperando os taedos, e como eles não vinham, esperamos os <b>tártaros</b>, e como eles não vinham, “estamos também à espera de Godot”; há um capítulo com clara referência a Guerra e paz, título máximo de Tolstói; outro capítulo começa da mesma forma que A Metamorfose; etc.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como foi falado por aqui <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/10/quero-ser-reginaldo-pujol-filho.html" target="_blank">na última resenha</a>, por que fugir dos grandes mestres?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVw-glSz2Sqd4pmz8qBULF4GPe_mKR8ksPQq9dmehvPhNy0XNgBRFLByVRWuH58-Ai27N2mNWGsRNcB09Bmr8QEFy0MHuLlyLDY4dhg9E2SxtsWvcXf3_vWDnIDXSQkYAawVolCZQ685Jk/s1600/Candido_n5_karam.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVw-glSz2Sqd4pmz8qBULF4GPe_mKR8ksPQq9dmehvPhNy0XNgBRFLByVRWuH58-Ai27N2mNWGsRNcB09Bmr8QEFy0MHuLlyLDY4dhg9E2SxtsWvcXf3_vWDnIDXSQkYAawVolCZQ685Jk/s1600/Candido_n5_karam.jpg" height="200" width="194" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A ilustração de capa é de<br />Pedro Franz</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Quando eu trabalhava no <b>jornal Cândido</b>, fizemos <a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/arquivos/File/candido05.pdf" target="_blank">uma edição</a> cujo material principal partia da obra de Manoel Carlos Karam. Fiz uma matéria sobre as marcas que Karam deixou na imprensa e no teatro paranaenses e sobre o seu <b>projeto literário</b>. Quando deixou o teatro de lado para escrever prosa de ficção, Karam traçou para si mesmo um projeto de traçar quatro painéis (país, cidade, casa, indivíduo), e o fez, com, respectivamente, <i>Fontes murmurantes</i> (1985), <i>O impostor no baile de máscaras</i> (1992), <i>Cebola</i> (1997) e <i>Pescoço ladeado por parafusos</i> (2001).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Karam ainda publicou a coletânea de contos <i>Comendo bolacha maria no dia de São Nunca</i> (1999) e os romances <i>Encrenca</i> (2002) e <i>Sujeito oculto</i> (2004).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Naquela edição do Cândido, também há textos de Nelson de Oliveira e Luiz Andrioli (sobre MCK) e também inéditos do autor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.candido.bpp.pr.gov.br/arquivos/File/candido05.pdf" target="_blank">Clique aqui para acessar</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jornal da guerra contra os taedos</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Manoel Carlos Karam</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.kafkaedicoes.com.br/catalogo.asp?edit=5" target="_blank">Kafka Edições (2008)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
160 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$25,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjniMeZB63u2MHjYskL08cRbsEBr6dGDUksOBRnUyVrbxADkxLNeGfeNmjUZzY4rsvRbQskVfjAS4zD2i_uGuKk2aQQkHOlj62sFtgwJ-uX4wOVzoHFxF8cafV5o7GC4QxxUIM0f6TJX0CS/s1600/onc3advora.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjniMeZB63u2MHjYskL08cRbsEBr6dGDUksOBRnUyVrbxADkxLNeGfeNmjUZzY4rsvRbQskVfjAS4zD2i_uGuKk2aQQkHOlj62sFtgwJ-uX4wOVzoHFxF8cafV5o7GC4QxxUIM0f6TJX0CS/s1600/onc3advora.jpg" height="200" width="98" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Ficção onívora</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Jamil Snege</div>
<div style="text-align: justify;">
Grupo 1 (1978)</div>
<div style="text-align: justify;">
48 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Só se acha na Estante virtual, sai por R$49,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jamil Snege é pouco conhecido fora de Curitiba: irônica injustiça com o autor dos contos de Ficção onívora, e entre outros, da maravilhosa novela Viver é prejudicial à saúde.</div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-11453175586491967912012-10-02T15:27:00.000-03:002012-10-02T20:49:06.291-03:00Quero ser Reginaldo Pujol Filho, Reginaldo Pujol Filho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9TFYM8xdTqYIx4d-9PUr6gRUKKdHHMau3RQGhCCEOmF7FehXCw_AyhYwmu3UFHAOHB0YcOuLdbGz_GD6CqYu_KG2BoLXmRDy9iEzVgOtoIE9-NvTpBzEls2AqUKnI5e-HRxZ0OZWSh2MS/s1600/Capa-Quer+ser+Reginaldo+Pujol+Filho.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9TFYM8xdTqYIx4d-9PUr6gRUKKdHHMau3RQGhCCEOmF7FehXCw_AyhYwmu3UFHAOHB0YcOuLdbGz_GD6CqYu_KG2BoLXmRDy9iEzVgOtoIE9-NvTpBzEls2AqUKnI5e-HRxZ0OZWSh2MS/s200/Capa-Quer+ser+Reginaldo+Pujol+Filho.jpg" width="133" /></a></div>
<b style="text-align: justify;"><u>Desagravo à ficção sobre literatura</u></b><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O relativo sucesso no Brasil de escritores como Enrique Vila-Matas levanta um ponto de vista curioso, com certeza, e conservador, talvez: o de que a literatura metaficcional seja, em última instância, um <b>problema</b> em si mesma. O problema: fazer ficção sobre escritores e sobre literatura levaria, fatalmente, (1) ao extermínio do romance, uma vez que a literatura acabaria e (2) à <b>restrição</b> cada vez maior da palavra escrita. Algo como o fim da história marxista. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ora, <b>nada mais injusto</b>: se faz literatura sobre escritores e sobre livros desde Cervantes. Como fala James Wood, a invenção do flaneur (com Flaubert) transforma <b>todos</b> nós (personagens ou leitores) em escritores. Dois autores realistas que, entre outros assuntos, fazem literatura sobre escritores e sobre livros: Philip Roth e J. M. Coetzee. Brasileiro: os primeiros livros de Reinaldo Moraes têm o protagonista escritor. Não dá para falar que estes exemplos são influenciados por alguma <b>mania</b> recente, ou que a literatura deles leve a um buraco sem fundo, ou que eles sejam tomados por uma vontade de pirotecnia estilística (na verdade, personagem escritor não tem nada de pirotécnico).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ler uma história sobre adultério pode agradar um leitor mais do que uma história sobre congestionamento (ou, afinal, sobre um escritor). Se Machado ou Cortázar não tivessem escrito suas histórias da maneira como escreveram, elas seriam reduzidas a clichês sem sal (triângulo amoroso e tédio do congestionamento). Foi a sua <b>realização</b> que as fez, e não previamente seu conteúdo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O livro do gaúcho Reginaldo Pujol Filho (1980) pega toda esta discussão e a transforma num exercício literário autoirônico. E vai além: acrescenta o jogo muitas vezes hipócrita das influências, as assume (e debocha delas), e escreve seu segundo livro com um título bem claro: <b>Quero ser Reginaldo Pujol Filho</b> (Não Editora, em 2010).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A partir daí, os contos são todos denominados assim: “Quero ser Miguel de Cervantes”, “Quero ser Luigi Pirandello”, etc, e na maior parte do tempo refaz, satiriza, parodia e reproduz a literatura original de cada escritor. Pujol Filho tensiona os lugares-comuns da influência de escritores famosos até um ponto de ruptura (aqui o sucesso possível) para então criar uma voz própria (não é esse o desejo expresso no título?). É arriscado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O problema é quando essa tensão não é suficiente: ao invés de alcançar a originalidade, o autor cai na <b>armadilha</b> da solução fácil ou óbvia. Por exemplo: ao levar ao pé da letra a vontade de se livrar da influência de Rubem Fonseca e por conseguinte se livrar do escritor, no conto “Quero ser Rubem Fonseca” o narrador tenta literalmente atropelar o autor de “Agosto”. Claro que a ironia (e o subtexto) nesta tentativa é muito clara: mas por um critério de autenticidade, este é o conto que não deveria estar no livro. Essa solução também não ocorre apenas neste texto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas as coisas melhoram. Em “Quero ser Luis Fernando Verissimo” há uma mímica de um diálogo (sempre engraçado) do famoso analista de Bagé com alguém que, afinal de contas, quer ser Luis Fernando Verissimo. Em “Quero ser Gonçalo M. Tavares”, o narrador é o Senhor Pujol que quer entrar n’O Bairro do angolano e exulta quando encontra a “dízima semântica”. Em “Quero ser Italo Calvino” o narrador anota e discorre sobre seis ideias para “Quero ser Italo Calvino”. Com “Quero ser Machado de Assis”, Pujol leva o narrador machadiano ao limite do absurdo:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
“Bem, continuemos a história. Contudo, como se narra com um personagem dormindo no sofá e outro ausente? Complica-se assim a minha atuação. Até esperaria para ver o que acontece, mas o que acontece é que há um leitor do outro lado, talvez já esperando em uma fila de banco, em uma sala de espera, em um aeroporto, não deve estar disposto a uma metaespera. Resta-me acordar a moça e provocar algum acontecimento digno de narração. Pois vou [...]”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6aG0GgSLHfl0xLjgQJ1f508gXGpEq-7tIcNA0R9lw9DLnklIcDyK9HXzlWaFI7sFbY932FRrZ9SwN7kZRYuPHK0CmnYcYsHNydJyEvjVjyPqyARxoRsqwL2VNYzqMnmivGlAcWQ4Qh5nr/s1600/Reginaldo+Pujol+Filho_200dpi+CREDITO+Vini+Marques.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6aG0GgSLHfl0xLjgQJ1f508gXGpEq-7tIcNA0R9lw9DLnklIcDyK9HXzlWaFI7sFbY932FRrZ9SwN7kZRYuPHK0CmnYcYsHNydJyEvjVjyPqyARxoRsqwL2VNYzqMnmivGlAcWQ4Qh5nr/s200/Reginaldo+Pujol+Filho_200dpi+CREDITO+Vini+Marques.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Reginaldo Pujol Filho (Foto: Vini Marques)</td></tr>
</tbody></table>
O conto que deu origem ao livro, segundo o próprio autor em uma nota, é “Quero ser Amílcar Bettega Barbosa”, baseado num conto de Amílcar em que o seu o narrador encontra e entrevista Júlio Cortázar e, surpresa, percebe que o argentino esqueceu algumas folhas com manuscritos inéditos. A história é previsível, mas no meio dela há um exercício de investigação interessante. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não é regra, mas boa parte dos contos traz um personagem “real”, um escritor que de fato existe (por exemplo, Amílcar Bettega Barbosa), mas é ficcionalizado por Pujol. James Wood fala sobre isso no “Como funciona a ficção” (Cosac Naify, 2012, 2. ed):</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
“Talvez porque eu não saiba bem o que é um personagem, acho muito comoventes aqueles romances pós modernos [...] que nos apresentam personagens ao mesmo tempo reais e irreais. Em todos esses romances, o autor nos pede para refletir sobre o caráter fictício dos heróis e heroínas que aparecem no título. E, num excelente paradoxo, é justamente essa reflexão que desperta no leitor o desejo de tornar esses personagens ‘reais’, de dizer aos autores: ‘Eu sei que eles são apenas fictícios - você já me disse várias vezes. Mas eu só consigo conhecê-los tratando-os como reais’”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As narrativas “extra-literárias” também fazem parte do livro de Pujol: a escolha por envolver escritores e personagens de ficção (da literatura) nas histórias não é um <b>valor</b> intrínseco, como querem acreditar aqueles que defendem as ideias de que falei no início do texto. Além disso, o que há aqui é um provocador, realizando (e tentando realizar) mimeses descaradas de seus autores favoritos, sem medo de admiti-las, explorá-las, debochar delas: um caráter muito mais honesto do que tentar se esconder por trás das mesmas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nenhum escritor gosta de responder à pergunta “quem são suas influências”. O ponto é refletir até que altura ela é um lugar-comum e até que altura ela é assustadora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Prova de que esse tipo de literatura não se encerra em si mesma é a seguinte: qualquer um pode ficar à vontade para escrever o seu próprio “Quero ser Reginaldo Pujol Filho”, fazendo ele mesmo uma mimese, de, por que não, Reginaldo Pujol Filho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quero ser Reginaldo Pujol Filho</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Reginaldo Pujol Filho</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.naoeditora.com.br/catalogo/quero-ser-reginaldo-pujol-filho/" target="_blank">Não Editora (2010)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
144 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$28,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtTbXRRVBOPy5naSOQJ9sEeAd0J1nJRicQYYiuMFqjqne6xC5P5tGVTrhZGGDFUZ4ZFkyWOMbikSUDxlycOGa_DWBZtqQk2McESrlBtizmmxRVgxCF2k7zdWGsB4_RVef4EIh_JHTJtVzw/s1600/SOBRESCRITOS.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtTbXRRVBOPy5naSOQJ9sEeAd0J1nJRicQYYiuMFqjqne6xC5P5tGVTrhZGGDFUZ4ZFkyWOMbikSUDxlycOGa_DWBZtqQk2McESrlBtizmmxRVgxCF2k7zdWGsB4_RVef4EIh_JHTJtVzw/s200/SOBRESCRITOS.jpg" width="200" /></a></div>
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:<br />
<b>Sobrescritos - 40 histórias de escritores, excretores e outros insensatos </b><br />
Sérgio Rodrigues<br />
Arquipélago Editorial (2010)<br />
152 páginas<br />
Preço sugerido: R$25,00</div>
<div>
<br /></div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-80919216394715180282012-09-15T10:59:00.001-03:002012-09-15T11:00:16.656-03:00Carlos Machado: "Dalton e Tezza são os principais alimentos de tudo que faço na literatura"<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFtUmEWiq3f3zPz6LL16CjuJl4w2IuEUd1af5-kzRuQQqHN2YJAHvWCAIYL1I8LS4EyL6XafUnJ_l0TqSLZwe0eVLZdnRDM9qhrry-43Jp_X2vEJTYSsXKMKIPtHJC_yvLk5azB0LcgL3l/s1600/Carlos_Machado_Foto+Julio+Al+Rashid.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFtUmEWiq3f3zPz6LL16CjuJl4w2IuEUd1af5-kzRuQQqHN2YJAHvWCAIYL1I8LS4EyL6XafUnJ_l0TqSLZwe0eVLZdnRDM9qhrry-43Jp_X2vEJTYSsXKMKIPtHJC_yvLk5azB0LcgL3l/s200/Carlos_Machado_Foto+Julio+Al+Rashid.JPG" width="151" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Carlos Machado<br />
Foto Julio Al Rashid</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<b>Carlos Machado</b> (1977) é escritor, compositor, músico e professor curitibano. Já lançou três livros pela editora 7Letras (Balada de uma retina sul-americana, 2006, é o mais recente por aquela editora) e sua carreira na música vai do heavy metal à MPB. <b>Hoje</b> (15), às 16h, ele lança e autografa “Poeira fria”, publicado pela editora Arte e Letra, na livraria da editora (Al. Presidente Taunay, 130, Batel, Curitiba).</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/09/poeira-fria-carlos-machado.html" target="_blank">Leia resenha de Poeira fria</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Na breve entrevista a seguir, concedida ao blog por email, o escritor fala sobre a demora em publicar um novo livro, sobre a sua relação pessoal com a <b>psicanálise</b>, e sobre a afinidade com a obra de autores fundamentais de Curitiba: Cristovão Tezza e Dalton Trevisan (“[eles] são os principais alimentos de tudo que faço na literatura”). Um <b>novo livro</b> para 2013 também está previsto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Machado, que também é professor de segundo grau numa escola particular de Curitiba, ainda falou suas impressões em relação aos alunos e à leitura. “Praticamente todos os alunos (em uma escola com 2000 deles) deixavam o lanche ou o esporte de lado no recreio pra DEVORAREM as aventuras de Harry Potter”, diz. “Porém, quando se trata de literatura brasileira, ah, aí ninguém gosta, ninguém lê, ninguém tem interesse”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Biblioteca Vertical: Desde que você publicou o seu primeiro romance, o intervalo para publicar "Poeira fria" foi o mais longo. Houve algo diferente na produção deste livro em comparação com os outros, ou foi a sua vida artística mesmo que deu uma "pausa" à literatura?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Carlos Machado</b>: Pois é, na verdade, a partir do momento em que comecei a publicar, 2004, foram três seguidos (2004, 2005 e 2006). Em 2007, eu já estava com outro livro pronto, mas não publiquei. Isso porque me envolvi com minha música em tempo integral (quando não estava dando aulas, naturalmente) já que minha banda havia terminado (digo isso porque ao mesmo tempo em que lancei os livros eu tocava em uma banda de heavy metal – por 10 anos – e gravamos 4 CDs nesse período). Quando a banda acabou, em 2008/2009, eu me dediquei à minha música, às minhas composições de MPB – e gravei TENDÈU em 2008/2009, SAMBA PORTÁTIL em 2010/2011 e LONGE em 2012. Agora voltei a publicar meus livros. “Poeira Fria” é o primeiro depois desse período, mas já enviei outro pra editora, penso que publicaremos ano que vem. E para o ano que vem também devo lançar o DVD e CD ao vivo que gravei no Guairinha dia 8 de agosto deste ano, contemplando músicas dos três CDS e com a participação de meus amigos e parceiros Fernando Koproski (meu maior parceiro nas músicas), Alexandre França e Julia Mallmann, e com minha banda PORTÁTIL (banda que montei pra me acompanhar nos show do CD LONGE).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>BV: A psicanálise é algo bastante presente neste livro. Você pode fazer um paralelo sobre o que a psicanálise representa para a sua vida e sobre o que ela representa para a sua ficção?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>CM</b>: A Psicanálise faz parte da literatura contemporânea de modo geral, por vezes diretamente (como em A Identidade, de Milan Kundera) ou indiretamente (como nos livros que têm fluxo de consciência – lógico que falo de modo geral). Os traços da psicanálise, os ecos desses pensamentos estão presentes na literatura do século XX e XXI. Além dessas características gerais que vêm aparecendo nos textos, a minha relação é bem próxima e pessoal pelo fato de ter sido casado com uma psicanalista. Naturalmente que essa relação se faz muito presente na minha obra como escritor ou compositor popular.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>BV: As referências aos escritores curitibanos são muito claras no livro. Qual é o seu sentimento em relação ao cenário da literatura curitibana? Você sente alguma responsabilidade em se relacionar (ficcionalmente) com autores como Dalton Trevisan e Cristovão Tezza?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>CM</b>: Curitiba respira literatura. Tem uma das melhores literaturas do país, mas ainda não necessariamente uma estrutura grande suficiente para que as obras sejam mostradas (nem mesmo para os curitibanos). Porém, felizmente, esse cenário, desde quando comecei (no início dos anos 2000) melhorou bastante! Temos editoras profissionais investindo em uma literatura que não é necessariamente técnica e com tudo que envolve a produção e o lançamento de um livro, como livrarias, assessores, jornalistas, críticos etc. Ainda temos muito pela frente, mas sou otimista.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Agora, sobre a relação dessa literatura com minha obra. Dalton e Tezza são os principais alimentos de tudo que faço na literatura (e por vezes na música). Sou absolutamente entregue às obras deles. Comecei a me interessar e a pensar que poderia ser escritor quando conheci a obra do Tezza (por volta de 1989) e logo me deparei com Dalton Trevisan, aí não teve mais volta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>BV: Um dos lugares comuns do jornalismo de literatura, hoje em dia, é questionar escritores sobre a formação de leitores. Mas creio que essa pergunta se aplica no seu caso pelo fato de você também ser professor de literatura brasileira e coordenador escolar. Qual é o quadro que você percebe a partir dos seus alunos, qual é o grau de interesse pela leitura?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>CM</b>: Bem, Guilherme, a literatura está em busca de leitores, em crise há muitos anos. Eu vi alguns fenômenos acontecerem ao meu lado que até hoje me impressionam, mas ainda não tenho muita certeza das consequências. Me refiro ao fato de ter convivido com crianças e adolescentes que passavam todos os momentos livres na escola (e isso significa, por exemplo, o horário do recreio) lendo Harry Potter. Impressionante mesmo, PRATICAMENTE TODOS os alunos (em uma escola com 2.000 deles) deixavam o lanche ou o esporte de lado no recreio pra DEVORAREM as aventuras de Harry Potter (e muitos não esperavam as traduções, liam no original mesmo). Isso foi há alguns anos (sei que muitos desses alunos foram estudar letras e inclusive escreveram ou estão escrevendo suas monografias de conclusão de curso falando dessas obras). Ou seja, uma obra como essa, por mais que seja de duvidosa qualidade literária (não quero entrar nessa discussão) formou uma geração de leitores que depois foram para outros autores e alguns continuam até hoje (eu me formei com a leitura da série Vagalume, sinto que há uma relação muito próxima). Bem, há alguns poucos anos (4 ou 5) o fenômeno aconteceu com livros sobre vampiros (o que não é muito diferente de Harry Potter). Porém, quando se trata de literatura brasileira, música brasileira, ah, aí ninguém gosta, ninguém lê, ninguém tem interesse. Outro fenômeno.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Serviço</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Lançamento e Sessão de autógrafos de Poeira Fria, de Carlos Machado</b></div>
<div style="text-align: justify;">
15 de setembro de 2012</div>
<div style="text-align: justify;">
16h</div>
<div style="text-align: justify;">
Livraria Arte & Letra (Al. Presidente Taunay, 130, Batel, Curitiba)</div>
<div>
<br /></div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-46995540067996576292012-09-15T10:41:00.000-03:002012-09-15T12:30:57.724-03:00Poeira fria, Carlos Machado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhExY5prHPajmIHFgkUPZWbDnnmr9oyzphYLuxtnxR-4J-UFPO-X2RRScCejCKs-XDm1s00uYY87gt4nVYH1ZBExHxANePRbGO2Fv0bVFKcjlchcXsCyfg11RTvpF7Xac4rncRcpd96yyAa/s1600/poeirafria.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhExY5prHPajmIHFgkUPZWbDnnmr9oyzphYLuxtnxR-4J-UFPO-X2RRScCejCKs-XDm1s00uYY87gt4nVYH1ZBExHxANePRbGO2Fv0bVFKcjlchcXsCyfg11RTvpF7Xac4rncRcpd96yyAa/s200/poeirafria.jpg" width="136" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Em uma novela curta divida sob três focos narrativos, Carlos Machado (1977) coloca Curitiba e a literatura curitibana como base de sustentação para o personagem altamente <b>deprimido</b> de “Poeira fria”. O personagem — que vale apenas citar que também é músico e professor de literatura, como o próprio autor — é quem vive a narrativa estruturada em três partes, das quais falaremos abaixo, mas preste atenção: se o leitor estiver um pouco triste, a leitura do quarto livro de Machado pode não fazer lá muito bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/09/carlos-machado-dalton-e-tezza-sao-os.html" target="_blank">Leia entrevista com o autor de "Poeira fria"</a>.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Isso porque o narrador (que muitas vezes é o próprio personagem) constrói um <b>fundo do poço</b> aparentemente sem fim (família completamente infeliz, separação amoroso traumática, mortes e etc) e joga o personagem lá dentro: a <b>análise</b> é para ele a forma de escavar sua saída de lá, e claro, fica a cargo do leitor descobrir se houve de fato uma saída.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A questão é que a análise (com uma psicanalista, ora) é uma das <b>três partes</b> que compõem a narrativa: diálogos diretos (com uso do travessão) e verossímeis revelam, pelo menos, alguma proximidade do autor com o processo psicanalítico, o que pode ser sintomático para o entendimento da narrativa (por exemplo, o uso de sonhos aqui e acolá). </div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“— Pois é, acho que sim. Acabei de sair de casa novamente. Eu morava com minha noiva. Saí de casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
— Foi você quem saiu?</div>
<div style="text-align: justify;">
— Sim. Quer dizer, não sei ao certo o que aconteceu. Eu saí, mas não tinha certeza se deveria sair. Quero voltar, mas acho que não posso mais. Nunca estive tão sozinho como agora. Não consigo mais nem por telefone! Preciso me afastar. Preciso dar um fim a isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
— A isso? O que é isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
— Não sei. Preciso terminar algo que comecei e não teve fim. Aliás, como tudo em minha vida parece que nunca tem fim, eu apenas sobreponho situações. Continuo as situações.</div>
<div style="text-align: justify;">
— Você é a cirrose de seu pai? Certo. Vamos deixar por aqui.”</div>
</blockquote>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3sHFBQz0OvECRxj4HZzNYX-iUevqsQ2B8hYGtbL7o9PHszOlNovNk4dM58PQ0ZpfyeKir9EH_e48NCH1Ux6Q4o7Or1TfO4OrKVoK_Z_xpy0x6wdFI6nqhlsri77_EWO6xQzkJ5V44Di4U/s1600/carlos+machado1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3sHFBQz0OvECRxj4HZzNYX-iUevqsQ2B8hYGtbL7o9PHszOlNovNk4dM58PQ0ZpfyeKir9EH_e48NCH1Ux6Q4o7Or1TfO4OrKVoK_Z_xpy0x6wdFI6nqhlsri77_EWO6xQzkJ5V44Di4U/s200/carlos+machado1.jpg" width="133" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Carlos Machado<br />
autografa o livro<br />
na Semana Literária<br />
do SESC, em Curitiba<br />
Foto: Divulgação</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Outro foco narrativo é os <b>monólogos</b> do personagem, em primeira pessoa, que depois de um momento de dúvida passam a ser claramente <b>cartas</b> (entregues, jogadas no lixo, apenas imaginadas?). Isso porque há uma pequena diferenciação tipográfica no texto (em itálico) que identifica essa narração em primeira pessoa, e é bem depois da metade do livro que o fato de serem cartas fica claro. Nenhum juízo de valor aqui. A orientação psicanalítica é presente se observamos essa definição de Cristovão Tezza: “A carta, como gênero, é um breve e solitário combate do indivíduo. O poder literário moderno da composição epistolar está exatamente nesse ponto, e sua sobrevivência eventual depende dessa presença viva.” Tezza se refere a cartas reais, digamos, mas por que esse processo não pode ser aplicado aqui também? Ao ficcionalizar epistolas, o escritor subverte esse processo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Acho que ela o amava, sim, apesar de tudo. Sabia que ele não tinha culpa. Não conseguiu se livrar da bebida a tempo. Fiquei parado ali por alguns minutos, e no instante em que eu estava me virando para ir embora, ele abriu os olhos e tentou falar alguma coisa. Mas apenas tossiu. Tossiu tanto que chegou a sair sangue pela boca. Parecia que estava vomitando algum pedaço de carne. Eu não deveria estar ali."</i></blockquote>
</div>
<div style="text-align: justify;">
A terceira voz narrativa é a que melhor revela o domínio do autor sobre um determinado estilo. Em terceira pessoa, o narrador de estilo indireto livre acompanha o personagem num texto altamente realista: impossível não pensar (além da referência direta) no próprio Tezza. Aliás, <a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/09/carlos-machado-dalton-e-tezza-sao-os.html" target="_blank">na entrevista</a>, o próprio Carlos Machado disse que tudo de sua literatura sai de Tezza e Trevisan: é bastante <b>arriscado</b>, por um lado, mas positivo por outro. A assimilação destes dois grandes escritores por parte da produção atual pode sim apontar caminhos novos para o futuro.</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
"Mais uma vez, o olhar se perde na urina indo pelo vaso abaixo. Não sabe o que pensar exatamente nesses momentos. Algo de impuro indo para o ralo, quase que literalmente. Já se perdeu inúmeras vezes beijando o ralo. Precisa se macular ainda mais. Sabe que há dias não consegue sair da cama, muito menos de casa, por isso, esqueceu-se de tomar banho. Não precisou. Mas agora quer tentar uma reação, nem que seja uma pequena migalha de pão que já está amassado há anos. Ensaia uma recuperação com um sorriso no canto dos lábios, como se apenas um banho fosse suficiente para olhar acima das cabeças. Pensa em uma letra que escreveu para a banda há alguns anos. “Acima das cabeças, o pensamento”. Mais uma canção que ficou para ninguém ouvir, deitada no porão da casa de praia que nunca teve."</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
São nas considerações sobre o <b>suicídio</b> (que estão especialmente nas análises e na narração em terceira pessoa) que o autor deixa claro que o seu personagem <b>vale nada</b>: não há coragem, não há vontade de morrer. A relutância em se matar, apesar da depressão evidente, escancara esse personagem ao ridículo, que é quase inverossímil, mas não: apenas revela uma fragilidade que antes de ser comovente é patética. A <b>habilidade</b> narrativa do autor (que se mostra mais forte nas páginas finais do livro) se concentra exatamente nessa <b>desconstrução</b> do personagem. Desconstrução do próprio indivíduo, método da psicanálise, método que encerra o livro com uma circularidade sutil, mas que, claro, fica para o leitor descobrir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<b>Poeira Fria</b><br />
<a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/09/carlos-machado-dalton-e-tezza-sao-os.html" target="_blank">Carlos Machado</a><br />
Arte & Letra (2012)<br />
98 págs.<br />
R$ 28,00<br />
<br />
*<br />
Se você gostou desse, provavelmente também vai gostar de:<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgekeCcuX-mRb-kyen9NVn-sMyxIgQCFKG56GsxcZHaIfYwga-sIPR1TUXAYsTTg_d_TocIG1zjP7pyxM7eIH58d0zqCAy1NVeO6U610wkAViJiJfaWk9h2M7_0U_iSeapUftRPWDUqxrTX/s1600/m%C3%A1quina.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgekeCcuX-mRb-kyen9NVn-sMyxIgQCFKG56GsxcZHaIfYwga-sIPR1TUXAYsTTg_d_TocIG1zjP7pyxM7eIH58d0zqCAy1NVeO6U610wkAViJiJfaWk9h2M7_0U_iSeapUftRPWDUqxrTX/s200/m%C3%A1quina.jpg" width="136" /></a></div>
<b>A máquina de fazer espanhóis</b><br />
valter hugo mãe<br />
<a href="http://editora.cosacnaify.com.br/ObraDadosTecnicos/11598/a-m%C3%A1quina-de-fazer-espanh%C3%B3is.aspx" target="_blank">Cosac Naify (2011)</a><br />
256 páginas<br />
R$39,00<br />
<br />
A depressão e algumas de suas consequências também estão presentes no bom livro de valter hugo mãe.<br />
<br />
<div>
<br /></div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-18231048618070702792012-09-13T15:38:00.000-03:002012-09-13T15:38:53.599-03:00Debate em Curitiba reuniu dois renomados críticos literários brasileiros<b><i>Ataque ao politicamente correto e perspectivas distintas marcaram o encontro entre João Cezar de Castro Rocha e Alcir Pécora na Semana Literária do SESC Paraná</i></b><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjne2MTrlgloklaXW5dhOW3lk7ofqCwdZL22N00I7TMPxogm0wjT1_y-zpzlOxEpyARBaosJIZ9aAxZiGHG83Djus6QXoSIBwDhApiVe0pCsevxaTh_OHXGOnvKnFz1b3m8nhNS5FJiNUxM/s1600/sesc1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjne2MTrlgloklaXW5dhOW3lk7ofqCwdZL22N00I7TMPxogm0wjT1_y-zpzlOxEpyARBaosJIZ9aAxZiGHG83Djus6QXoSIBwDhApiVe0pCsevxaTh_OHXGOnvKnFz1b3m8nhNS5FJiNUxM/s400/sesc1.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Shigueo Murakami / SESC-PR (Clique para ampliar)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="text-align: justify;">Quarta-feira, 19h30 na Praça Santos Andrade, em Curitiba: mais de 100 pessoas se reuniram para ouvir </span><a href="http://cms.sescpr.com.br/semanaliteraria/convidados/joao-cezar-de-castro-rocha/" style="text-align: justify;" target="_blank">João Cezar de Castro Rocha</a><span style="text-align: justify;"> e </span><a href="http://cms.sescpr.com.br/semanaliteraria/convidados/alcir-pecora/" style="text-align: justify;" target="_blank">Alcir Pécora</a><span style="text-align: justify;"> sobre crítica literária. A mesa aconteceu em formato de seminário, ou seja, cada convidado tinha aproximadamente vinte minutos para expor suas ideias sobre um possível panorama da crítica literária contemporânea no Brasil. O debate foi mediado pelo jornalista Yuri Al’Hanati.</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Após os seminários (veja mais abaixo), os convidados discutiram rapidamente algumas questões, entre elas o “<b>politicamente correto</b>”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“A <a href="http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2012/09/audiencia-sobre-livro-de-monteiro-lobato-no-stf-termina-sem-acordo.html" target="_blank">questão do Monteiro Lobato no STF</a> abrirá jurisprudência: com ela, poderemos abolir qualquer literatura das escolas”, ironizou João Cezar. “A questão do politicamente correto é muito preocupante e não pode ser tratada como caricatura”. “Não pode acontecer uma <b>transposição</b> ingênua, do politicamente correto, do espaço público (onde ele deve existir) para a universidade”, enfatizou. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Isso é um desastre, porque a literatura, e a universidade também, são espaços em que se podem exercer pensamentos e linguagens <b>de risco</b>, e essa transposição leva a uma receita prêt-à-porter para a leitura de textos”. E concluiu: “Deveríamos ter mais coragem para pelo menos levantar estas questões”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJKEC9Fgj26d-5v-wuIO84N7gu_J9yI3tjYvC9Aehexf3ST4rR6TR72zIZKjk58RH4ZWUuPF5wbhh-VMw0MWIX5YplmN8wSVGlEF2Jeqril2_Gp7RLpjGio2ywFNhGH-VEDsctobRJU3vZ/s1600/Alcir++++++P%25C3%25A9cora+-foto+Shigueo+Murakami.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJKEC9Fgj26d-5v-wuIO84N7gu_J9yI3tjYvC9Aehexf3ST4rR6TR72zIZKjk58RH4ZWUuPF5wbhh-VMw0MWIX5YplmN8wSVGlEF2Jeqril2_Gp7RLpjGio2ywFNhGH-VEDsctobRJU3vZ/s200/Alcir++++++P%25C3%25A9cora+-foto+Shigueo+Murakami.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Alcir Pécora (Foto: Shigueo Murakami)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<b>Pécora: distinção entre dois tipos de crítica</b></div>
<div style="text-align: justify;">
“Pensei em dizer coisas sobre a crítica contemporânea de uma maneira geral, não especificamente no Brasil, mas que podem balizar problemas e apontar o que se pode fazer”, começou Pécora, conhecido também por uma relativa antipatia com o cenário da literatura brasileira atual. Ele fez uma distinção básica entre dois tipos de crítica literária: uma mais comum, em que o crítico se coloca diante de um livro e o critica basicamente a partir do que sentiu; e outra na qual o crítico vai além e tenta formular uma <b>hipótese</b> para aquele livro, que busca o “princípio organizativo” da obra.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“A primeira acontece em todos os lugares, também no Brasil, e tanto nos jornais quanto nas universidades”, disse. “Não há nada de errado, mas é um trabalho crítico mais banal, mais comezinho, que pode ser feito de forma mais ou menos convincente dependendo do crítico”. Pécora completou que essa espécie de crítica é <b>útil</b>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sobre a segunda orientação, Pécora se mostrou mais entusiasmado. “Aposto no crítico que vai muito além do próprio gosto, que vai buscar a consistência do livro e o âmago fundamental da obra”, disse. “Ele tenta uma <b>ética do objeto</b>, o que não significa submissão: sim ter uma hipótese forte para confrontar o decoro de um objeto com os outros objetos”. Em seguida, o crítico destacou que nada na cultura (e na literatura) existe só: há sempre um confronto fundamental de objetos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Outra coisa de que não gosto é uma tendência que existe de as pessoas desqualificarem os atuais estudos universitários de literatura sobre outras épocas como ‘perda de tempo’”, criticou. “É muito importante esse distanciamento, a postura crítica se adquire através da distância: se formos nos curvar a cada objeto novo, podemos perder a noção de que o campo é constituído há muito mais tempo, e isso é um erro”. E concluiu: “Não se trata de negar o presente, mas sim perceber que as obras da cultura estão tão vivas e são tão determinantes quanto os objetos novos”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro fator que Pécora citou, em relação especificamente aos jornais, foi a questão do espaço reduzido para qualquer produção. “Hoje em dia temos que produzir para jornal de acordo com o desenho do que não foi vendido na página”, disse, referindo-se à <b>publicidade</b> nos veículos. “Ainda os jornais dão espaço a algumas poucas editoras, e o que passamos a entender é apenas um <b>fiapo</b> daquilo que é preciso para se formar um lugar consistente de crítica e de literatura”, ressaltou. “Não é o caso para um desânimo coletivo, mas sim de buscar um enfrentamento moral dessa questão”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYrFu7SMVtwFrTeLbHe0GDIUmJ0Y-gx2PevdRcQVG2WEYCZbgvGHftb9yZ2LvT_MxWlbuKv2PNtqLTctU09QQtNqD0bfFc-wOuF3ihXLCW7Dp4Hj4V3evOwmkH11vCIx0BMIOHwpESe7HI/s1600/Jo%25C3%25A3o+Cezar+-+foto+Shigueo+Murakami.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYrFu7SMVtwFrTeLbHe0GDIUmJ0Y-gx2PevdRcQVG2WEYCZbgvGHftb9yZ2LvT_MxWlbuKv2PNtqLTctU09QQtNqD0bfFc-wOuF3ihXLCW7Dp4Hj4V3evOwmkH11vCIx0BMIOHwpESe7HI/s200/Jo%25C3%25A3o+Cezar+-+foto+Shigueo+Murakami.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">João Cezar de Castro Rocha<br />
Foto: Shigueo Murakami</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<b>Cátedra x Rodapé</b></div>
<div style="text-align: justify;">
João Cezar de Castro Rocha traçou um panorama da crítica literária no Brasil no séc. XX (resgatando suas ideias publicadas no livro Crítica literária: em busca do tempo perdido?, publicado pela Argos em 2011). Ele propôs três situações e as desenvolveu: (1) crítico como juiz é uma ideia <b>superada</b>, embora a crítica seja mais necessária do que jamais foi; (2) a distinção entre crítica de rodapé (dos jornais) e crítica universitária foi estratégica nos anos 1940 e 50 no Brasil, mas a partir dos anos 80 passou a viver uma <b>crise de reinvenção</b>; e (3) a reinvenção da crítica nas condições contemporâneas exige a <b>superação</b> do cisma entre aquelas duas formas de crítica.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Em virtude do aumento exponencial de informações, há a necessidade da figura crítica, mas é preciso ter cuidado: aquela importação acrítica do ‘politicamente correto’ norte americano ameaça se transformar numa corrente, quando na verdade é um fascismo light, uma postura <b>autoritária</b>”, disse. “A ideia do crítico como juiz também esteve muito ligada à Galáxia de Gutenberg: hoje em dia, já não há mais controle exclusivo dos meios de divulgação”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em relação ao segundo ponto, João Cezar relacionou a criação dos cursos de Letras às vanguardas modernistas e destacou o surgimento do escritor-crítico (que faz certa autocrítica em sua própria obra). “No Brasil, as faculdades de Letras se uniram ao modernismo para começar a ter meios de buscar aquela ética do objeto a que o Pécora se referiu”, disse. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“A crítica universitária herdou uma <b>tradição</b> fortíssima dos jornais e revistas: métodos modernos de estudos literários internacionais, padrão de alto nível nos textos, a união entre tradição humanista e técnica, tudo isso estava presente nas críticas de rodapés dos anos 1930 e 1940”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para o crítico, então, é preciso <b>superar</b> esse cisma (“que teve um caráter estratégico de afirmação da Universidade nos anos 40 e 50”), para tirar a crítica universitária das suas características atuais: “uma reduplicação de conhecimento, confusão do saber, e o mais importante: nos últimos 10 anos a crítica universitária não tem dado contribuição real para a renovação da própria crítica”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Tem faltado aos professores universitários desejo de se <b>arriscar</b> e vontade dizer coisas que precisam ser ditas”, lamentou. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como proposta, João Cezar formula que se deve criar um <b>novo método</b> e uma linguagem própria, um equilíbrio, para a nova crítica literária. “A teoria universitária só vale quando posta em resistência com o texto, que não pode ser julgado apenas por um teoria prévia a ele: há que se buscar a <b>vitalidade</b> daquela crítica de rodapé que se fazia muito bem no Brasil na primeira metade do século XX”, resumiu.</div>
<div>
<br /></div>
</div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-24137801207007259732012-08-26T21:41:00.000-03:002012-08-27T11:15:42.411-03:00Voláteis e Ainda orangotangos, Paulo Scott<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiDx541AD2ApXOoIiL2-yubc91xsGaXzGmRBwqWGSrZkQg34nW5hu6n58ukQFK9TcHjoHd1PHg-uEdp4i16YfvUarRZ9lFxFQZhekIHhmLjkZ8jT51hTUdsgVdCb7f6lvmPg5mgue74f6Q/s1600/scott-divulgacaorecord.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiDx541AD2ApXOoIiL2-yubc91xsGaXzGmRBwqWGSrZkQg34nW5hu6n58ukQFK9TcHjoHd1PHg-uEdp4i16YfvUarRZ9lFxFQZhekIHhmLjkZ8jT51hTUdsgVdCb7f6lvmPg5mgue74f6Q/s200/scott-divulgacaorecord.jpg" width="150" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Paulo Scott (Divulgação<br />
Record)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
“Eu realmente não sei se sou escritor”. A frase de Paulo Scott, dita no Festival Nacional do Conto deste ano (<a href="http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2012/08/principio-do-conto-como-poesia-marcou.html" target="_blank">clique aqui</a>), é emblemática: os personagens dos seus dois primeiros livros de prosa
— Ainda orangotangos (contos, Livros do Mal, 2003, Bertrand Brasil, 2007) e Voláteis (romance, Objetiva, 2005)
— também não sabem se são personagens, em última instância, se são <b>humanos</b>. Se sabem, pouco sabem o que de fato estão fazendo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma ideia de <b>fracasso</b>? Talvez, mas segundo o próprio, em uma <a href="http://rascunho.gazetadopovo.com.br/menos-iludido/" target="_blank">entrevista ao Jornal Rascunho</a>: “meus personagens lutam para não fracassar. O fracasso é um estigma recoberto pela variação de quem olha: de onde olha e como olha. Pode ser que <b>nem exista.</b>” Na hora, vem à tona aquele aforismo de Kafka (na edição da Penguin-Companhia, tradução de Modesto Carone): “Só aqui o sofrimento é sofrimento. Não como se aqueles que aqui sofrem devam ascender a outro lugar em função desse sofrimento, mas no sentido de que aquilo que neste mundo se chama sofrimento, em outro mundo, inalterado e tão somente libertado do seu oposto, é <b>êxtase</b>.” </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E é este êxtase que se mistura aos sentimentos dos personagens — que parecem guardar um parentesco comum, uma fina linha que os liga, e os sustenta, torna-os a semelhança maior entre os dois livros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKHxPiqYTEcSU1p3lcC3iUchGV_V5VLAD-uYQc7Tznzte6o6ZBhU3qJ2EJXKrnhI2xXKQlTtISMyj3U_dm6eGC6C3qkIruTj2odwA7usiEWxCyLZbI6BsB_iCMeiO42Ij0sxVu-uwGQr6E/s1600/vol%25C3%25A1teis.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKHxPiqYTEcSU1p3lcC3iUchGV_V5VLAD-uYQc7Tznzte6o6ZBhU3qJ2EJXKrnhI2xXKQlTtISMyj3U_dm6eGC6C3qkIruTj2odwA7usiEWxCyLZbI6BsB_iCMeiO42Ij0sxVu-uwGQr6E/s200/vol%25C3%25A1teis.jpg" width="136" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Voláteis</b> é um thriller urbano característico: o protagonista é um desenhista ambicioso insatisfeito com o que tem, e os personagens que transitam ao seu redor são de diferentes classes sociais (há, porém, uma preocupação com a classe média), discutem a <b>questão racial</b> e parecem quase sempre fazer as escolhas erradas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Scott parece não ter preocupações com o <b>lugar do narrador</b>: narra-se a partir de uma terceira pessoa flutuante, frenética, mas de fato <b>tradicional</b>. O foco narrativo acompanha, então, a inconstância das personalidades. Reformulando: se tomarmos o ponto inicial da criação literária como a escolha do narrador (como ensina Cristovão Tezza, no belíssimo “O espírito da prosa), Voláteis começa em suspenso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A quantidade de diálogos também é bastante notável: muitas vezes, o narrador é quase desnecessário tamanha a agilidade (sem valoração aqui) do texto e das trocas entre personagens. A questão é se isso justifica (se de fato houver a necessidade de uma justificativa) o narrador inconstante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há uma vocação poética clara:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“O vapor do chuveiro toma o quarto, seu esfumaçado desarruma o branco do teto, afrouxando as pálpebras de Sabrina, até um flash asfixiado lhe cobrir os pensamentos e escurecer, ensejando entre as vozes embaralhadas do dia algo sobre as linhas da sua mão: um eco que se dilui no barulho do chuveiro, um fosso onde ela precipitará agradecida, no peso da quietude, na proteção fugaz do abandono”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que não implica necessariamente um <b>valor estético</b> maior ou menor: a poesia pode ser caracterizada com a aproximação do narrador ao autor, portanto, a não necessidade da criação profunda de um narrador ficcional, fato que reforça o discutido acima.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro fato que chama atenção no livro são as descrições de roupas:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Separa quatro dessas peças menos comuns, joga as demais contra a cabeceira. Estende a saia evasê (surpreende-se com a tonalidade laranja do tecido feltrado sobre o branco do lençol), faz o mesmo com a calça de lã cordada, com a blusa amarela de algodão crepom e o corpete vermelho de fibra sintética”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa é um exemplo, há outras situações semelhantes. É a tentativa simbólica (ou alegórica) do narrador de nos colocar em contato com aquele mundo que ao mesmo tempo que é tão cruel parece, para o leitor com mais condições, tão irreal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDicGVUoowV8NaKroajHus4fwMGyOFlkpSONd9xyIbwcwMZgOJ1f0xiOvYkwgz8cPire3YLFOB5HbkT9q-a0OSg9eZWvlTyz2J0V_V-j21iGGxWPRIxZ8dpWQXbBwVUxtqyW1TIAn3LOOM/s1600/aindaorangotangos.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDicGVUoowV8NaKroajHus4fwMGyOFlkpSONd9xyIbwcwMZgOJ1f0xiOvYkwgz8cPire3YLFOB5HbkT9q-a0OSg9eZWvlTyz2J0V_V-j21iGGxWPRIxZ8dpWQXbBwVUxtqyW1TIAn3LOOM/s200/aindaorangotangos.jpg" width="132" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O narrador de Voláteis é o mesmo da maior parte dos contos de <b>Ainda orangotangos</b>: o mesmo narrador flutuante, ágil (sem valoração), de frases curtas e que não tem medo de nada, talvez porque não haja tempo para se ter medo, ou não se saiba ter medo: não sei. O que se percebe, novamente, são características semelhantes de narrativa, mas parece evidente que os contos de Ainda orangotangos sobressaem ao romance Voláteis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isso porque a mensagem, antes difusa longamente num romance de duzentas páginas, aqui se <b>concentra</b> em 22 relatos curtos, que raramente ultrapassam as duas páginas, e, na edição da Bertrand Brasil (“revista”), dividem espaço com um prefácio elogioso de José Castello (além das recomendações de Marçal Aquino, Luiz Antonio de Assis Brasil, Charles Kiefer e orelha de Daniel Galera... o que só mostra que o background de Scott é sólido). Essa concentração é positiva para o efeito que o autor (narrador) busca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O efeito do conto por excelência se faz presente: as narrativas <b>esticam</b> a realidade até o <b>limite</b> da loucura, do fantástico e da irrealidade (oras). O conto que dá título ao livro começa com uma frase que é um recado: “Trinta e quatro de agosto”. O recado também está no conto “Pusilânimes no café-da-manhã”:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Vou pelo corredor tateando, ainda não me acostumei com o apartamento. Bater de asas, pássaros? Acendo a luz, a sala está infestada de morcegos. Voam em círculo causando uma mancha negra assustadora. Recuo, entro apressado na primeira porta, a da biblioteca. Tranco a porta, tento me recompor, é enorme o pavor que sinto de ratos e morcegos [...]. Alguém bate à porta. Três vezes. Sinto a pressão nas costas. Dou mais uma volta na fechadura e me afasto (troquei os segredos das portas ontem, como pode?).”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O chão que se pisa quando se lê os contos de Scott é o mesmo ar pelo qual os morcegos dentro do apartamento andam: eles são reais, afinal, mas são tão reais que não podem existir, não é possível que existam. A <b>única </b>saída possível: a biblioteca, a literatura. É lá que enfim está a realidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há, é verdade, narradores diferentes nos contos. Em “Insônia postiça” há, por exemplo, um hábil narrador em segunda pessoa, como num diálogo, entremeado por parênteses que são justificativas do interlocutor: o conto seria <b>brilhante</b> se o desfecho não fosse fechadíssimo, intransponível. A violência deste relato, por sua vez, é justificada: há um sentido para a estilização da violência, um sentimento. Coisa que <b>não parece</b> acontecer em “Gentalha”, por exemplo (em que novamente a “realidade” se rompe no limite): “Tranquei-a no banheiro, saí degolando um por um. Os maiores eu esfaqueava mesmo”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas tudo isso pode não fazer sentido nenhum, porque, como diz Daniel Galera na orelha desta edição da Bertrand, “podemos sair de Ainda orangotangos sem entender tudo, mas saímos impressionados”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Voláteis</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Paulo Scott</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.objetiva.com.br/livro_ficha.php?id=679" target="_blank">Objetiva (2005)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
208 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$36,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Ainda orangotangos</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Paulo Scott</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=277" target="_blank">Bertrand Brasil (2007)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
84 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$29,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Habitante irreal (Alfaguara, 2011), o livro mais recente de Paulo Scott, foi <a href="http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/resenha/%E2%80%98habitante-irreal%E2%80%99-desabou-entre-nos-um-livraco/" target="_blank">recebido como o livro do ano em 2011</a>, apesar de ter recebido uma ou outra <a href="http://aguarras.com.br/2012/01/01/habitante-irreal/" target="_blank">crítica negativa</a>, se essa valoração (positiva x negativa) ainda fizer sentido (o que creio não fazer).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E Ainda orangotangos virou filme:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/5wN03VFYJTE?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se você gostou desses, provavelmente também vai gostar de:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1zytIV7_YicUYDGtew-dIfFZKNf2JdzahHckL8SpZMuBSFh5kAz4uh8IxDxTJZG027SWb52OCYE0NlroXnk6uWkIwtYbNWCOyuHXiDBqV7IR2qBllSGf0dEXJmXoPIOIRCJTi55-fQTru/s1600/arte.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1zytIV7_YicUYDGtew-dIfFZKNf2JdzahHckL8SpZMuBSFh5kAz4uh8IxDxTJZG027SWb52OCYE0NlroXnk6uWkIwtYbNWCOyuHXiDBqV7IR2qBllSGf0dEXJmXoPIOIRCJTi55-fQTru/s1600/arte.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A arte de produzir efeito sem causa</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Lourenço Mutarelli</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12643" target="_blank">Companhia das Letras (2008)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
208 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$44,50</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O belo romance de Mutarelli tem umas pitadas de loucura, morte e tudo o mais que você vê por aí.</div>
<br />Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-30874518852943920072012-08-16T22:15:00.000-03:002012-08-16T22:15:04.009-03:00Especial Bukowski<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4O9_gJ8tKNIGtcRC2J5B8G5c2JmOmuB9__b98GtdMvCXeah92Tiy-z561G6xmt36fgg8oyXnUooBycoGk8-Uu2T8rOUAsQZrLcRelIwWxM3ORcysljliL0Va3uvkB3eFrq-ACe0wjypq9/s1600/charles-bukowski.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4O9_gJ8tKNIGtcRC2J5B8G5c2JmOmuB9__b98GtdMvCXeah92Tiy-z561G6xmt36fgg8oyXnUooBycoGk8-Uu2T8rOUAsQZrLcRelIwWxM3ORcysljliL0Va3uvkB3eFrq-ACe0wjypq9/s320/charles-bukowski.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Em 16 de agosto de 1920, 92 anos atrás, nasceu Henry <b>Charles Bukowski</b> Jr, em Andernach, na Alemanha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vou reproduzir trechos de obras do velho Buk, que anotei no <a href="http://bibliotecavertical.tumblr.com/" target="_blank">tumblr</a>. Logo abaixo, algumas considerações e indicações:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Esse é o problema com a bebida, pensava, enquanto enchia o copo. Se acontece uma coisa ruim, você bebe para esquecer; se acontece uma coisa boa, você bebe para comemorar; se não acontece nada, você bebe para que aconteça alguma coisa.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
— <b>Mulheres</b> (L&PM Pocket, 2011, tradução Reinaldo Moraes)</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“I’m glad when they arrive</div>
<div style="text-align: justify;">
and I’m glad when they leave</div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
I’m glad when I hear their heels</div>
<div style="text-align: justify;">
approaching my door</div>
<div style="text-align: justify;">
and I’m glad when those heels</div>
<div style="text-align: justify;">
walk away</div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
I’m glad to fuck</div>
<div style="text-align: justify;">
I’m glad to care</div>
<div style="text-align: justify;">
and I’m glad when it’s over […]”</div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
— <b>Love is a dog from hell</b> (Ecco, 2003)</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“A dor chega, BANG, e aí está ela, instalada em você. É real. Aos olhos dos outros, parece que você está de bobeira. Um idiota, de repente. Não há cura para a dor.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
— <b>Mulheres</b> (L&PM Pocket, 2011, tradução Reinaldo Moraes)</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
“women don’t know how to love,</div>
<div style="text-align: justify;">
she told me.</div>
<div style="text-align: justify;">
you know how to love</div>
<div style="text-align: justify;">
but women just want to</div>
<div style="text-align: justify;">
leech.</div>
<div style="text-align: justify;">
I know this because I’m a</div>
<div style="text-align: justify;">
woman.</div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
hahaha, I laughed.”</blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
— <b>Love is a dog from hell</b> (Ecco, 2003)</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Que tipo de merda era eu? Um sujeito capaz de armar jogadas bem malévolas e alucinadas. E qual a razão? Será que eu estava querendo me vingar de alguma coisa? Até quando eu ia ficar dizendo que era apenas uma pesquisa, um simples estudo sobre as mulheres? Eu estava era deixando as coisas acontecerem sem me preocupar muito com elas. Eu não tinha nenhuma consideração por nada além do meu prazerzinho barato e egoísta. Eu parecia um ginasiano mimado. Eu era pior que qualquer puta; uma puta só toma o seu dinheiro, nada mais. Eu bagunçava vida e almas como se fossem brinquedos. Como é que eu ainda me considerava um homem? Como é que eu ainda escrevia poemas? Eu era feito de quê, afinal? Eu era um marquês de Sade pangaré, sem o gênio dele. Qualquer assassino era mais sincero e honesto que eu. Ou um estuprador. […] Eu entrava na vida dos outros porque eles confiavam em mim. Eu aprontava as minhas cagadas com a maior facilidade. Eu estava escrevendo A história de amor de uma hiena.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
— <b>Mulheres</b> (L&PM Pocket, 2011, tradução Reinaldo Moraes)</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
"she went up the walk toward her car.</div>
<div style="text-align: justify;">
I closed the door.</div>
<div style="text-align: justify;">
she knew what she wanted and it wasn’t</div>
<div style="text-align: justify;">
me.</div>
<div style="text-align: justify;">
I know more women like that than any</div>
<div style="text-align: justify;">
other kind.”</div>
</blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
— <b>Love is a dog from hell</b> (Ecco, 2003)</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“sempre que nos agarramos às paredes do mundo, e na fase mais sombria da ressaca, eu penso em dois amigos que me aconselharam sobre vários métodos de cometer suicídio. que prova melhor de amor e companheirismo? […] ambos escrevem poesia. tem qualquer coisa em escrever poesia que leva um homem pra beira do abismo.”</blockquote>
<div>
<div style="text-align: justify;">
— <b>Notas de um velho safado</b> (L&PM Pocket, 2000, tradução Albino Poli Jr.)</div>
</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“Depois virei para eles e disse: “Esta é a minha mulher… a minha mulher… esta é a…” Por fim, tive que me virar para ela e perguntar: “PORRA, COMO É MESMO O TEU NOME?”</blockquote>
<div>
<div style="text-align: justify;">
— <b>Fabulário geral do delírio cotidiano</b> (L&PM Pocket, 2007, tradução Milton Persson)</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Algumas considerações:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
1.</div>
<div style="text-align: justify;">
É complicado julgar a obra de Bukowski. Falar que ele é apenas um escritor compulsivo, barato, superficial, alcoólatra e poeta mediano é <b>fácil</b> demais. Alçá-lo ao cânone, exagerado. Também é complicado simplesmente encaixá-lo na definição de midcult (segundo Eco, a cultura pequeno-burguesa que falsifica elementos da cultura erudita com fins comerciais). Qualquer análise superficial da vida de Bukowkski, que foi o principal substrato de sua própria obra, garante isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
2.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não há dúvidas de que Bukowski pode cumprir um papel deficiente no Brasil: a <b>formação de leitores</b>. Não digo que não haja escritores brasileiros que possam fazer o mesmo, oras, mas a literatura de Bukowski (especialmente a prosa) é de <b>fácil digestão</b> e superficialmente trata de temas que interessam a adolescentes e jovens adultos de maneira geral: <b>sexo e bebida</b>. E aqui o testemunho é pessoal: Misto-quente foi um dos livros que despertou em mim uma paixão fulminante pelos livros de literatura esteticamente ambiciosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
3.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dizer que não há, sob o texto de Bukowski, pelo menos uma fina camada de <b>puro lirismo</b>, massa da literatura, é no mínimo má-vontade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
4.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há que se ler Bukowski.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
O documentário abaixo, Born into this, do diretor John Dullaghan, tem várias entrevistas, inclusive com o autor, e também passagens das impagáveis leituras públicas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/fXM8gCR070o?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
Vou indicar três livros de Bukowski, um de cada gênero (romance, conto, poesia, na ordem):</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4SNsL5bWgwa32gNCHUfZmMHET6okOMGcpMkslWadRcACRBKeH3q1tU9QV3kfhQZMeIRW-i4m-Z3k2uFhwxZ1JT7Ojf-BMEiVZ6ZQXq9IBOYaZFl8EMa0nImitJqG1C8K8-w811I2wayJ0/s1600/mulheres_bukowski_m.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4SNsL5bWgwa32gNCHUfZmMHET6okOMGcpMkslWadRcACRBKeH3q1tU9QV3kfhQZMeIRW-i4m-Z3k2uFhwxZ1JT7Ojf-BMEiVZ6ZQXq9IBOYaZFl8EMa0nImitJqG1C8K8-w811I2wayJ0/s1600/mulheres_bukowski_m.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mulheres </b></div>
<div style="text-align: justify;">
Charles Bukowski</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Reinaldo Moraes</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://lpm.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_produto.asp&CategoriaID=636453&ID=815051" target="_blank">L&PM Pocket (2011)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
320 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$22,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMSJdcWppAxqHTiFdKuMgKfkpbvkBmUIG4SjDDR70m4XSJY17pEmy1e0YMXCPImg35-cbW51w6cyfWyESBDEjy2wxohaZgDTsb3nSqipdcbq5XOkxBDkR_X6thTZghGDcR4a_023p4lOq4/s1600/ao_sul_de_lugar_nenhum%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMSJdcWppAxqHTiFdKuMgKfkpbvkBmUIG4SjDDR70m4XSJY17pEmy1e0YMXCPImg35-cbW51w6cyfWyESBDEjy2wxohaZgDTsb3nSqipdcbq5XOkxBDkR_X6thTZghGDcR4a_023p4lOq4/s1600/ao_sul_de_lugar_nenhum%25281%2529.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Ao sul de lugar nenhum</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Charles Bukowski</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Pedro Gonzaga</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://lpm.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_produto.asp&CategoriaID=873729&ID=716437" target="_blank">L&PM (2008)</a></div>
<div style="text-align: justify;">
224 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$38,00</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbeSZ_Y4MGbjBLjbuOO9q-IyUV2CPNHgtWb28x_pzHHqX1NByABOSF_lr6AkBsQzw8HfGrLokvM-wFaBgvuycAV0l_7Yq9J34rhmH65nmNqtgS_q2LKyb26GMXeEQ1qrnNfrHiBYiQvinb/s1600/pleasuredamned.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbeSZ_Y4MGbjBLjbuOO9q-IyUV2CPNHgtWb28x_pzHHqX1NByABOSF_lr6AkBsQzw8HfGrLokvM-wFaBgvuycAV0l_7Yq9J34rhmH65nmNqtgS_q2LKyb26GMXeEQ1qrnNfrHiBYiQvinb/s200/pleasuredamned.jpg" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>The pleasure of the damned</b>: Poems, 1951-1993</div>
<div style="text-align: justify;">
Charles Bukowski</div>
<div style="text-align: justify;">
Ecco Press (2008)</div>
<div style="text-align: justify;">
576 páginas</div>
<div style="text-align: justify;">
Preço sugerido: R$48,30 (<a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2371050&sid=1894125514719778361672118" target="_blank">aqui</a>).</div>
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Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-14117695687460023582012-08-13T11:01:00.001-03:002012-08-13T11:05:11.409-03:00Festival Nacional do Conto termina com clima de otimismo quanto à literatura brasileira<b style="text-align: justify;"><i>Luiz Ruffato e Ricardo Lísias fizeram a mesa de encerramento da segunda edição do Festival Nacional do Conto, em Jaraguá do Sul, e demonstraram grande otimismo quanto ao futuro da literatura no Brasil; o curador, Carlos Henrique Schroeder, prometeu novidades para o ano que vem</i></b><br />
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGh9iq_mIDwjMJSR6X04mQMsxPUW603fS1fDQAPP_0C1Hyh2Y2RUxwCOu1q1ptumo4pXjRwhkeXbIspwt26udojqFVcwPBU6uwnNaMG4WhyphenhyphenmMm3Xg4g6rsmlgrnUAzNqeaU6LOsq4vDgUb/s1600/DSCN1162.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGh9iq_mIDwjMJSR6X04mQMsxPUW603fS1fDQAPP_0C1Hyh2Y2RUxwCOu1q1ptumo4pXjRwhkeXbIspwt26udojqFVcwPBU6uwnNaMG4WhyphenhyphenmMm3Xg4g6rsmlgrnUAzNqeaU6LOsq4vDgUb/s400/DSCN1162.JPG" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Luiz Ruffato, Ricardo Lísias e Carlos Henrique Schroeder, na mesa<br />
de encerramento da segunda edição do Festival Nacional do Conto<br />
Foto: João Chiodini</td></tr>
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“Temos que começar a <b>repensar</b> essa história de que ‘brasileiro não lê’, ‘jovem não lê’”. <b>Luiz Ruffato</b>, natural de Cataguases (MG), autor de, além dessa frase e outros livros, do romance Eles eram muitos cavalos (2001) e da série Inferno Provisório, dividida em cinco volumes publicados pela Record, sustenta seu otimismo com muita segurança. “A quantidade de gente participando de eventos literários como esse, no Brasil, é <b>impressionante</b>”, disse, na mesa de encerramento da segunda edição do Festival Nacional do Conto, em Jaraguá do Sul, na noite deste domingo (12).</div>
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Mesa que Ruffato dividiu com <b>Ricardo Lísias</b>, escritor paulista que tem, entre outros livros publicados, O livro dos mandarins (2009) e O céu dos suicidas (2012), ambos pela Alfaguara. “Sem dúvida, o cenário para a literatura brasileira está <b>melhorando</b>, sim”, concordou.</div>
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<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></div>
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<b>Formação, projetos e próximos capítulos</b></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeebp7e7LVFwgHtEngUhj4eywj1pQOMeBEMgWuSz_iMr6t_rU2TdKhbUV9SKrC1ItmrwQl3B4_IotrdFbSIBbktejhYGH3XT2xLSLkgOkAIx-E0CNx8AyrwEyIRhPg0kH0T1MbXdY-wrUz/s1600/DSCN1173.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeebp7e7LVFwgHtEngUhj4eywj1pQOMeBEMgWuSz_iMr6t_rU2TdKhbUV9SKrC1ItmrwQl3B4_IotrdFbSIBbktejhYGH3XT2xLSLkgOkAIx-E0CNx8AyrwEyIRhPg0kH0T1MbXdY-wrUz/s200/DSCN1173.JPG" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ricardo Lísias e Schroeder.<br />
Foto: João Chiodini</td></tr>
</tbody></table>
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“Tive a sorte de nascer numa família que sempre valorizou a leitura, então a minha formação de leitor foi sem nenhum susto, sem nenhuma pompa”, disse Lísias. Os primeiros livros que encantaram o autor foram os de Monteiro Lobato. Lísias também falou sobre o “<b>incidente biográfico</b>” por que passou e do qual resultou O céu dos suicidas. “Foi uma espécie de impossibilidade de escrever sobre outras coisas, eu tive muita dificuldade de solucionar a questão internamente”, disse o escritor, referindo-se ao fato de um de seus amigos ter cometido suicídio recentemente.</div>
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“Eu, por outro lado”, disse Ruffato, “tive uma mãe analfabeta e o meu pai era pipoqueiro em Cataguases, e os dois incentivaram eu e meu irmão a estudar para fazer cursos técnicos”. “Comecei a trabalhar como operário têxtil, e o livro sempre foi algo <b>fora</b> dos meus horizontes”, contou. “Fui influenciado por tudo que li, e ser um escritor creio que foi um <b>acidente</b> na minha vida”. Ruffato também falou sobre o seu projeto literário de retratar a classe operária no Brasil, projeto que, com o último volume da série Inferno Provisório (Domingos sem deus, Record, 2011), está concluído. “Já tenho algumas ideias sobre o que vou fazer daqui para frente, e creio que não será algo relacionado com Inferno Provisório”, revelou.</div>
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<b>Diálogos com Carver</b></div>
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A partir de uma proposta do mediador Carlos Henrique Schroeder, os escritores fizeram considerações sobre trechos de um texto do contista americano Raymond Carver, Princípios de um conto.</div>
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmh9DOAJ4sZsAH0YDlC4hWVsKSSVNkig64ksAFs0GkRF2U3dJbyT4DGqpRGDjqsQ5LoofVULshBgwtsmyFk2J1LsPSZkk-p7PecqX8z_2aAGVIYGY8LOA99eG52THFzqDjapO8EJXPTskt/s1600/DSCN1167.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmh9DOAJ4sZsAH0YDlC4hWVsKSSVNkig64ksAFs0GkRF2U3dJbyT4DGqpRGDjqsQ5LoofVULshBgwtsmyFk2J1LsPSZkk-p7PecqX8z_2aAGVIYGY8LOA99eG52THFzqDjapO8EJXPTskt/s200/DSCN1167.JPG" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Luiz Ruffato: "Vou buscar minhas<br />
histórias na memória coletiva"<br />
Foto: João Chiodini</td></tr>
</tbody></table>
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“Só consigo escrever com o corpo todo”, disse Ruffato. “Se eu não me emocionar com aquilo, como o leitor vai se emocionar?”, comentou, dizendo que a <b>epifania</b> tem que acontecer com ele mesmo, com o personagem, e assim existe a possibilidade de existir com o leitor. “Outra coisa: não conseguiria nem sentar para escrever se não soubesse pelo menos aonde <b>quero</b> chegar”, acrescentou. </div>
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Lísias concordou. “Há que existir um sentimento anterior”, disse, “e por exemplo, quando O céu dos suicidas foi publicado, recebi mensagens de pessoas que tinham passado por uma situação semelhante e tido sentimentos parecidos”. Quanto à relação entre conto e romance, Lísias disse que os gêneros obedecem a <b>rigores</b> de naturezas diversas. “Há necessidades diferentes, também, às vezes há que se dar um tiro mais certeiro, às vezes o assunto requer um tratamento mais lento, uma outra densidade”, disse.</div>
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“Eu tinha um projeto, quando comecei a escrever, mas não tinha certeza de como poderia executá-lo”, disse Ruffato. “Quando escrevi Eles eram muitos cavalos, a editora falou que não era romance e que ninguém ia entender. O livro ganhou prêmios como romance e já está na 7ª edição, então, naquele momento encontrei a forma para aquele projeto”, afirmou, ressaltando que <b>não é importante</b> ter uma preocupação muito grande com alguma distinção.</div>
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGKOUptf2kJxERjBnLcX3htJR1gWVs_WRn0chh7uIeHsLOyHk-G_AgDpXO_KxKQGZpxEvfm_COlBMBQLUn216DjBltAIXSExVW2bpnGEwsmUkuqyZJgwT2XdYJAzn-snRUQpaW-0RFztoh/s1600/DSCN1137.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGKOUptf2kJxERjBnLcX3htJR1gWVs_WRn0chh7uIeHsLOyHk-G_AgDpXO_KxKQGZpxEvfm_COlBMBQLUn216DjBltAIXSExVW2bpnGEwsmUkuqyZJgwT2XdYJAzn-snRUQpaW-0RFztoh/s320/DSCN1137.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Luiz Ruffato ministra oficina de contos em Jaraguá do Sul.<br />
Participantes vieram de Brusque, Rio Negrinho, Florianópolis,<br />
Curitiba, além de Jaraguá e outras cidades.<br />
Foto: João Chiodini</td></tr>
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O escritor Luiz Ruffato também ministrou uma <b>Oficina de Contos</b>, na tarde do domingo em Jaraguá do Sul. A oficina contou com aproximadamente 13 participantes, de diversas cidades de Santa Catarina e Paraná.</div>
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Obrigado por acompanhar o Biblioteca Vertical na cobertura da segunda edição do Festival Nacional do Conto! Se gostou, não esqueça de <a href="https://www.facebook.com/bvertical" target="_blank">curtir o blog no Facebook</a> e <a href="https://twitter.com/b_vertical" target="_blank">seguir lá no Twitter</a>.</div>
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Assim que as novidades para a próxima edição forem anunciadas, elas estarão por aqui também.</div>
Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5586923673326958685.post-89222119210015302222012-08-12T10:24:00.000-03:002012-08-12T10:25:06.228-03:00André de Leones e Luis Henrique Pellanda conversam sobre contos que marcaram suas carreiras<div style="text-align: justify;">
<b><i>Na noite deste sábado, no terceiro encontro do Festival Nacional do Conto, em Jaraguá do Sul, os dois escritores conversaram sobre a sua formação como leitores, seu envolvimento com o gênero conto e também leram em voz alta trechos de contos que marcaram suas vidas e carreiras</i></b>
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaFPsBvKe_SxZ85iTpyOSRQRNV23QIaaBXGwqM5BNajQPf7s1MDoyk4t9wYT_epkwWxWDXKiDzXtEHR3odfIbB7CwsmfGxvc7SzRYvBC3S5knqOhQKnSwVxkG0BdjW0GP4LIHZ2Sle6a8I/s1600/foto+%25283%2529.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaFPsBvKe_SxZ85iTpyOSRQRNV23QIaaBXGwqM5BNajQPf7s1MDoyk4t9wYT_epkwWxWDXKiDzXtEHR3odfIbB7CwsmfGxvc7SzRYvBC3S5knqOhQKnSwVxkG0BdjW0GP4LIHZ2Sle6a8I/s400/foto+%25283%2529.JPG" width="298" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Luís Henrique Pellanda e André de Leones, na enoteca Decanter,<br />
em Jaraguá do Sul, na noite deste sábado (11).<br />
Foto: Carlos Henrique Schroeder</td></tr>
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<b>André de Leones</b> (1980) nasceu em Goiânia, é escritor, e seu romance de estreia, Hoje está um dia morto (Record), foi vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2005. De lá para cá são dois romances e um livro de contos, participação em antologias e inúmeras resenhas em jornais e revistas.</div>
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<b>Luís Henrique Pellanda</b> (1973) é escritor e jornalista de Curitiba, cidade de onde tira boa parte do substrato de sua obra de contista e cronista. Estreiou em 2009 com a coletânea de contos O macaco ornamental (Bertrand Brasil), e em 2011 lançou Nós passaremos em branco (Arquipélago Editorial), reunião de crônicas. </div>
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Como havia uma limitação de tempo, cada autor leu e comentou pequenos trechos de algumas poucas obras importantes para eles. De Leones começou lendo um trecho do célebre conto Um dia ideal para os peixes-banana, de J. D. <b>Salinger</b>. “O que me admira no Salinger é a sua habilidade de equilibrar o coloquial e o rigoroso, numa prosa em que não há <b>nenhum ruído</b>”, disse. Em seguida, Luís Henrique Pellanda leu trechos do conto O afogado, de Dalton Trevisan, que curiosamente não se passa em Curitiba, como de costume na obra do vampiro, mas sim no litoral do Paraná.</div>
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De Leones leu em seguida trechos do conto O cobrador, de Rubem Fonseca. “O Boris Schnaiderman, num texto sobre este livro, disse que Fonseca prenunciou um certo estado de barbárie, que se hoje vemos por aí, era inimaginável na década de 1970. Hoje em dia, o conto fica até <b>devendo</b> para a crueldade de tudo”. Depois, Pellanda leu na íntegra o curto conto de Murilo Rubião, D. José não era. “O conto é sobre o fato de a gente falar muito sem <b>saber nada</b>”, disse.</div>
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Na última rodada, de Leones citou contos de Leandro Sarmatz e de James Joyce. Pellanda concluiu sua leitura falando sobre <b>Sérgio Sant’Anna</b> (“Um contista puro-sangue, apesar de também escrever romances e novelas, mas um grande gênio) e Antonio Fraga (“Totalmente esquecido, infelizmente”).</div>
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<b>Formação e próximos capítulos</b></div>
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“Tive sorte porque a minha mãe sempre foi uma leitora, então havia muitos livros na minha casa”, disse de Leones. “O engraçado é que na mesma semana que ela lia alguém como Sidney Sheldon e Harold Robbins, em seguida eu a via lendo Camus”. O autor disse que a sua primeira leitura marcante foi o conto <b>Emma Zunz</b>, da coletânea O aleph, de Jorge Luis Borges. “Ao ver que ele brincava com a forma, ao misturar ficção, ensaio, crítica, aquilo me deu vontade de errar as minhas próprias coisas também”.</div>
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Já Pellanda disse ter tido sorte por despertar a sensibilidade de seus pais que, antes de serem leitores compulsivos, perceberam no filho o “jeito” para escrever. “Eles então fizeram duas coisas por mim: me matricularam no curso de um grande artista de Curitiba e fizeram a assinatura do Círculo do Livro”. A partir dessa assinatura, em que um livro por mês era entregue em sua casa, ele começou a ler os grandes autores. “Lá em Curitiba também não é possível negar a herança que Dalton Trevisan nos deixou”, acrescentou. “A cidade criou uma <b>mítica</b> em volta de um escritor, é impressionante”, disse, contando que nas primeiras vezes que leu os contos de Trevisan percebeu que era possível escrever literatura em Curitiba. “Daí fiquei até os 30 e poucos anos <b>tentando</b>, até publicar O macaco ornamental”.</div>
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Sobre a sua própria produção, de Leones disse que nunca parou de escrever contos, embora seus dois livros mais recentes sejam romances. “Mas eu também publico em antologias, apesar de a editora estar querendo uma nova coletânea de contos meus”, disse. “Gosto de sentar e pensar livros de contos que tenham <b>organicidade</b>”. Sobre trabalhar em casa, apenas com literatura, o autor disse que tem que haver muita disciplina: “Caso contrário, posso procrastinar facilmente por uns <b>sete ou oito anos</b>”, brincou.</div>
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“Quando vou escrever”, disse Pellanda, “já sei o que quero colocar ali, tento colocar uma ordem na maneira que vou dizer, e então sento já sabendo o que quero escrever”. Durante o processo, segundo o autor, coisas acontecem, mas ele diz que só começa se souber onde quer chegar. E concluiu: “<b>Não vou virar romancista</b>, não quero, não vou”.</div>
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<b>Hoje, às 19h, no SESC Jaraguá do Sul, Luiz Ruffato e Ricardo Lísias fazem a mesa final da segunda edição do Festival Nacional do Conto. Acompanhe!</b></div>
<br />Guilherme Sobotahttp://www.blogger.com/profile/05395147221019806898noreply@blogger.com0